O Corte –

Num primeiro momento ao ler uma sinopse ou mesmo ouvir um comentário raso de quem viu o filme “O Corte”, pode-se arriscar a dizer que por um momento Costa Gravas “abandonou” as questões políticas e históricas sempre presentes em seus filmes como por exemplo em “Z” e “Amém”. Porém ao nos desviarmos um pouco da abordagem até certo ponto cômica de “O Corte”, percebemos no longa questões sociais e políticas de nossos dias.
Bruno Davert(José Garcia) é um dedicado engenheiro que após 15 anos de trabalho no ramo de papéis é demitido por conta de um corte na empresa. Passados dois ainda sem emprego, Bruno começa a temer por sua carreira, pela impossibilidade de manter o status familiar e principalmente pela dificuldade de conseguir outro emprego. Com essa preocupação um plano é traçado afim de identificar seus principais concorrentes e então aniquila-los. Por meio de uma falsa caixa postal e falsos anúncios, supostamente promissores Bruno começa sua pesquisa e posteriormente sua caça.
Com esse clima tenso e um tanto surreal, Costa Gravas expõe as facetas do capitalismo desenfreado, da selvagem disputa do mercado de trabalho e com os valores criados e mantidos como pilares da sociedade.
Assim o personagem Bruno Davert vai mergulhando em seu plano que mais a frente se torna uma obsessão o obrigando a confrontar-se com sua consciência mantendo sua família longe de qualquer suspeita de suas investidas.
O filme “O Corte” segue entre um clima de suspense provocando alguns risos em algumas situações de um assassino totalmente desprovido de qualidades para tal serviço, porém não chega a ser um comédia já que a esses risos momentâneos segue-se uma estranha sensação de desconforto. Maneira essa que o diretor grego Costa Grava optou para deixar mais uma mensagem de provocação e denuncia.

Ygor MF

Costa-Gravas
Nome Completo: Konstantinos Gavras
Natural de: Loutra-Iraias, Grécia
Nascimento: 12 de Fevereiro de 1933

Filmografia
2005 - O corte (Le couperet)
2002 - Amém (Amen.)
1997 - O quarto poder (Mad city)
1995 - À propos de Nice, la suite
1995 - Lumière e cia (Lumière et compagnie)
1993 - La petite apocalypse
1991 - Contre l'oubli
1989 - Muito mais que um crime (Music box)
1988 - Atraiçoados (Betrayed)
1986 - Conselho de família (Conseil de famille)
1983 - Hanna K. (Hanna K.)
1982 - Desaparecido, um grande mistério (Missing)
1979 - Um homem, uma mulher, uma noite (Clair de femme)
1975 - Seção especial de justiça (Section spéciale)
1973 - Estado de sítio (État de siège)
1970 - A confissão (L'aveu)
1969 - Z (Z)
1967 - Tropa de choque (Um homme de trop)
1965 - Crime no carro dormitório (Compartiment tueurs)
1958 - Les rates (curta-metragem)

Ficha Técnica
Título Original: Le Couperet (Disponível nas locadoras)
Tempo de Duração: 122 minutos
Ano de Lançamento (França / Bélgica / Espanha): 2005
Direção: Costa-Gavras
Roteiro: Costa-Gavras e Jean-Claude Grumberg, baseado em livro de Donald E. Westlake
José Garcia (Bruno Davert)
Karin Viard (Marlène Davert)

Zuzu Angel -
Zuzu Angel é mais um filme sobre o período da ditadura militar no Brasil, e o fato de ser mais um filme sobre o assunto não tem conotação pejorativa. Particularmente falando, tal tema nunca será “batido” desde que mostre diferentes visões e fatos daquela época, como o faz o filme de Sérgio Rezende.
Com uma atuação que vai se encontrando e ao longo do filme conseguindo maior interpretação e intimidade com o personagem, Patrícia Pillar faz o papel da estilista Zuzu Angel que tem o filho Stuart Angel(Daniel de Oliveira) preso pelos militares. Segue a partir daí a busca da mãe pelo paradeiro do filho. Zuzu depara-se com uma condição obscura da história do país, que apresenta um contra-senso ao enfileirar militares, jovens revolucionários e uma classe burguesa que até então parecia não sofrer ou não “precisar” sofrer com as condições impostas pelo governo.
Assim, justamente nesse ponto que “Zuzu Angel” se vale e se justifica como mais um filme sobre a repressão nas décadas de 60/70. O filme não se fixa na luta armada travada pelos guerrilheiros, mas na influência exercida pela ditadura na vida de uma mulher da classe média, uma pessoa apolitica até então que se vê forçada a olhar e lutar com suas poucas forças contra todo um regime instalado.
Como disse em entrevista Toni Venturi, diretor de outra grande obra sobre o período militar no Brasil “Cabra Cega”, somente com esse distanciamento no tempo, podemos melhor enxergar e analisar aquele momento da história. Sendo assim, que sejam bem-vindos filmes com essa proposta.

Ygor MF

Zuzu Angel – já nas locadoras

Ficha Técnica
Título Original: Zuzu Angel
Tempo de Duração: 110 minutos
Ano de Lançamento (Brasil): 2006
Direção: Sérgio Rezende
Roteiro: Marcos Bernstein e Sérgio Rezende
Patrícia Pillar (Zuzu Angel)
Daniel de Oliveira (Stuart Angel)
Luana Piovani (Elke Maravilha)
Paulo Betti (Lamarca)

Com roteiro e direção de Werner Herzog “O Homem Urso” trata-se de um documentário sobre os 13 anos em que o ecologista Timothy Treadwell viveu entre os ursos em uma reserva no Alasca. Herzog é um cultuado diretor alemão responsável por filmes como "Fitzcarraldo", "Nosferatu, o Vampiro da Noite", "O Enigma de Kaspar Hauser", "Aguirre, a Cólera dos Deuses" entre outros, além de um dos maiores representantes do novo cinema alemão, movimento que surgiu nos anos 70, o diretor de ficção é também reconhecido como documentarista, porém pouco desse trabalho do alemão está disponível no Brasil. Já disponível nas locadoras, “O Homem Urso” é um belo exemplo do documentário trabalhado por Herzog, algo que informa e não define uma posição ou outra, de forma realista mostra diferentes visões do tema relatado. “O Homem Urso” mostra os treze anos em que Timothy Treadwell viveu entre os ursos numa reserva no Alasca, de maneira controversa Timothy estudava e dizia-se apto para defender os ursos e seu estilo de vida, grande parte das cenas do documentário foram retiradas de material produzido pelo próprio Timothy, em centenas de horas gravadas Herzog escolheu alguns momentos que retratam a entrega, a coragem ou a irresponsabilidade do ecologista ao arriscar-se com tamanha aproximação dos animais. Após treze anos de “convívio” entre os ursos, Timothy e sua companheira Amie Huguenard foram mortos em um ataque de um urso faminto, o diretor inclusive teve acesso a uma fita em que teria sido gravado o ataque, porém como a câmera estava tapada só se pode ouvir os gritos e sons da morte de Thimothy e Amie, tal material não foi usado no documentário, fato que dignifica o trabalho do alemão, mantendo-se distante de posturas sensacionalistas e oportunistas.

Ygor MF

Ficha Técnica
Título Original: Grizzly Man
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2005
Site Oficial: www.grizzlyman.com
Direção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog