I.

O peludo caranguejo tem espinhos de rosa
e os moluscos, reminiscências de mulheres.
Sabei ser o que sois, enigmas, sendo formas,
e deixai a responsabilidade para as normas.

Rubén Darío

Félix Rubén García Sarmiento, conhecido como Rubén Darío (Metapa, hoje Ciudad DaríoMatagalpa18 de janeiro de 1867León6 de fevereiro de 1916), foi um poeta nicaragüense, iniciador e máximo representanto do Modernismo literário em língua espanhola. É possivelmente o poeta que tem tido uma maior e mais duradoura influência na poesia do século XX no âmbito hispânico. É chamado de príncipe de las letras castellanas.

Polissia mostra o cotidiano de um departamento de policia especializado em crimes contra crianças, estupros, abusos, pedofilia, abandono e outros. Um drama documental e corajoso, escrito e dirigido por Maiwenn Le Besco que venceu o prêmio do Juri do Festival de Cannes 2011.

Além de escrever e dirigir Maiwenn também atua, faz o papel de Melissa,  fotografa  que passará uma temporada acompanhando o cotidiano dos policiais afim de montar um livro. No entanto, seu personagem pouco colabora ou importa para a história, apesar desse elemento descabido o grande trunfo de Polissia é justamente mesclar a dura realidade com que os policiais diariamente se confrontam com momentos mais amenos de pura rotina e em alguns raros momentos de descontração. 

Pelos vários personagens e tramas paralelas o longa flerta com o esquema de seriado, por outro lado é muito bem amarrado, resolvido sem deixar que a história vá para muito longe do tenso ambiente da delegacia. Há também uma tenue linha documental mas muito sutil que em momento algum se torna didática ou cansativa. Vale ressaltar a coragem de não se desviar do tema ou amenizá-lo de alguma forma, consequencia disso são alguns momentos e imagens bastante fortes. Aqui Maiwenn encontrou um ótimo parametro para contar uma história sem esquecer da denuncia e vice-versa. 

a atriz, diretora e roteirista Maiwenn Le Besco

Propositalmente escrito errado "Polissia" simula a escrita de uma criança, que embora façam parte do universo do longa são tratadas como coadjuvantes, não é nelas que a camera se demora. Com movimentos rápidos entre um personagem e outro o que se quer mostrar na tela são as reações e os sentimentos despertados em cada situação e cada personagem. Por sua vez falta aqui alguém que se classifique como personagem principal que em Polissia é muito mais uma Coisa do que alguém, são sentimentos como o Amor e o Horror, respectivamente presentes em lugares e situações até então impraticáveis.


Ygor MF


Título original: Polisse
Direção e roteiro: Maïwenn
FRA, 2011, Cores, 127 min.
Elenco:
Karin Viard
JoeyStarr 
Marina Foïs
Nicolas Duvauchelle
Maïwenn
Karole Rocher
Emmanuelle Bercot
Frédéric Pierrot


o amarelo
os elos do amarelo
o vermelho
os espelhos do vermelho
o verde
os revérberos do verde
o azul
os nus do azul
os martelos do amarelo
as veredas do vermelho
os enredos do verde
os zulus nus do azul
os brancos elefantes do branco.

Haroldo de Campos


Miles Raymond(Paul Giamatti) desperta de forma intranquila de seu sono, alguém liga em seu telefone, ele está atrasado para aquele compromisso. Faz rapidamente a mala, passa em uma loja de conveniência e compra o jornal do dia, toma um café expresso e pede um croissant de espinafre. Neste inicio de filme podemos perceber que Miles é um personagem no mínimo excêntrico e isso se confirmará ao longo da história mas é na riqueza ou melhor, na sutileza de cada detalhe que Sideways filme do diretor Alexander Payne se mostrará interessante.

