RETRATO DE MULHER – SÉCULO XIX

A voz sufocada no vestido. Os seus olhos seguem
o gladiador. Então, ela mesma aparece , altiva,
na arena. Será livre? Uma moldura dourada
segura o retrato, no cavalete.

Tomas Tranströmer

Um caminhoneiro solitário e rabugento conhece um garoto alegre e bondoso com quem vai aprender coisas valiosas sobre a vida...

Não poderia haver tema e contexto mais clichê no cinema certo? No entanto, “À Beira do Caminho” novo filme do diretor Brenno Silveira de “Gonzaga – de Pai pra Filho” (2011) e “2 Filhos de Francisco” (2005), arrisca-se bem próximo ao lugar comum de um tema bastante repetido, em outros momentos abusa de sentimentalismos, mas com atuações pontuais e convincentes do ótimo João Miguel e do garoto Vinicius Nascimento, não se queima por completo e sobrevive como um bom título agora disponível nas locadoras.

Após contar a história da dupla sertaneja Zezé Di Carmago e Luciano (2005) e de Luiz Gonazaga (2011) em seus filmes anteriores, o diretor Brenno Silveira conta-nos a história de João (João Miguel) e suas viagens pelas estradas brasileiras. Se nos longas anteriores os personagens eram músicos famosos, dessa vez o personagem é um homem comum, mas a MPB está presente no novo filme do diretor, as canções de Roberto Carlos são em “A Beira do Caminho” quase um personagem, ao lado da belíssima fotografia do filme, grandes planos que mostram a solidão do sertão e das estradas, pontuam o ar melancólico que os personagens carregam.

A história tem início quando certo dia enquanto João escuta barulhos na caçamba de seu caminhão, enquanto atravessa uma estrada deserta. Com uma arma na mão vai averiguar quando assustado se depara com um garoto escondido no veículo. Assustado o menino pede à João que não atire e nem o deixe no meio daquele nada. Piedoso ainda que bastante relutante João aceita a situação e decide levar o menino até a próxima base militar, porém, quando chega no lugar o guarda de plantão não permite que ele deixe o garoto por ali e o instruí a leva-lo até a delegacia numa próxima cidade. Chegando lá o delegado da cidade está de férias e mais uma vez o garoto volta para a cabine do caminhão. Assim o que era uma carona curta se transforma numa longa viagem à São Paulo onde João vai fazer um entrega e Duda vai tentar encontrar o pai de quem sabe muito pouco, apenas o que diz o endereço numa foto antiga.

Nessa viagem o que era mais do que previsível se cumpre, aos poucos surge entre os dois uma cumplicidade que derruba o que antes era distância e aversão. Essa transformação porém, é demonstrada através de várias cenas clichês e em certos momentos até piegas, em contrapartida mesmo tendo nas mãos um texto raso, a dupla de atores consegue evitar que o longa caia numa mesmice desinteressante. Escolhido entre mais de 800 garotos Vinicius Nascimento consegue dar o tom de doçura, rebeldia e tristeza que seu personagem pede, sem torná-lo caricato ou mesmo chato. Já João Miguel depois de suas várias e ótimas atuações desde “Estômago” (2007) e “Cinema, Aspirinas e Urubu” (2004) aos recentes “Xingu” (2012) e “Gonzaga de Pai pra Filho” (2011), repete em “A Beira do Caminho”, mais uma atuação convincente, principalmente por nunca haver força demais em seus gestos e expressões, a força que caracteriza seus personagens vem da simplicidade daquilo que é natural e verdadeiro. Completando o elenco; Dira Paes e Ângelo Antônio tem passagens curtas e boas.

