O Melhor de 2005

A dificuldade de se fazer uma lista dos melhores filmes de 2005 não se dá pelo grande número de bons filmes, mas exatamente ao contrário, pela escasses desses. Vale levar em conta que muitos filmes ainda não consegui assistir, seja pela falta de tempo, dinheiro para ir todo fim de semana aos cinemas, ou pelo atraso nos lançamentos ou mesmo pela má distribuição que faz com que alguns títulos simplesmente sumam dos cinemas e nem apareçam nas prateleiras.

Sendo assim aqui estão eles, ou parte deles...

1 - Sin City - Cidade do Pecado de Robert Rodrigues, com um grande elenco, numa adaptação dos quadrinhos para o cinema. Com os grandes contrastes das imagens, o clima, dark, noir e surreal, Rodrigues capitou a alma da novela de Frank Miller, em meio a uma onda de adaptações de quadrinhos de heróis super poderosos e coloridos, o preto e branco junto de personagens que povoam o submundo da cidade do pecado foi ainda melhor.

2 - Batman Begins – de Christopher Nolan, o Segundo melhor filme de 2005 é também uma adaptação dos quadrinhos, e de um personagem também dark digamos assim. Porém não há qualquer relação das cores e da qualidade dos filmes, prefiro dizer que é uma conhecidência, ou melhor fruto do trabalho de dois bons diretores, no caso Nolan, diretor de “Insônia” com Al Pacino e Rob Willians e do ótimo “Amnésia”. Em “Batman-Begins” o diretor deu um novo começo (como o nome sugere) para o “morcego” na tela do cinema, tratando o personagem com muito mais realismo e num tom muito mais escuro e por assim, mais certo.

3 – Quase dois Irmãos – Dirigido por Lucia Murat e com grande atuação de Caco Ciocler, Quase Dois Irmãos seria ainda melhor se em certo momento principalmente nas horas em que a história se passa na favelas nos dias atuais, não se igualasse tanto a Cidade de Deus, principalmente alguns atores que parecem ter se confundindo com filmes e seus personagens. No mais, o ótimo roteiro garante uma boa qualidade ao filme, a história mostrada, o confronto de interesses e classes reunindo traficantes e presos políticos, mesmo sendo um pouco repetitivo o tema repressão política ainda pode ser bem trabalhado no cinema.

4 - Guerra dos Mundos – Mais uma adaptação para o cinema de um clássico da literatura de ficção cientifica. Guerra dos Mundos já tinha sido adaptado para o cinema na década de 50 por Byron Haskin e agora por Steven Spilberg contando com maiores recursos tecnológicos o remake possui bastante ação e suspense, não chega a ser nenhuma obra de arte, mas vale pelo modo simplista de mostrar os extraterrestres como destruidores e só. E digo que este modo “simplista” é “legal” pois ele vem mudar ou lembrar essa velha concepção de um ataque de óvnis, sobre tudo em tempos mais remotos, como no século 19 quando a obra original foi escrita.

5 - Quarteto Fantástico – Em quinto, mais uma adaptação dos quadrinhos para o cinema, nesse primeiro episódio o quarteto vai ainda se descobrindo, principalmente como heróis, o filme termina como o de praxe nessas adaptações, quase anunciando uma continuação. O filme explora as características do gênero como ação e comedias, principalmente nos diálogos dos personagens, aliado ainda a efeitos especiais primorosos.

A seguir uma nova lista, essa sim dos melhores filmes que eu assisti em 2005 mas que no entanto, foram produzidos em 2004 ou antes. Devo dizer que esses filmes são aqueles que acrescentam algo ao cinema, ousam, são únicos, e tornam-se referências para cineastas e cinéfilos. São eles;