Já em seu carro Miles vai à casa de seu amigo Jack(Thomas Haden Church), os dois farão uma viagem de uma semana pelas vinícolas do Vale de Santa Inez, na California. Será a viagem de despedida de solteiro de Jack, que Miles um aficionado por vinhos e escritor frustrado planejou. Porém as reais expectativas de Jack vão muito além de vinhos, golf e papo cabeça com o amigo, essa diferença de valores ou planos fará com que descobertas, conflitos, dramas e alguns momentos de graça perambulem entre os dois. Classificado como Comédia-dramatica, talvez Sideways esteja mais para o drama do que para a comédia, porém com mais uma rica interpretação de Giamatti o filme mostra-se muito maior do que qualquer denominação rasteira pode ofertar.

Não seria exagero ou engano comparar e até mesmo confundir Miles Raymond com um personagem de Wood Allen, intelectual, escritor em crise, depressivo, problemático, tímido e atrapalhado. Miles está preso a um passado recente, com dificuldades para aceitar o divorcio de dois anos atrás. A base de remédios e terapias ineficazes segue buscando e ao mesmo tempo evitando encontrar uma nova pessoa, na verdade incapaz de enxerga-la ainda que esteja bem a sua frente.

A relação dos amigos Miles e Jack também é bastante interessante, pois ainda que amigos de longa data os dois não possuem nada em comum, são exatas contraposições. Enquanto Jack um ator de qualidade duvidosa é sempre reconhecido por fãs etc. O trabalho de Miles jamais é levado a sério, editoras o recusam mesmo reconhecendo sua qualidade, porém como é dito em certo momento: É um daqueles bons livros que não encontra quem o publique. Enquanto Miles um intelectual, profundo conhecedor e apreciador de vinhos e momentos introspectivos, Jack é superficial em seus conhecimentos e princípios, é um aventureiro, simpático mas fútil.

O roteiro escrito por adaptado pelo próprio Alexander é inspirado no romance homônimo de Rex Pickett e a direção é de Alexander Payne de “Os Descendentes” e “Confissões de Schmidt . Mais o destaque técnico de Sideways fica com a fotografia quase a todo instante pode se perceber na composição das cenas a luz e os planos muito bem construídos, como se de fato estivesse sendo construído um retrato. Um tom “amarelado” e belíssimas locações dão a película maior dramaticidade.

Com orçamento de 18 milhões, Sideways foi indicado a cinco Ocars tendo vencido o de melhor roteiro adaptado em 2005.

Ygor MF


O SONO

Amaldiçoados, veneno escuro,
Sono branco!
Este jardim estranhíssimo
De árvores entardecentes
Fartas de serpentes, falenas,
Aranhas, morcegos.
Forasteiro! Tua sombra perdida
No crepúsculo,
Um obscuro corsário
No mar salgado da tribulação.
Esvoaçam pássaros brancos na aba da noite
Sobre cadentes cidades
De aço.

Georg Trakl
A trilha sonora de Drive, longa dirigido por Nicolas Winding Refn percorre caminhos do eletrônico ao erudito, lugares distintos mas com uma mesma carga mórbida. Abaixo dois momentos que lembram o som do grupo alemão Kraftwerk.  



1. Kavinsky – Nightcall (Feat. Lovefoxxx) 4:21
2. Desire – Under Your Spell 3:54
3. College – A Real Hero (Feat. Electric Youth) 4:29
4. Riz Ortolani – Oh My Love 2:52
5. Chromatics – Tick Of The Clock 4:50
6. Cliff Martinez – Rubber Head 3:10
7. Cliff Martinez – I Drive 2:05 8. Cliff Martinez – He Had A Good Time 1:39
9. Cliff Martinez – They Broke His Pelvis 2:00

Veja também a crítica de Drive aqui no Moviemento


Martin (Javer Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala) estão reaprendendo a viver sozinhos. Depois do fim de seus respectivos relacionamentos lutam contra depressões, síndromes aos montes e uma cidade que ao mesmo tempo que os une os mantém separados, desconhecidos. Bateria de remédios e a própria solidão são armas usadas nessa batalha. Tratamentos ineficazes contra o “vilão” da história; a arquitetura desordenada da cidade que segundo Martin é a principal culpada pelos males sociais e pessoais dos grandes centros urbanos.

