Olá leitor fantasma que está por aí!!!
Esse post já passou por aqui mas de forma incompleta, agora deixo aqui mais de um exemplo, mais de uma tentativa de descrever um personagem utilizando as características, jargões e palavras de um nicho específico. Desde já fica também o convite ou desafio pra que façam o mesmo; descrever um personagem usando das característica de sua profissão ou condição...

I

Eu não conheci o meu pai...  Seu rosto, aparece sempre desfocado, com um blur bem no meio da cara. Dizem que sou o seu ¾  duplicado. Sendo assim a descrição que faço é muito mais intuitiva e amargurada.
Um tremendo dum irresponsável isso sim! Aventureiro  e determinado, admito. Digo isso pelos registros de suas fotos, lugares mais exóticos e distantes, entre traficantes, tribos indígenas, povos do deserto e terroristas, animais e o completo nada das regiões geladas.
Você deve ser comunicativo e alto, talvez venha daí também o fato de eu ser essa girafa tímida. Mas você conseguiu se aproximar das pessoas para fotografa-las de perto em sua intimidade, olhando sempre para o alto com o pescoço esticado e queijo erguido.
Mas então por onde anda o seu campo de profundidade, a abertura do diafragma da sua maneira de ver e viver a vida, que nos deixa assim, como borrões desfocados mais ao fundo? Se esse pensamento fosse uma carta ou texto num cartão postal,  teria uma observação abaixo da linda fotografia:

Não apareça! Pois por aqui o teu filme está completamente queimado...


II

No reflexo do espelho tentava identificar o GRID em que foi baseado a construção de seu rosto. - Talvez modular. Pensou, buscando explicações para cada um daqueles elementos bem destacados, respeitando um alinhamento justificado que deixava tudo bem ajustado porém, fazia também com que olhos e bocas parecessem esticados. Com o cabelo tentava quebrar a monotonia de toda aquela harmonia, provocando contrastes com suas linhas finas e contornos desiguais. Mesmo assim, o layout do seu “cartão de visita” era aquele, normal, que no entanto, aos prestarmos mais atenção encontraríamos diversas irregularidades, constatando que a assimetria da natureza reinava por ali. Mais poderosa até que a proporção áurea que coexistia nos melhores trabalhos gráficos, baseados em briefing bem descritos. - Ah se pudesse usar os filtros do Photoshop, ferramenta clone para limpar espinha, Blur, Radlaby, Sponja e outras ferramentas para amenizar sardas e manchas da pele. Lamentava num pensamento silencioso e estridente dentro de sua cabeça. Contudo, em relação a sua palidez e a cor de seus cabelos, aqueles pequenos pontinhos magentas completavam a tríade em sua paleta de cores.  
Mas não só os programas gráficos poderiam dar jeito em sua pessoa, pois seus gestos e movimentos eram itálicos e sua voz minúscula. Sonhava com o dia em que suas frases fossem formadas por fontes bold e tivessem o peso de palavras em CAPS LOCK, mas que fossem também belas e únicas como uma tipografia baseada em movimentos de pincel.
De todo modo precisaria de muito mais esforços e um redesenho de seu logotipo. Como primeira ação deveria largar aquelas roupas e o habito de vestir-se sempre em tons de cinza,  para mergulhar no mar da possibilidades CMKY, retocar a tatuagem como um verniz localizado para assim comunicar-se, ser inserido no mundo onde ultrapassariam sua carcaça, capa e contracapa atraindo assim todos ao seu redor para conhecer os tesouros de seu verdadeiro conteúdo.



III

Tinha os olhos dum azul mais do que artificial, numa escala industrial de CMKY, sendo composto por  92% de Ciano, 71%  de magenta, 0 Yellow e 0 black. Era a formula “mágica” que deixavam aqueles olhos tão lindos e desconfortáveis de encarar frente a frente.
O rosto num grid modular tinha cada elemento bem destacado, boca, olhos, nariz e todas as outras partes da face sem nenhum conflito, no máximo no contraste desejado para um layout perfeito, clean e legível.
O tom de pele perfeito tratado em photoshop, ferramente clone, filtros de instagram, deixavam até mesmo as sardas como a terceira parte da tríade de cores, essa destinada aos detalhes, eram verniz localizado aplicado ao rosto.
Em contraste a todo esse equilíbrio estético, quando se movimentava revelava um caminhar itálico, devido a um problema de nascença na cintura. Também por conta disso, seus gestos eram minúsculos, um manuscrito tremido e atabalhoado, que não deixavam transparecer sua confiança e personalidade segura, forte, Bold.
Dessa forma com todos esses constrastes, entre uma bela capa e uma surrada contra-capa, poucos davam-lhe oportunidades, folheavam suas páginas e alcançavam seu real conteúdo, distribuído em estrofes e capítulos sedentos de visitação.

Direto do Cinecult , Cinemista, crítica de A Bela da Tarde, com Catherine Deneuve e direção de Luis Bunuel.


Um casal apaixonado, uma esposa linda e recatada, um marido presente e atencioso, essa é a impressão que temos de Séverine e Pierre Serizy durante os primeiros segundos de “A Bela da tarde”, enquanto os dois passeiam numa carruagem aparentemente de forma romântica. Minutos depois o marido ordena que a carruagem seja imediatamente parada, arrasta a mulher para dentro da mata e pede ao cocheiros que à amarrem numa árvore e comecem a chicote-la para depois abusar sexualmente da esposa. Mas calma, tal brutalidade não passou de um sonho, de um devaneio de Séverine (Catherine Deneuve), uma moça tímida, de uma sensualidade contida mas que mesmo assim desperta o desejo dos homens e a curiosidade das mulheres.