Mar Adentro – do talentosíssimo Alejandro Amenábar, faço tal elogio pela qualidade única dos filmes desse diretor, citando o mais conhecido; “Os Outros”, excelente trilher de terror roteiro tão bom e parecido com o “Sexto Sentido”, e ainda “Abra Los Ojos” refilmado com o nome de “Vannila Sky” e “Mar Adentro” que é um desses filmes que estão entre os 50 mais, filmes pra rever. Uma ótima direção, ótimo roteiro, atuação memorável de Javier Barden(como é de costume) uma pérola realmente, uma história comovente que no entanto não explora, não apela para o lado sentimental, nos comovemos sem verter uma lágrima se quer, porém fica o choro na garganta, quase que pedimos por uma cena mais apelativa, uma música ou um clímax sempre visto nos filmes de hollywod, feitos para as platéias virem abaixo. Porém em “Mar Adentro” isso não acontece, a emoção do filme nos faz apenas ficar em silêncio, comovidos, matutando para desfazer o misto de comoção e satisfação com a película.
Emendando um ótimo filme a outro, cito “Sideways” como um dos cinco melhores filmes que assisti em 2005, uma deliciosa comédia, com roteiro simples e atuações normais. O filme é ótimo como um todo, não quero ser mesquinho e dizer que é um tipo de comédia “inteligente” até porque isso é bem relativo, mas é bem diferente de tantos pastelões que vemos por ai, até se desconfia se “Sideways” é mesmo uma comédia, acredito mais que os bons filmes não o são por fazerem rir, ou chorar, mas porque de certa forma se não rolamos de rir em uma comedia como Side ficamos com o espírito mais leve, é algo mais sutil, certo e duradouro.
Closer – Perto demais – é outro filme que se vale por seu todo, seja pelo talento de Michael Nichols na direção, ou no roteiro baseado em peça de teatro, e nas grandes atuações de Julia Roberts, Jude Law, Natalie Portman e Clive Owen. Closer acerta na dosie de drama, sensualidade e algum humor. Teria tudo pra ser um desses filmes recheados de cenas eróticas, porém mesmo se tratando de uma história de dois casais que vira e mexe rompem e reatam, reatam e mantém paixões paralelas, o erotismo da história aparece mais nos diálogos do que nas cenas(é bom lembrar que estamos falando de um Filme com Julia Roberts e Natlie Portman, musas), e assim vai a fundo dos personagens, mostrando aspirações, fraquezas e emoções de uma maneira “próxima demais”, (com o perdão do trocadilho).
Por último termino com “A Queda” e “Herói”, em uma só tacada, são filmes cuja a história não são novas, mas o modo como são contadas é o que chama atenção, no primeiro acho válido salientar a coragem e o profissionalismo de todas as pessoas envolvidas no projeto para contar parte da história e das últimas horas de Hitler, além da atuação de Bruno Ganz como o próprio Fuher. Em Herói vemos a continuidade da “retomada” de filmes de samurai, contando com cada vez mais recursos, o filme não se limita a ser apenas uma aventura de artes-marciais ou tão pouco uma aventura de artes-marciais com efeitos especiais, sejamos sinceros, “Herói” é tudo isso também, mas há um roteiro, uma trama bem pensada e os movimentos, a fotografia e as cores, tudo usado metodicamente como num processo de uma criação artística.