Enquanto não se encontram, escutam a mesma música, se emocionam com o mesmo filme, percorrem o mesmo caminho e principalmente procuram a mesma coisa. Mas não se acham, não se percebem em meio ao caos da cidade que os cega.

Dirigido por Gustavo Taretto, Medianeras foi premiado no Festival de Gramado e no Festival de Berlim. Segundo o diretor o tema do longa é a cidade sendo a solidão um dos males desse lugar que atinge especialmente Martin e Mariana. Tal contexto poderia resultar num drama pesado e tenso, mas não é o que acontece. Num ritmo agitado e divertido somos levados pelo pensamento dos personagens a cerca de sua situação e a impressão que eles têm da cidade, das pessoas e de convenções sociais como: Internet, trabalho, relacionamento, arquitetura e muitos outros temas que invariavelmente chegarão ao público com muita simpatia e identificação.

A linguagem do longa é moderna e ágil. Animações e recortes enfeitam a narrativa, não apenas esteticamente, mas colaborando para a construção do contexto, numa chuva bem organizada de informações. Medianeras investe num estudo, ou melhor, num retrato contemporâneo dos “novos adultos”, sujeitos adaptados as novas tecnologias mas com hábitos ou lembranças de tempos anteriores. Jovens que, recentemente, conquistaram sua independência e precisam agora enfrentar as complicações desse feito.

Os atores Javier Drolas e Pilar López de Ayala, sustentam toda a história como se estivessem num diálogo direto e constante diminuindo a importância de tudo ao seu redor, fazendo dos sentimentos e pensamentos de seus personagens a ferramenta ideal para traduzir seus dramas e contar suas histórias.

Ygor MF

Originalmente publicado no O Cinemista
Victor Camundongo

Resposta ao Sr. Henrique Vila Matas que aqui nesse espaço me dirigiu essas palavras: Ao Sr. Victor...

Concordo com o Sr. quando diz que indiretamente estou escrevendo poesias, na verdade é uma poesia direta, pura e franca sobre O POEMA que quero e concordando mais uma vez com o senhor talvez nunca escreva.

Penso sim que há sempre um motivo, um obstáculo para que aquele poema ainda não seja escrito, hoje foi pela necessidade de responder aos seus comentários, por outro lado, temo que o motivo principal e recorrente seja a distância de nos mantemos diariamente de tudo que é poesia. Nublados, impedidos de ver AQUELE POEMA que nos faria sorrir e chorar. Não mais aleijados das mãos ou da boca que talvez pudesse declamar aquele poema e muito menos surdos pois queremos ouvir aquele poema. Lamento então o decreto da nossa morte cega porque estamos incapacitados de ver AQUELE POEMA...

Mas eis que nós poetas para a alegria e maldição de todos ou apenas nós mesmos, permaneceremos incessantes e esporádicos perseguindo o poema. Assim a minha ânsia por esse dia só não é maior que o meu temor de como será o dia seguinte quando enfim escrever AQUELE POEMA...

Victor Camundongo 



Trabalho do curso de Design Editorial da Escola SP 
Seu Nome - poema de Fabrício Corsaletti


A MULHER DE LOT

A mulher de Lot, que o seguia, olhou
para trás e transformou-se numa estátua de sal.
                                                          Gênesis

      E o homem justo seguiu o enviado de Deus,
      alto e brilhante, pelas negras montanhas.
      Mas a angústia falava bem alto à sua mulher:
      "Ainda não é tarde demais; ainda dá tempo de olhar
      as rubras torres da tua Sodoma natal,
      a praça onde cantavas, o pátio onde fiavas,
      as janelas vazias da casa elevada
      onde destes filhos ao homem amado".
      Ela olhou e - paralisada pela dor mortal -,
      seus olhos nada mais puderam ver.
      E converte-se o corpo em transparente sal
      e os ágeis pés no chão enraizaram-se.
      Quem há de chorar por essa mulher?
      Não é insignificante demais para que a lamentem?
      E, no entanto, meu coração nunca esquecerá
      quem deu a própria vida por um único olhar.

