SONHEI
  
I.
Só, completamente só, caminho sobre uma nuvem. Minhas pernas são acariciadas por uma relva tão transparente que não a vejo. Estou maravilhado pelo silêncio. Tomo um pouco d’água escura e transformo a nuvem numa jovem que amo loucamente até a minha morte, na solidão.

II.
            Estamos sentados na beira de um rio, ela e eu. Ela me fala, e o murmúrio de suas palavras torna-se uma nuvem de cerejas que se pousa sobre meus cílios. Respiro calmamente e penetro nas imagens que ela teria desejado esconder de mim. Ela ri, depois pega uma montanha e a  pousa sobre meus lábios, entre nossos beijos.

III.
Viro-me, vejo o mar de uma cor indeterminada e três conchas vermelhas. De um cipreste sai um cervo. De seu olhar tranqüilo brotam avencas numa angra. Ajoelho-me para colher um pouco da relva escondida entre os seixos. Espero o cervo adormecer. Quando o vejo chorar lágrima após lágrima, cravo-lhe a relva entre os galhos. Uma jovem azul sai-lhe da cabeça e por inteiro tremo com os beijos nus que ela deposita sobre minhas pálpebras. Com um supremo esforço, abro os olhos para quebrar o segredo, mas uma lâmina de onda negra o arrebata e choro toda a noite no vento, frio.

Radovan Ivisc
Tradução : Éclair Antonio Almeida Filho



Odradek

Alguns derivam do eslavo a palavra Odradek e querem explicar sua formação mediante essa origem. Outros a derivam do alemão e admitem apenas uma influência do eslavo. A incerteza de ambas as interpretações é a melhor prova de que são falsas; além disso, nenhuma delas nos dá uma explicação da palavra.
Naturalmente ninguém perderia tempo em tais estudos se não existisse realmente um ser chamado Odradek. Seu aspecto é o de um carretel de linha, achatado e em forma de estrela, e a verdade é que se parece feito de linha, mas de pedaços de linha, cortados, velhos, emaranhados e cheios de nós, de todos os tipos e cores diferentes. Não é apenas um carretel; do centro da estrela sai uma hastezinha e nesta se articula outra em angulo reto. Com a ajuda desta última de um lado e um dos raios da estrela do outro, o conjunto pode ficar em pé como se tivesse duas pernas.
Seriamos tentados e crer que esta estrutura teve alguma vez uma forma adequada e uma função, e que agora apenas está quebrada. Entretanto, esse não parece ser o caso; não há pelo menos nenhum sinal disso; em parte algumas se vêem remendos ou rupturas; o conjunto parece sem sentido, porém completo à sua maneira. Nada mais podemos dizer, porque Odradek tem extraordinária mobilidade e não se deixa capturar.
Tanto pode estar no forro, como no vão da escada, nos corredores, no saguão. Às vezes passam-se meses sem que alguém o veja. Terá se aninhado nas casas vizinhas, mas sempre volta à nossa. Muitas vezes, quando cruzamos a porta e o vemos lá embaixo, encostado ao balaústre da escada, temos vontade de falar-lhe.
Naturalmente não se fazem a ele perguntas difíceis, mas sim o tratamos – seu diminuto tamanho nos leva a isso – tal qual uma criança. “Como te chamas?” perguntam-lhe. “Odradek”, diz. “E onde moras?” “Domicilio Incerto”, responde, e ri, mas é um riso sem pulmões. Soa como um sussurro de folhas secas.
Geralmente o diálogo acaba aí. Nem sempre se conseguem essas respostas; por vezes guarda um silêncio, como a madeira de que parece ser feito. Inutilmente me pergunto o que acontecerá a ele. Pode morrer? Tudo que morre teve antes um objetivo, uma espécie de atividade, e assim se gastou; isto não acontece com Odradek. Descerá a escada arrastando fiapos frente aos pés de meus filhos e dos filhos de meus filhos? Não faz mal a ninguém, mas a idéia de que possa sobreviver-me é quase dolorosa para mim.