Ygor MF



King Kong de Peter Jackson

Chega aos cinemas a nova versão do clássico da década de 30 King Kong, refilmado por Peter Jackson, aclamado diretor que dirigiu a trilogia Senhor dos Anéis. Para alguns um dos filmes mais aguardados do ano. Se pensarmos em refilmagens sempre badaladas, trazendo ainda o nome de Jackson na direção, dá pra entender o porque de tanto alvoroço.
No entanto, tal alvoroço para por ai, principalmente ao final do filme, não que o filme seja ruim, mas porque ao final se conclui o que já se sabia; que aquela história já era conhecida e não tem nada de novo, e que é mais um filme de aventura com muitos e ótimos efeitos especiais.
Se tratando de King Kong, não se pode dizer bom e barato, talvez caro e bom seja uma melhor definição, pois se fala num orçamento exorbitante envolvendo o projeto. Mas até ai acho que nossos impostos não vão parar ali, Oxalá o fossem destinados para a arte, cinema etc, sendo assim não entremos em questões financeiras, já que somos espectadores nos mantenhamos como tal.
Inicialmente os 187 minutos parecem muita coisa para contar a história de um gorila gigante capturado em uma ilha desconhecida e trazido para a cidade grande, sem falar no “romance” deste com uma frágil e bela atriz. No entanto, no decorrer das três horas do filme, não vi nenhuma parte que podia ser cortada, num todo a forma como a história é contada justifica os 187 minutos. Pois é dado enfoque em partes importantes que antes não foram tão exploradas; como o contexto da grande depressão dos anos 30, motivo pelo qual levou a atriz Ann Darrow (Naomi Watts) a aceitar o projeto confuso do diretor Carl Denham(Jack Black, que dessa vez não exagerou tanto na caricatura de seu personagem). Assim com as malas prontas(as pressas é bem verdade) já que Carl fugia de credores e produtores do studio que queriam impedi-lo de filmar devido ao seu curriculum de filmes toscos e banais. Junta-se a tripulação o galã Bruce Baxter numa ótima atuação de Kyle Chandler e o roteirista Jack Driscoll personagem do sempre ótimo Adrien Brody.
Já em alto mar seguindo meio sem rumo, Carl guarda o segredo de uma ilha desconhecida e que se crê desabitada, segundo o diretor local perfeito para a filmagem de seu longa. Chegando a ilha em meio a revolta dos marujos que conhecem e temem as histórias ligadas ao lugar, um primeiro tour é feito pelos tripulantes, atores, câmeras incluindo Carl, sempre inconseqüente e ambicioso, segue a frente da comitiva quando depara-se com um habitante da ilha, uma criança com ares sombrio e primitivo, dali a instantes de tentativas de comunicação, Carl e os demais percebem que estão cercados pelos nativos em sua maioria velhos, mulheres e crianças, mas logo em seguida são atacados pelo resto da população local, “guerreiros” fortes e ágeis, utilizando de porretes e lanças fazem uma carnificina de muitos dos exploradores da ilha, até que o resto da tripulação chega e todos são salvos e voltam ao navio.
Enquanto preparam o barco para a retirada, sofrem um novo ataque e desta vez a atriz Ann é raptada dando inicio a toda a trama. Após algumas discussões e nervos a flor da pele todos decidem voltar a trás da “mocinha”, descobrindo depois o motivo pelo qual ela foi raptada e tinha tanta importância para os nativos. Ann seria oferecida como uma espécie de sacrifício ao poderoso e temido Torê Kong ou o nosso conhecido King Kong. Apartir daí muitas cenas de ação, aventura, caça e fuga tomam boa parte do tempo de filme, seja na maravilhosa seqüência da fuga dos Brotossauros, ou na luta de King Kong com os Tiranossauro Rex ou ainda na arrepiante e nojento ataque de insetos gigantes.
Até aqui pode ser visto onde o filme foi mais além do que nas histórias anteriores, e mais além pode ser mais demorado, mais profundamente ou somente com mais recursos tecnológicos.
O que vemos depois é a já conhecida história, Kong maravilhado com a beleza da atriz a faz prisioneira e esta assustada aos poucos vai vendo que a fera não é tão bruta quanto parece, mesmo assim com a ajuda do roteirista Jack Driscoll, acaba escapando e provocando a ira de Kong, que por sua vez é capturado e levado para New York, onde será atração do show bussiness. Lá na outra ilha em Manhattam Kong foge, causa pânico na cidade e conclui pela terceira vez a famosa cena no Emperie State, onde é abatido por aviões e jogado no meio da rua.
Como podemos ver o filme que Peter Jackon refilma, não tem nada de novo, exceto é claro os efeitos e as três horas de duração, no entanto, nem é a intenção trazer algo de novo e sim contar uma história de uma forma melhor, com melhores atuações e recursos, principalmente quando se tem um bom orçamento.
Pode-se dizer então que King Kong dá conta do recado de entreter e em certos pontos maravilhar com as imagens e seqüências de animais fantásticos e recriados com grande perfeição além da recriação da ilha. E como disse Shrek outro gigante do cinema: “os ogros assim como as cebolas, possuem camadas” Eu digo que muitas coisas na vida possuem camadas e quase todo filme as possue também, King Kong faz parte dessa “cebolada” de forma menor, meio tímida e discreta mas há pra quem quiser pensar aquelas questões sobre o que é selvagem? E qual o lugar, o papel do homem frente a natureza seus mistérios e maravilhas. De qualquer forma pode ainda prevalecer o entretenimento e você não pensará em nada disso, ou mesmo ao final do filme, de três horas e de varias tentativas de arrumar um jeito confortável na cadeira você nem mesmo pensará em algo, e se isso acontecer, acredite, você não terá culpa alguma, e nem memso nos tornaremos mais ignorantes por mais uma tarde de entretenimento.

