Poema

Como pode esta osmose, contrária a tudo,
contrária a si mesmo, movimento,
caminho triste?
Níveis indizíveis de intimidade?
Ainda sim a distancia insiste o seu espaço.

É pois com o peito gelado que atravesso a noite,
e as mãos mecânicas escrevem,
orgânica, apenas organicamente os olhos lacrimejam,
é pois um milagre científico, que resiste este corpo,
mesmo lhe faltando a parte.

E esta resistência romântica,
que reserva aos sonhos todas as concretizações,
prolonga no peito, a batida mais forte.
E impõe ao andar,
maldições de andarilhos perdido em caminhos.

Esta lepra estagnada,
que não dá ao corpo a noção de todas as perdas,
nem da morte despede-se,
permanece o momento do eterno e do efêmero
que não diferenciam-se dum triscar de dedos.

E neste grito que não atravessa não se joga,
jorra pra fora da garganta,
ou nesta alma que apenas mora no corpo,
vive de aluguel nesta hipótese de ser.

Ygor MF

“O Abraço Partido” –
Um filme argentino que conta a história do jovem Ariel, um rapaz sem grandes pretensões na vida que quer tirar a cidadania polonesa para poder fazer uma viagem ao velho continente. Tal viagem é o que pode dar uma guinada em sua vida monótona que leva em Buenos Aires. Ariel vive com a mãe, prestando serviços em sua loja de lingerie numa galeria da cidade junto de pessoas que a décadas levam o mesmo tipo de vida trabalhando e lutando para sobreviver naquele lugar.
O jovem rapaz possui um sentimento dúbio pelo pai que o abandonou ainda na infância. Assim, ao passo que tenta conformar-se com esse buraco na família, uma certa curiosidade o afeta e lhe faz querer descobrir quem foi seu pai e que motivos o teriam levados a ir embora. Porém, como esse parece ser um assunto morto em sua família(seu irmão e mãe não comentam nada a respeito) ele começa a questionar os demais proprietários da galeria, e passa a conhecer de forma desfragmentada quem foi seu pai. Munido dessas informações vai colocando sua vida em dia, seja no relacionamento com seu irmão e mãe ou no caso que mantém com a mulher do “Cyber-café”, Ariel tenta não deixar nada pendente em sua vida, para que possa fazer a viajem e ingressar numa “outra” vida de forma clara e resolvida.
O filme “O Abraço Partido” não chega a ser um filme autoral, no entanto, não é de todo despretensioso, um drama que não chega a ser triste ou tenso, uma comedia longe do hilário e do banal. Um exemplo da capacidade e da necessidade do cinema latino, incluindo o cinema brasileiro, de produzir filmes que entretenham sem deixar de lado a arte, uma maneira de adaptar-se à concorrência com a industria norte americana.

Ygor Moretti 15/12/2006

Ficha Técnica
“O Abraço partido” já disponível para locação.
Título Original: El Abrazo Partido
Tempo de Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento (Argentina): 2004
Direção: Daniel Burman
Roteiro: Daniel Burman e Marcelo Birmajer
Elenco
Daniel Hendler (Ariel)
Adriana Aizemberg (Sonia)
Jorge D'Elia (Elias)
Sergio Boris (Joseph)

Manifesto Triste

Nos concentremos no coração,
este músculo, esta carne,
ignorando no entanto qualquer conotação.
Não retenhamos as mãos ao rosto coberto de lágrimas,
Estas gotas, esta substancia salobra.

Sobretudo, não compartilhemos com a dor do cetico,
sejamos tristes, fiéis a esse modo de ser,
esta exatidão de sujeito, este bloco, metal.
O metal que é mais vida do que eu,
Eu sou madeira, eu sou madeira...

Não apelemos a lembrança,
que não é de fibra.
Existamos, tristes, absurdamente,
absolutamente, doentes de tristeza.
Em silêncio...Absoluto.