Franz Kafka

O quão surpreendente podem ser os filmes do espanhol Pedro Almodóvar? Se alguém já arriscou algum palpite provavelmente foi mais uma vez surpreendido a cada novo lançamento do espanhol. Engraçado que contudo, os seus esquemas, a sua forma parece ser sempre a mesma, no entanto, os temas e prin-ci-pal-men-te a força com que os invade é que causa tal surpresa para não dizer choque. Almodovar faz uma visita aos ditos "tabus", defrontando-os, homossexualidade, erotismo, estupro, pedofilia, mudança de sexo etc etc etc. 

Em "A Pele que Habito"alguns desses elementos estão presentes com a mesma força e clareza que desconcerta e marca. Todavia não cabe aqui a questão sobre o que leva o diretor à esses temas, corajoso, controverso ou oportunista a principal qualidade de Pedro Almodovar é o apuro técnico crescente de seu trabalho, com dezenas de filmes e prêmios em sua carreira, não resta duvida
de que este é um grande contador de história.

Como pode será percebido em A Pele que Habito, os personagens de Almodovar e suas histórias por assim dizer são sempre movidos por segredos, pelo drama desses serem descobertos ou pelo trauma de te-los que guardar. Excêntricos, estranhos, violentos e até maléficos, há sempre um desconcerto dentro dessas pessoas que reverbera ao seu redor das maneiras mais fortes e sofríveis.

É um segredo que move o personagem de Antonio Bandeiras em A Pele que Habito. Roberto é um renomado cirurgião plástico empenhado em "produzir" geneticamente uma pele humana que seja mais resistente, o que segundo ele poderia erradicar doenças como a malária e outros males de que sofre a humanidade. Para isso mantém numa espécie de cativeiro Vera, sua cobaia em quem faz teste de resistência a fogo e picadas de mosquitos, lhe prometendo a pele mais resistente do mundo.
Quando está fora em outros compromissos ou em palestras divulgando seus avanços e tentando convencer a comunidade científica do benefício de usar tal tecnica, sua mãe é responsável pelos cuidados de Vera. 

Certo dia Marilia sua mãe recebe a inusitada visita de Zeca, seu filho a muito tempo desaparecido. É tempo de carnaval e Zeca esta vestindo uma fantasia de leopardo, na verdade aquele é um disfarce e o carnaval a brecha para conseguir fugir da policia que o persegue após um assalto mal planejado. Após esse tenso reencontro que termina com Marilia feita de refém, Zeca descobre Vera trancafiada
em um quarto. Seu rosto o faz lembrar de alguém do passado, alguém com quem teve e ainda tem um forte sentimento. Tomado por esse sentimento invade o quarto de Vera e ainda mais intenso a estupra, neste momento Roberto aparece e mata seu meio irmão.

Este será o primeiro momento de alguma ternura entre Roberto e Vera, deixando de lado os papéis de médico e paciente ou cientista e cobaia, após uma infeliz tentativa de sexo os dois apenas adormecem abraçados. Neste momento o filme se divide voltando a um passado remoto e trágico que explicará o papel e o caminho de cada um até aquele momento...

Através desse artifício no roteiro Almodovar reconstruirá a história de cada um desses personagens que em verdade estão sempre tentando remontar peças importantes de suas vidas. Ainda seguindo características marcantes do diretor, atuações teatrais próximas de um exagero proposital e cores fortes quase sempre saturadas vão dando formas ao cinema do espanhol. Quando começou as filmagens de A Pele que Habito, Almodovar dizia que queria fazer um filme de terror sem gritos ou sangue e consegue atingir o ápice desse sentido através do caos do desconhecido e do improvável que em seu trabalho é a principal matéria prima...