Quanto a direção, diante do enredo previsível, Brenno Silveira não se esforçou para esconder isso, acertadamente diga-se de passagem, pois trabalhando com o que tinha em mãos conseguiu bons resultados; inserindo flash–backs sobre o passado de João que deram mais vida a história “meio manjada”, por outro lado como se fossem vinhetas surgem de tempo em tempo frases de rabeiras de caminhão e noutros momentos as cenas são mais demoradas e lentas, o que neste caso é um acerto, pois condiz com o ritmo da história e o contexto em que estão os personagens.

Por fim, nota-se que ao depara-se com uma história de ficção, onde as possibilidades eram maiores, o diretor Brenno Silveira demonstra ainda algumas manias ou resquícios de características das outras produções, ao mesmo tempo, parece já anunciar algum crescimento deixa boa expectativas para seus próximos trabalhos.


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Assistindo o programa Sr.Brasil, da TV Cultura, apresentado por Rolando Boldrin, conheci a história do artesão Zé Monteiro, que descobriu a arte na terceira idade, e hoje compartilho com você um pouco dessa transformação que a arte realizou. 

Em 2004, problemas cardíacos deixaram o caminhoneiro de Arcoverde desenganado pelos médicos. Mas com fé, ele recuperou a saúde e o contato com o artesanato foi o “remédio” encontrado pela família para que ele ocupasse o seu tempo, já que dirigir ele não poderia mais. Foi lapidando madeiras que Zé Monteiro reviveu a infância do Sertão. Criando quadros de forma bem primitiva, sem técnica e recheado de cores, ele deu vida aos retirantes e personagens do interior pernambucano. E foi o seu traço simples que encantou Roberto Rugiero, pesquisador e especialista em arte popular brasileira, que levou boa parte das suas peças para a Galeria Brasiliana, em São Paulo. "A arte de Zé Monteiro é inspirada na vida do povo nordestino.

É a história dele. E era isso que o Rugiero estava procurando. Assim que ele viu as peças de papai, comprou todos os quadros. Até então, todas as suas pinturas ficavam em casa", explica Lúcia Monteiro, artesã e filha do artista plástico. Da sua produção local, num simples ateliê em Arcoverde, a arte de Zé Monteiro chegou a exposições no exterior, em países como França, Alemanha, Estados Unidos e tambémfoi contada no documentário Zé Monteiro, o homem que venceu cinco mortes, do cineasta Wilson Freire. O interesse pelo tema, somado ao desejo da família em expor o legado do pai, foram essenciais para a produção do documentário de 20 minutos. "Gosto muito de fazer os meus bonecos.

Agora mesmo fiz uns dez São Franciscos. E me senti bem, muito satisfeito, ao ver o filme que fizeram", canta Zé Monteiro. O documentário é narrado em cordel, com textos de Wilson
Freire, e usa as imagens do artesão na Fazenda Dezerto e de suas inúmeras obras, misturando o que há de mais tradicional na literatura pernambucana. "O tempo que Zé
Monteiro retrata não é o presente, mas o passado. O cangaço, a seca, Luiz Gonzaga. Não tínhamos imagens animadas, vivas, documentais sobre isso. Veio a ideia: ele próprio vai ser o fotógrafo e o cineasta das suas próprias imagens", afirmou Wilson Freire. 

Marcelo Andrade é jornalista na produtoramc e escreve sobre arte e cultura no portal artenomovimento.com.br e colabora com o Moviemento.

O longa Cosmópolis marca o retorno do diretor David Cronenberg aos filmes que definiram sua personalidade de cineasta, como Crash – Estranhos Prazeres, de 1996, ou Videodrome, de 1983. O longa tem o mesmo estilo e, principalmente, a mesma força que marcaram sua carreira.

Leia a Crítica completa no Cenas de Cinema




UMA ARTE

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

Elizabeth Bishop

Colaboração de Israel Azevedo

Nosso parceiro e colaborador Marcelo Andrade, que escreve o artenomoviemento.com.br e é jornalista na produtoramc.

