IMPÉRIO DOS SONHOS

Império dos Sonhos de David Lynch, mostra os bastidores de uma refilmagem de um filme polonês que não terminou de ser gravado devido a morte dos protagonistas do filme. Laura Dern é Nikki Grace uma atriz que ganhou o papel principal para a nova empreitada e irá contracenar com o galã Devon Berk (Justin Theroux). Porém a dupla só fica sabendo que o projeto na realidade é uma refilmagem amaldicoada, nas vésperas das primeiras filmagens. Tal informação causa um grande desconforto em Nikki e Justin, no entanto essa sensação de paranóia e desconforto, será a mais normal e mais óbvia das várias sensações exploradas pelo diretor David Lynch, em um trabalho que pode ser considerado o mais experimental de sua carreira.

Conhecido por sua inventividade e por seus filmes que desafiam a lógica e a comum linearidade de Hollywood, tal como Veludo Azul, Erasehead e Cidade dos Sonhos. Lynch com Império dos Sonhos extrapola seus próprios limites, em comparação aos seus outros trabalhos, Império dos Sonhos é o que exige mais do espectador, em um cinema que tanto necessita quanto possibilita que o espectador construa significados. Em seu recente trabalho, mais do que significados, e uma construção linear da história, o diretor por meios de imagens explora as possíveis sensações que o seu público possa alcançar e vivenciar durante as quase três horas do longa.

De pessoas com cabeças de coelhos, barulhos, ruídos, câmera tremula, e a inclusão de diversas histórias entrelaçadas, tudo é possível para Lynch, assim como para Hollywood o então investigado império dos sonhos.

Filmado com tecnologia digital, o projeto foi executado com longas pausas entre as filmagens, sem contar com o fato de não haver um roteiro preparado, as cenas eram feitas a medida que a inspiração do diretor determinava os próximos rumos.

Assim Império dos Sonhos é uma viagem que se aprofunda, se multiplica e se espalha em experiências sensoriais, no subconsciente dos personagens, vivenciando infinitas possibilidades de histórias.


Ygor MF


Ficha Técnica
Título Original: Inland Empire
Gênero: Suspense
Tempo de Duração: 172 minutos
Ano de Lançamento (EUA / Polônia / França): 2006
Site Oficial: www.inlandempirecinema.com
Estúdio: Studio Canal / Absurda / Inland Empire Productions / Asymmetrical Productions / Cameraimage Festival / Fundacja Kultury
Distribuição: Europa Filmes
Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch
Produção: David Lynch e Mary Sweeney
Fotografia: David Lynch
Desenho de Produção:
Direção de Arte: Christina Ann Wilson, Christine Wilson e Wojciech Wolniak
Figurino: Karen Baird e Heidi Bivens
Edição: David Lynch

Elenco
Laura Dern (Nikki Grace / Susan Blue)
Ian Abercrombie (Henry)
Bellina Logan (Linda)
Amanda Foreman (Tracy)
Jermey Irons (Kingsley Stewart)
Justin Theroux (Devon Berk / Billy Side)
Harry Dean Stanton (Freddie Howard)
Sara Glaser (Ellen Thomas)
Diane Ladd (Marilyn Levens)
Stanislaw Kazimierz Cybulski (Sr. Zydowicz)
Henryka Cybulski (Sra. Zydowicz)
Julia Ormond (Doris Side)
Robert Charles Hunter (Detetive Hutchinson)
Emily Stofle (Lanni)
Jordan Ladd (Terri)
Kristen Kerr (Lori)
Terryn Westbrook (Chelsi)
Jamie Eifert (Sandi)
Kat Turner (Dori)
Michelle Renea (Kari)
Erik Crary (Sr. K)
Stanley Kamel (Koz Kakawski)
Mikhaila Aaseng (Tammi)
Cameron Daddo (Empresário de Devon Berk)
Jerry Stahl (Agente de Devon Berk)
Jan Hencz (Janek)
Laura Harring (Jane Rabbit)
Scott Coffey (Jack Rabbit)
Naomi Wats (Suzie Rabbit)
Krzysztof Majchrzak (Fantasma)
Karolina Gruszka (Garota perdida)
William H. Macy
Mary Steenburgen
Nastassja Kinski
David Lynch

Anti Herói Americano

Harvey Pekar, para algum desavisado de plantão, pode tranqüilamente ser tomado por um excêntrico personagem de cinema, juntando a ele outros personagens igualmente excêntricos, o filme “O Anti-Herói Americano” mostra a vida de gente de verdade, excêntricas ou não. O longa dirigido por Robert Pulcini e Shari Springer Berman conta a trajetória do cartunista Harvey Pekar, autor da revista em quadrinhos “American Splendor”, onde Harvey retratava o cotidiano ao seu redor com um realismo muitas vezes intimidador aliado a um humor mais próximo do trágico e sarcástico, contendo ainda uma boa dose de ironia.
Paul Giamatti é quem interpreta Harvey Pekar, tendo o olhar do Harvey em pessoa, bem próximo a ele, já que é o próprio cartunista quem narra com sua voz insuportável e inconfundível, diversos trechos do filme, além de “atuar” em outras cenas e completar essa profunda metalinguagem com depoimentos frente a câmera. Junto a esse rodízio de diferentes ferramentas narrativas, temos ainda a inclusão de animações, trechos da HQ animados e inseridos ao longo do filme, muitas vezes dividindo espaço com atores. Essa é a grande sacada do longa, uma direção dinâmica e divertida que brinca com diferentes níveis de realidade, num constante esquema metalingüístico.
O que poderia ser algo intimidador para Paul Giamatti (a imagem constante da personalidade a quem ele interpreta), funciona a seu favor, sendo um reflexo presente, confirmando o trabalho estupendo de personificação do ator. Desde os trejeitos, manias e cacoetes, até mesmo a reprodução da voz agonizante de Harvey devido a um problema nas cordas vocais, tudo é assimilado e exteriorizado com naturalidade.
Assim, o longa segue a trajetória do mal humorado arquivista de um hospital, um até então “loser”, obcecado por literatura e jazz, que de forma inesperada conquista um relativo sucesso com seus quadrinhos e mais importante, o respeito da crítica.
Com uma bela trilha sonora, composta de muito Jazz, o filme segue num ritmo bastante próprio, nos aproximando aos poucos do personagem principal, derrubando uma primeira má impressão, mostrando por de trás de diversas estranhezas, um ser humano bastante comum, talentoso, inteligente, cheio de inseguranças que no entanto, vai aprendendo a viver junto as suas dificuldades, ultrapassando outras e aceitando obstáculos que jamais serão ultrapassados.