Ygor Moretti

Originalmente publicado no O Cinemista

Dante (Felipe Kannenberg) e Berenice são amigos... são crianças e desfrutam da amizade genuina que esta condição(infância) possibilita. Porém, não é com esses mesmo olhos que a mãe do menino enxerga a relação, uma mulher cheia de religiosidade proíbe que o filho continue brincando com a menina. 


Pulando alguns acontecimentos do filme, Dante e Berenice se reencontram 24 anos depois, Berenice é uma empresaria e está no meio de uma construção quando se depara com o que podem ser alguns fosséis. Coincidentemente vê em uma reportagem na televisão o antigo amigo, agora um arqueólogo e decide procurá-lo. Assim os dois estão novamente frente a frente mas não poderão reaver a amizade proibida ou qualquer outra coisa que o destino os tenha reservado.
No entanto, a de se deixar claro que o longa Menos que Nada de Carlos Gerbase não quer contar essa história, de um possivel reencontro ou reajuste entre duas pessoas... Pois a realidade desses personagens agora é outra: Berenice está casada com Ciro, um homem rude e violento que tenta e de fato controla todos os passos de sua esposa. Dante a mais de 10 anos está internado em um manicomio, isolado e esquecido por todos, dado como um caso perdido até que Paula uma psiquiatra novata no hospital se interessa pelo caso e passa a investigar toda a sua história. Assim, através dessas investigações vamos descobrindo as causas da loucura de Dante que tiveram inicio no reencontro com Berenice.

Diretor de Sal de Prata e 3 Efes, Carlos também assina o roteiro de Menos que Nada, inspirado no conto do escritor austríaco Arhur Schnitzler O Diário de Redegonda, Menos que Nada dá continuidade a um conjunto de reflexões sobre a imaginação humana, assim como em Tolerância(2000), Sal de Prata(2005) e 3Efes, que também navegam pelo tema da psique humana, devaneios e o embate entre a ficção e a realidade.
O longa aborda também o tema da saúde pública e sem ser panfletário ou documental mostra a falência do sistema manicomial do país

Em sua grande parte desconhecidos do grande publico, o elenco se comporta como uma perfeita equipe, num estado unissono numa uniformidade de expressões e atuações, por mais diferentes que sejam os personagens ninguém sobrepõe-se a ninguém o que na narrativa colabora para enfatizar o tom de suspense e o constante jogo de interesses que se desenrola nas entrelinhas de cada diálogo.

Lançado simultaneamente nos Cinemas, internet e DVD, Menos que Nada surge como um exercício cinematográfico ou uma provocação narrativa, méritos para Carlos Gerbase que segue construindo uma cinematografia baseada num trabalho continuo de propósitos culturais e sociais.

Ygor MF

Originalmente publicado no cenasdecinema.com




Eu que tenho uma visão duplamente unica,
numa triade que não se completa...
O que vejo e o que os meus olhos conseguem enxergar
são coisas distintas, segredos, outras coisas que nunca as saberei
plenamente.
Vejo um desfoque um nada, a hipótese do que pode ser tudo aquilo
que cerca a visão de um miope.
Pois estas visões vazias quando separadas são ainda incompletas
quando juntas nem constroem coisa nitida juntamente.

Contemplar esse branco que tudo contorna,
estar a espreita dum mundo tato escondido na clareza que cega...
E aos poucos... bem aos poucos, tudo nuvem, tudo neve, alvi
branco, tudo nada...

Ygor Moretti


É sobretudo no pranto
onde a alma revela
a sua presença
e numa secreta compressão
faz da dor água.
A primeira gemação do espírito
se dá portanto na lágrima,
palavra lenta e transparente.
Segundo essa alquimia elementar
o pensamento se torna de fato substância
como uma pedra ou um braço.
E não há turbação no líquido,
mas só um mineral
desconforto da matéria.
II.