Olá amigos do Moviemento. Tudo bem? Hoje vamos mergulhar no universo da arte e perceber o seu poder de transformação. No comando do Projeto ArtenoMovimento, idealizado em 2010 para valorizar o dom brasileiro, sou surpreendido com frequência devido
o poder de transformação que a arte executa, principalmente nas mãos dos criativos brasileiros.

Outro dia, via Facebook, conheci a fotógrafa Renata Kelly de São Paulo. Ela criou um projeto interessante que transforma a tristeza dos cemitérios em beleza. “A ideia surgiu na sala de aula quando eu estava perdida em várias ideias, onde nenhuma me dava muito prazer em realizá-las. É estranho, mas encontrei este prazer nas artes cemiteriais quando
comecei a pesquisar e ver as referências fotográficas. Quero mostrar as belezas e a criatividade que temos dentro dos cemitérios, que para algumas pessoas pode parecer estranho e medonho, pois é um local que causa estranheza, um local de sofrimento, mas que atrás da dor há um sentimento também, há uma arte escondida, onde quero revelá-la. 

Este projeto tem como intuito também, valorizar os artistas e suas obras que são tão ricas
e passam despercebidas por muitas pessoas. Valorizará também nossa cultura e sociedade, que sempre estão em busca de algo novo e diferente. Acredito que este projeto será fonte de inspiração para as artes de nossa cidade.”, explicou Renata Kelly. Batizado de PROJETO A ARTE ESCONDIDA, a iniciativa de Renata Kelly está disponível no Facebook, através de um álbum de fotos que ela criou. Vale a pena conferir e se surpreender com o que há escondido nos cemitério.

Marcelo Andrade é jornalista na produtoramc e escreve sobre arte e cultura no portal artenomovimento.com.br e colabora com o Moviemento.
capa da última edição da revista

Após análise de seu portfólio a editora Abril anuncia o fim das revistas Alfa e Bravo. Basicamente pela baixa venda de exemplares e pouco interesse dos grandes anunciantes lá se vão dois ótimos veículos de informação, bons textos e conteúdo diferenciado e acessível.

Bravo lançada em 1997 se propunha a ser um radar do mundo cultural e artístico, trazia o que havia de melhor no mês. Cinema, literatura, artes plásticas, teatro e dança e música. Sempre com ótimos textos que sem o bla bla bla acadêmico tornava o mundo das artes mais instigante. Dando espaço para o novo, o alternativo sem esquecer dos clássicos ou tradicionais. 

A revista lançou periodicamente numeros especiais como "100 Livros Essenciais", "100 Contos Essenciais", "100 Filmes Essenciais", além de números homenageando nomes do cinema e das artes em geral e cidades do brasil, como Bahia e Ceará.

Além de um conteúdo de qualidade, graficamente a revista também era bastante diferenciada, com um design limpo e belo, ótima diagramação de textos e fotos sempre bem exploradas, a revista servia tanto para informar quanto para inspirar.

Particularmente, pra mim a revista sempre foi um parâmetro do que há de melhor para ser ver nos cinemas, nas livrarias, palcos, teatros e museus. Freqüentemente Bravo apresentava um novo artista, saía do obvio que era reproduzido e repetido na mídia de forma geral. Espaços como "Primeira Fila" ou "Apostas de Bravo" focavam o que havia de novo na cena cultural.

Com um texto sempre rico e prático, simples e bem escrito Bravo era única no mercado nacional, nunca elitista e jamais vazia ou superficial, mais do que uma revista, um radar, um incentivador, propulsor da cultura no país.

O Moviemento lamenta essa perda e agrade por todos esses anos de inspiração e informação, mais do que uma salva interminável de palmas... a Revista merece gritos e mais gritos de: Bravo! Bravo! Bravo!

Abaixo algumas capas da revista e um número em especial onde uma carta minha foi publicada.



Carta que enviei à Revista reclamando do corte de uma seção de ficção e de novos talentos, na mesma carta (que foi editada) elogiava o novo design da revista que sempre se manteve linda.