Ygor MF 10/01/2006

King Kong de Peter Jackson
Tempo de Duração: 187 minutosSite Oficial:
www.kingkongmovie.comDireção: Peter Jackson Roteiro: Fran Walsh, Philippa Boyens e Peter Jackson, baseado em estória de Merian C. Cooper e Edgar Wallace Efeitos Especiais: Weta Digital Ltd. / EYETECH Optics / Gentle Giant Studios Inc.ElencoNaomi Watts (Ann Darrow) Jack Black (Carl Denham)Adrien Brody (Jack Driscoll)Andy Serkis (King Kong / Lumpy)Jamie Bell (Jimmy)Kyle Chandler (Bruce Baxter)

CINEMA BRASILEIRO – Mais é menos?


Mesmo sendo um apreciador do cinema nacional(não por patriotismo ou coisa parecida, mas por enxergar um potencial diferenciado no cinema tupiniquin)devo confessar que uma pergunta tem rodado minha cabeça, sobre tudo aos finais dos últimos filmes brasileiros que tenho assistido.
Afinal, no cinema nacional Mais é Menos?! Quero deixar claro que estou analisando os filmes que EU assisti, e os filmes que criam essas duvidas são os mais recentes produzidos. Também não quero ser hipócrita ou mesmo mesquinho e ter uma atitude elitista de exigir que todo filme seja pura e só arte. Acho que entretenimento, bilheteria, retorno financeiro e arte andam muito bem juntos, porém isso é um caso raro no cinema nacional e mundial.
De repente se descobriu que o cinema mais engajado, mais sincero, sério e sem pretensões de agradar e só entreter, não tem o mesmo retorno que o cinema menos descompromissado, e isso de fato é verdade, mas desconfio dessa proposta para o cinema nacional, afinal já não bastam as telenovelas cada vez mais numerosas e de menor qualidade, tanto em textos, roteiros e interpretações?
Na verdade estamos num país que se esconde, ou acha desculpas no fato de ser o pais do carnaval e futebol ou na famosa frase de que “quem gosta de pobreza é intelectual”.
Não acredito numa glamurização da pobreza ou da violência, nem que todo filme tenha que conter uma lição de vida, uma mensagem, um engajamento e não possa simplesmente ser entretenimento. Mas acredito menos ainda em extensões de novelas nas telas dos cinemas. E acho que mais hipócrita do que querer filmes mais artísticos do que comerciais é voltar as costas ao problemas sociais, que são, que podem ser discutidos ou mostrados nos filmes.
Enquanto escrevo isso procuro entender o que se passa com o cinema brasileiro, é, escrevo para que eu mesmo entenda. E cada vez mais forte acho que mais é menos, principalmente porque vejo que filmes com mais qualidade como Cidade de Deus, Abril Despedaçado, ou os filmes do Beto Brant ou Jorge Furtado só para citar alguns, são “copiados” continuados em formulas prontas só que mais amenas ,mais diluídos, menos compromissados e menos sinceros.
Dizem de uma maturidade dos cineastas que descobriram que filmes não tão políticos ou sociais tem maior retorno, fala-se num povo que cansado não quer rever sua vida, sua realidade na tela. E é fato que existe um preconceito dos próprios brasileiros com o cinema nacional, marcado talvez pela época do pornô xanxada, e das filosofias dos tempos de “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”, mas não se tenta entender os motivos, o momento histórico, o contexto em que esses idéias eram trabalhadas, eram momentos de repressão política e se de um lado queria-se extravasar, de um outro havia a vontade de fazer arte com os recursos mínimos, valorizando mais conteúdos textuais e artísticos do que técnicos e outros até mesmo pela falta de recursos.
E assim com essa herança o cinema nacional atual encontra-se perplexo entre um caminho e outro, da arte, da secura do cinema documental, do cinema comercial(nem por isso menor), entre modelos asiáticos e europeus buscando uma certa identidade ou copiando simplesmente o exemplo americano.
Entendo que se “Mais é Menos”, os “Menos” de um lado ajudam e possibilitam o aparecimento dos “Mais” do outro, ou seja filmes comerciais e rentáveis que dão créditos e condições para filmes e projetos particulares dos diretos. Mas também não enxergo um caminho crescente, e somatório, só um cálculo estranho, onde mais qualidade é menos renda, e para mais renda; menos qualidade, será então que o sucesso é a justa junção de dois pontos opostos, como um positivo e negativo? Deixo então o tema aberto as discussões, continuando com a impressão de que cada vez mais menos filmes me agradam.

Ygor MF 05/01/2006