Mas deve existir uma estrada interna,
uma espécie de atalho
entre a cabeça e as pernas
que atravesse braços, barriga
e aquilo que Homero chama
no livro dezoito as vergonhas.
Uma trilha distante
imersa dentro do corpo,
uma veia que passou despercebida
ou um rio navegável,
uma rede viária
ou um subterrâneo. Uma idéia
encostada como um guarda-chuva
e depois esquecida.

Valério Magrelli
A bailarina Morena Nascimento, que já integrou a companhia Tanztheater Wuppertal, da coreografa alemã Pina Bausch, no espetáculo Claraboia em cartaz na Galeria Olido de 12 a 27/08. Grátis e de 21/09 e 22/09 no Centro da Cultura Judaica, grátis.


De 15 a 23 de agosto, Festival Varilux de Cinema Francês, 33 cidades, somente filmes inéditos, confira mais informações e a programação completa em: www.variluxcinefrances.com



Heiaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Eu cumprimento digo oi, saudo a quem me le, ah esses três ou quatro
admiradores discretos ou timidos. Este olá com fogos de artificio é para vocês!!!
Muito embora vai aqui também uma reclamação: No mundão por ai fora alguns se matariam
pelo título de descobridor de um novo pintor ou artista plástico, comprariam por fortuna o direito
de com desdém poder dizer: - Ah ja conhecia esse escritor desde o seu tempo de blog, ou melhor fanzine, desde de os primórdios de seus escritos...
Heiaaaaaaaaaaa eis uma Supernova amigo, ainda que sexagenario mas uma estrela não tem idade
ja dizia o meu amigo Zé Linguiça...

Eu sou aquele que tem muito a dizer mas falo pouco... para o bem de todos, so mesmo na minha mente durante as caminhadas é que solto o verbo pensando alto as vezes "pagando de louco" como se diz por aí... Quando vou escolher uma pauta para o texto sempre me recordo dos tempos de escola, redação: TEMA LIVRE...................................................não pode haver prisão mais indissolúvel que esta. Poder falar sobre qualquer coisa, sobre tudo será sempre um vazio lúcido e angustiante de mil e nenhuma escolha...

Pois bem, quero falar da artificialidade da mulher, prestem atenção senhoritas, artificialidade e não superficialidade não me aterei ao corpo artificial até porque este anda junto do superficial do caráter, da indole e de todo campo ou característica onde se pode(e invariavielmente se é) ser superficial, tanto para senhoritas quanto para os cavalheiros... (acho que me livro assim de ser alvo de feministas ou qualquer defensor de qualquer classe supostamente recriminada)...

Desde que Frank com certo êxito criou a sua própria criatura artificial(ou seja de forma não natural) qualquer um desde aquele tempo pode sentir-se encorajado a também fazê-lo, enquanto lá o dr. usava partes diferentes de corpos de pessoas mortas, por aqui costura-se a foto de um com o perfil doutro na rede social de e as boas sacadas de um terceiro...
Bem aventurada esta humanidade... de Frankstein a Tamagoshi cabem todas as criaturas e o nascimento de novos pensadores...

E falando na mulher... cito a jornalista, redatora etc. etc. etc. Tati Bernardi, que relata numa crônica a sua investigação em busca de outras Tatis que perambulam frases "sábias" e boas sacadas por ai. Ao dar o flagrante com alguma educação a Tati verdadeira(até onde se sabe) não foi
reconhecida pelas outras genéricas, ou seriam clones, ou ainda gerações espontâneas de psico-personalidades-invariáveis?

Eu oras bolas já fui chamado de personagem, menos mal que isso tenha sido feito em tom de elogio:
Ah que legal esse personagem. De certo existe sim um personagem no que escrevo, um Clodomiro mais souto com um binóculo em coisas que se eu tivesse de pagar pra falar...ficaria em silêncio...