Ygor MF

Ficha Técnica:
Título Original: American Splendor
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2003
Direção: Robert Pulcini e Shari Springer Berman
Roteiro: Robert Pulcini e Shari Springer Berman, baseado nas histórias em quadrinhos de Harvey Pekar e Joyce Brabner
Fotografia: Terry Stacey

Elenco:
Chris Ambrose (Superman)
Joey Krajcar (Batman)
Cameron Carter (Lanterna Verde)
Paul Giamatti (Harvey Pekar)
Shari Springer Berman (Entrevistador)
Larry John Meyers (Dr. Throat)
Vivienne Benesch (Lana)
Earl Billings (Sr. Boats)
Danny Hoch (Marty)
James Urbaniak (Robert Crumb)
Eli Ganias (Pahls)
Judah Friedlancer (Toby Radloff)
Robert Pulcini (Bob)
Maggie Moore (Alice Quinn)
Hope Davis (Joyce Braber)
Molly Shannon (Joyce)
Daniel Tay (Harvey - jovem)
Mary Faktor (Dona de casa)

A VIDA DOS OUTROS

Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro “A Vida dos Outros” se passa na Alemanha Oriental, onde o regime socialista mantém a ordem através de “rédeas curtas”, com um forte programa de segurança contra qualquer influência ocidental. Com esse pretexto, o ministro Bruno Hempf sugere que o dramaturgo Georg Dreyman, seja observado com mais cuidado, assim, Gerd Wiesler, um sujeito solitário e obcecado por seu trabalho, inicia o processo de espionagem, invadindo a casa do Georg introduzindo escutas por toda parte.
Ao passo que as investigações se intensificam, o romance de Georg e Christa-Maria Sieland, uma famosa atriz, vai se aprofundando. Junto a isso, Gerd Wiesler passa a direcionar sua obsessão pelo trabalho para a vida de Georg e Christa-Maria, nascendo a partir daí uma estranha simpatia com os personagens da casa e sua rotina.
No entanto, o que para Wiesler vai se tornando um prazeroso exercício de observação, para o ministro Bruno Hempf, torna-se algo angustiante, uma missão da qual ele quer extrair resultado o mais rápido possível, já que seus reais motivos encontram razão na figura da bela Christa-Maria, por quem ele cultiva uma paixão capaz de atos de chantagem e violência.
Esse é o cenário aonde a história do longa vai se desenvolver. Um drama multifacetado com personagens ricos e um roteiro primorosamente construído baseado na evolução dos personagens, ou melhor dizendo, no foco dado a esses, que ao longo do filme tem sua importância alterada.
Aplaudido por público e crítica, “A Vida dos Outros”, pode ser classificado como um drama e até mesmo uma sátira sobre um rígido regime político, porém mais do que questões políticas, o filme aborda a possibilidade e a impossibilidade de se ostentar valores básicos da vida de qualquer ser humano, tais como a liberdade, a individualidade e o livre arbítrio em contextos como nos apresentados pelo filme..
A direção de Florian Henckel von Donnersmarck segue imperceptível, no sentido de não influenciar no andamento do roteiro, mantém-se discreta, porém impecável, assim como o elenco que não apela a esquemas fáceis ou estereótipos.
Por fim, a grande qualidade do projeto, está no fato de tocar em um drama complexo, baseado em uma realidade não muito distante, tratada porém de uma forma bastante ambígua, confrontando a realidade da história com situações surreais como as encontradas nos textos de Kafka, mostrando que, tanto uma quanto outra, são completamente possíveis...

Ygor MF

Ficha Técnica:
Título Original: Das Leben der Anderen
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 137 minutos
Ano de Lançamento (Alemanha): 2006
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Roteiro: Florian Henckel von Donnersmarck
Fotografia: Hagen Bogdanski

Elenco:
Martina Gedeck (Christa-Maria Sieland)
Ulrich Mühe (Gerd Wiesler)
Sebastian Koch (Georg Dreyman)
Ulrich Tukur (Anton Grubitz)
Thomas Thieme (Ministro Bruno Hempf)
Hans-Uwe Bauer (Paul Hauser)
Volkmar Kleinert (Albert Jerska)
Matthias Brenner (Karl Wallner)
Charly Hübner (Udo)
Herbert Knaup (Gregor Hessenstein)
Marie Gruber (Meineke)