Leio Bravo desde a minha adolescência, foi Bravo quem me fez buscar novos diretores de cinema, novos livros, exposições. Bravo era aquela amigo com quem se podia falar sobre cultura, cinema e literatura... Pode parecer exagero, mas fará falta, muita falta...

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É famosa a expressão que diz: Não se deve comprar um livro pela capa. Certa ou errada há no meio do design de livros quem diga que: Se um livro não consegue chamar a atenção pela capa, provavelmente não despertará interesse pelo conteúdo. Porém se nos distanciarmos desses extremos, veremos que ótimos livros podem estar escondidos através de capas simples(por razões de baixo orçamento ou pouca preocupação com a parte gráfica do livro), e em contrapartida livros com capas bem trabalhadas, acabamentos diferenciados, vernizes, sobre-capas, embalagens e outros, podem literariamente falando não ser de grande qualidade.

Contudo, é fato que, sendo criaturas extremamente, visuais e escravas da estética, o fator capa, pode e de fato nos chama muito atenção. Se pensarmos no espaço de uma livraria com milhares de títulos disputando a nossa atenção, uma capa bem pensada e trabalhada atua como uma enorme vantagem nessa disputa. Enquanto os olhos vagueiam pela prateleira nossa atenção pode ser fisgada por um título que normalmente não nos chamaria atenção. Não raro profissionais do design e interessados em arte tem como costume comprar sim, livros pela capa. Seja para inspiração, coleção ou mais uma referência, neste caso a capa do livro mais uma vez mostra sua importância (sabendo contudo, que não será esse público que vai garantir as boas vendas do livro).

Sendo assim, como já foi dito: A capa do livro é a síntese do conteúdo do mesmo na visão do designer, editor e autor. Pois embora cada um tenha uma experiência e expectativa diferente acerca desse trabalho, é imprescindível a conversa, o briefing e o alinhamento de idéias para a realização do trabalho, tendo em vista é claro que para as grandes editoras que custeiam o projeto o que mais vale nesse diálogo é mesmo a voz do editor e as expectativas comerciais do livro.

Veja em meu portfólio pessoal alguns de meus trabalhos http://www.behance.net/ygormoretti ou através da Capitular Design

Texto originalmente publicado no http://www.superquadranews.com.br/ e no http://artenomovimento.com.br/

Nosso parceiro e colaborador Marcelo Andrade, que escreve o artenomoviemento.com.br e é jornalista na produtoramc.

UM KAIRÓS PARA LITERATURA

Eu sou apaixonado pela literatura de Jesus Cristo e recomendo a leitura da bíblia até para os ateus. Porque do ponto de vista literário, os evangelhos são fascinantes, com personagens surreais e um peso cultural tremendo. 

Pela ótica do jornalismo, a literatura de Jesus Cristo também impressiona porque mesmo escrita ao longo de vários anos, os diversos testemunhos descrevem a mesma essência do personagem principal: Jesus de Nazaré. E lendo Kairós, o novo livro do Padre Marcelo Rossi, percebemos que os milagres que Jesus realizava (e realiza) eram simples, ultrapassavam o raciocínio humano e transbordavam sabedoria e poder. A obra de Rossi também apresenta pequenas histórias de grandes personagens da bíblia, que foram transformados e curados
quando conheceram Jesus. Há até aquele história da água que virou vinho...

Com um belo prefácio do Padre Fábio de Melo, Rossi revela a existência de dois tempos: o nosso (Khronos) e o de Deus (Kairós), e tenta provar que respeitar o tempo do Criador é o segredo da prosperidade. De fácil leitura, e sem aquela demagogia de auto-ajuda, o livro
também oferece pequenas orações, que provocam o leitor para uma conversa direta com o Criador. Leia sem moderação. 

Marcelo Andrade é jornalista na produtoramc e escreve sobre arte e cultura no portal artenomovimento.com.br e colabora com o Moviemento.