Noutro ponto Bina48 mostra uma gama quase infinita de programações que simulam e alcançam em certo momento uma consciência, e no momento seguinte se perdem diante de perguntas tolas, mas com uma convicção espantosa defende a sua existência, sonhos e tudo o mais que uma mulher pode ter...

Bina48 sendo entrevistada

E Mãe Duchampa essa guru-mística das artes? Revelou-se parte de uma tríade, ela e suas duas criadoras que polemizaram com humor o mundo das artes. E agora que será de mãinha já que se sabe que são duas jovens estudantes de artes... Uma coisa é certa: Personagens não sobrevivem ao cinismo, 
ainda que vivam no faz de conta, entram em parafusos se assim nessa tentativa. Estes sim vivendo na Matrix da Matrix e quando abrem realmente os olhos não conseguem conviver com o que veem...

Por último inspirado no espólio interminável de Clarice Lispector que zomba de editores, biógrafos e da própria autora com a sua produção crescente e continua na rede. Alerto e talvez acalme um e escandalize outros: Não!!! Não será mais problema lhe roubarem aquela idéia infalível, o texto o poema brilhante, mas se você um dia disser algo que ganhe alguns joinhas por ai, herdará o conhecimento e um acervo crescente... como mágica. E rica são todas essas palavras que nunca regressam, após o primeiro momento de sua concepção são independentes já não pertencem a nenhuma assinatura...

Clodomiro Tradição

Dirigido por Lynne Ramsay, adaptado do romance homônimo de Lionel Shriver "Precisamos falar sobre Kevin" faz com que perguntas inquietantes e inatingíveis reverberem ao longo dos 110 minutos da película.

Tilda Swinton é Eva, mãe que precisa falar sobre o filho Kevin autor de uma chassina na escola. No livro, Eva através de longas cartas ao pai de Kevin tenta entender o que teria levado o filho até aquele desfecho. No título: "Precisamos falar sobre Kevin" cabe uma dualidade, ou um duplo direcionamento desta necessidade; são os pais de Kevin e nós, público, sociedade, sobreviventes, especialistas etc. As notícias de constantes assassinatos cometidos por psicopatas ao redor do mundo continua sem explicação, sem nada que justifique, previna ou conforte. O filme de Lynne Ramsay parece não querer apresentar uma nova teoria deste desajuste social e familiar, mas deixa a entender algo ainda mais inquietante a cerca do tema; a maldade por sí mesma, sem próposito, sem culpas ou culpados, como o em dado momento o própio Kevin diz: "Pensava que sabia o motivo, agora não tenho mais certeza", quando é perguntado sobre o que o teria levado a assassinar certa de 7 pessoas.

Diferente de "Tiros em Columbine" de Michael Moore que tenta traçar um perfil de uma sociedade agressiva com incrível facilidade para conseguir armas de fogo, ou "Elefante" de Gus Van Sant que apenas reconta as passos do autores do massacre de Columbine, "Precisamos falar sobre o Kevin" foca na mãe do "vilão" da história digamos assim, se dividindo em três momentos; A gravidez de Kevin, seus primeiros anos de vida até sua adolescencia; flashs de momentos do momento em que Eva recebe a notícia dos assassinatos até presenciar que seu filho fora o autor daquela matança; e a tentativa de Eva reconstruir ou apenas seguir com o que sobrou de sua vida. O roteiro ajuda e de certa forma inclina para reflexões que no entanto não se concluíram com clareza, ficando ainda no ar a pergunta: Por que?

Ygor Moretti

FICHA TÉCNICA
Diretor: Lynne Ramsay
Elenco: Tilda Swinton, Ezra Miller, John C. Reilly, Siobhan Fallon, Ursula Parker, Jasper Newell, Rock Duer, Ashley Gerasimovich, Erin Maya Darke, Lauren Fox
Roteiro: Lynne Ramsay, Rory Kinnear
Fotografia: Seamus McGarvey
Duração: 110 min.
Ano: 2011
País: Reino Unido/ EUA