      Ana Akhmátova
Clodomiro Tradição
Heiiiiiaaaaaaa!!!! Eis-me aqui mais uma vez agora essa gritando o "Heiaaaa" não como marca do meu cumprimento mas como onomatopéia para parar o jumento que carregava até aqui... Este transito de São Paulo... Esta violência de São Paulo... Esta poluição de São Paulo, essas motocas, esses peruas, essas urnas eletronicas todas defeituosas... Heiiiaaaaa paremos tudo por aqui...

Mas acontece que numas das minhas andanças (obrigatórias) pela cidade (porque se pudesse não tirava as minhas pantufas do pé e a minha cara de dentro do casulo), percebo: camelos nas ruas aos montes, lhe perseguem, seguram, bulinam e lhe passam a perna (literalmente também). E nos "confortos" dos lotações lá estão eles... Apesar dos pesares nada contra (Juro!), até criei o habito de comprar amendoins torrados (2 a 1 real). Mas até isso essa cidade ou melhor serei justo com esse lugar que não gosto.., este mundo quer me roubar! Ora coisas!!! 

Estava eu lá com meus trocados, moedas que garantiriam amendoim pra semana toda e quando quase estendia a mão para o ambulante dos comunitários me aparece outro vendedor, esse vendia a miséria da sua vida. Muito mais barato que os "peanuts", cinco dez centavos e eu poderia comprar dezenas de ações de sua pobreza. Vendo o meu impasse então o menino do amendoim aumentou a oferta: 

- Três por 1 pra acabar hein pessoal!!!

E lá fomos todos nós, com sorrisos amarelados, dentes sujos e contentes... Contentes por bater a meta do dia nas vendas e miseráveis como sempre...

PS: E acima de todo julgamento deixo aqui uma vaia pra outros vendedores do mundo da rua:

Uhhhhh pra malabarista desajeitados dos faróis!!!
Uhhhhh pra poetas ruins da av. Paulista Uhhhh!!!

Clodomiro Tradição





Uma épica conclusão... Com essa expectativa que Batman The Dark Knight Rises foi esperado e nas mãos do diretor Christopher Nolan concluído com êxito.

Oito anos se passaram, Gotham enfim encontrou a paz e para o bem desta Batman saiu de cena acreditando que sua missão foi cumprida, também por isso Bruce Wayne vive recluso em sua mansão, atormentado pela morte de Rachel Dawes da qual se sente culpado. Num raro momento social da reclusa vida de Bruce Wayne, Selina Kyle (Anne Hathaway), uma habilidosa ladra sugere que um grande mal se aproxima da cidade. Ela está falando de Bane, um mercenário terrorista que trama um plano apocalíptico para acabar de vez com Gotham City. Os anos fora de ação, problemas com a Wayne Enterprises e sobretudo a força descomunal de Bane dificultarão e muito a missão do Homem Morcego.

A trilogia se inspira em três momento dos quadrinhos; Knightfall (1993), The Dark Knight Returns (1987), Terra de Ninguém (1999). Christopher Nolan anexou sua visão sombria ao já gótico mundo de Batman e recriou esse mundo dando-lhe um ar realista, amarrando  persongens, roteiro, direção, efeitos especiais em uma trama coesa e convincente. Aliado a habilidade do diretor, um elenco fortissimo ao longo dos três filmes; Christian Bale, Katie Holmes, Michael Caine, Liam Neeson, Morgan Freeman, Gary Oldman, Heath Ledger, Aaron Eckhart, Maggie Gyllenhaal, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt, Anne Hathaway e Marion Cotillard elevou a sequência a uma saga memorável do universo Cinema-HQs.




Site Oficial

Ygor MF


























BÉLA TARR

A Torinói Ló

teu filme
é uma foto

que para o vento
acena

um lance
de claro-escuro
e carbono

as cenas
como cinzas
apenas

no tempo
se espalham.

Israel Azevedo