Em seus pensamentos mais recônditos Séverine alimenta estranhos desejos sexuais e um profundo descontentamento com os prazeres que o marido pode lhe proporcionar. Quando tem conhecimento da existência de um discreto bordel de Madame Anaïs, Séverine dá inicio a busca da realização de suas obsessões. O endereço Cité Jean de Saumur, nº 11, ressoa em sua mente, ainda que temerosa Séverine mergulhará enfim num mundo que lhe é totalmente avesso as suas convicções sociais, deparando-se com personagens e situações bizarras que no entanto, não a assustarão mais.

Essa é a história de “A Bela da Tarde”, que segue com um clima de surrealismo e suspense, talvez essa a maior qualidade do trabalho do diretor Luis Buñuel, imprimir tal clima surrealista de forma discreta, nas pequenas coisas, nos pequenos gestos e olhares dos personagens. A sensação é a de que em todas as cenas, algo vai eclodir na tela, uma situação ou um desvario virá a tona. Se as coisas realmente acontecem ou são apenas desejos íntimos de Séverine ou mesmo de Pierre seu marido, tudo permanece num leque de opções que o roteiro apresenta. Assim, mais do que um drama surreal que se “explica” e se utiliza de tal característica “A Bela da tarde” soa melhor como um intrigante drama psicológico, vivido por um personagem atormentado por estranhos desejos secretos.


A atuação de Catherine Deneuve corresponde à complexidade de sua personagem, a atriz compila gestos e olhares dúbios que a todo instante confundem ou escondem sua verdadeira personalidade. O filme ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e teve uma “continuação” filmada em 2006 “Sempre Bela” onde um homem 38 anos depois reencontra a esposa de um amigo, que se prostituía. Antes de filmar A Bela da Tarde, a atriz Catherine Deneuve interpretou outra personagem com sérios distúrbios sexuais em “Repulsa ao Sexo” (1965) de Roman Polanski. No longa, Catherine é Carol Ledoux, uma bela mulher que é sexualmente reprimida e vive com sua irmã mais velha. Ela constantemente resiste aos assédios do seu namorado e também desaprova o amante da irmã. Quando esta viaja com ele em férias, Carol fica sozinha no apartamento e se afunda em uma profunda depressão, passando a ter várias alucinações. Reza a lenda que a atriz teria “ganho” seu papel em “A Bela da Tarde” após o diretor ver sua atuação em “Repulsa ao Sexo”.


Alguns desses contos já foram publicados aqui, mas esses são "ineditos" já que foram "melhorados".
Gosto muito dos Mini-Contos ou Micro-Contos, são um ótimo exercício de compressão de idéias, ritmo e acontecimentos,cabendo o sucinto e o poético no mesmo espaço. Servem também para testar histórias, ou livrar-se delas em poucos caracteres. Obviamente de algumas você não vai se livrar pois vão pedir mais e mais, então o micro vai virar, mini, depois conto e até um romance ou roteiro. 
Já aconteceu, de um poema virar conto, e agora estar em processo de virar romance, mas isso é outra história...  


Das possibilidades de um olhar magnético

E se antes eu sentia repulsa, nojo e ódio daquele ser, segundos depois do feito, fui alcançado e invadido com opressão por outros sentimentos. No entanto esse novo sentido não tem nada de terno, mas uma absurda ligação como se dum momento a outro me tornasse gêmeo siamês de um inimigo.
Antes, só fúria e coragem para esmurra-lo, porém, quando o soco adversário me acertou em cheio, fui tomado de certeza, o rosto inchado pulsando e o sangue já descendo pelo supercílio me confirmavam a permissão para o crime.
Saquei a faca e o imobilizei ainda certo das minhas intenções. Enquanto a ponta da arma pressionava seu corpo, nenhuma hesitação me confundia. Mas... Com a força continua do golpe lento sobre a carne... O aço atravessou as roupas, a pele, as fibras e camadas de gordura, atravessando o interior do corpo como se fosse um vácuo, só parando ao chocar-se com a costela e já atingindo o chão debaixo de nós.
O suspiro fraco e a morte instalada foram como a conclusão de um exorcismo, apagando do rosto toda arrogância, trairagem, e outros tantos feitos daquele tremendo filho da puta. Agora uma vítima pacata, serena, nem mais sua hipocrisia e canalhices me davam nojo outra vez.
Não existe o arrependimento moral, mas o peso da maldição, ou melhor, da consequência  de ser a última visão de vida daqueles olhos, e ter naquele corpo o feito mais significativo da minha vida.  Se de fato passa um filme em nossa frente ao morrermos, àquele longa tinha o meu rosto como marca d’água, ou a minha assinatura como co-roteirista. E agora, como uma mancha, uma sujeira que não quer sair, vive impregnado em mim.

Santana

Santana não se abalava com o sorriso que via nos outros, e que esses outros direcionavam a terceiros. Não se importava tanto nem tentava imprimir em sua boca dura algum sorriso forçado. Pois sabia que a felicidade está inserida também nas bocas sérias, curvadas para baixo com lábios rachados e sobre tudo, no seu caso, a felicidade estava expressa abaixo e entre o seu enorme bigode e em suas lembranças de General.

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Ah... A Felicidade... Santana a via refletida em tudo, inerente inclusive aos momentos tristes, eram todos repletos de uma felicidade que apenas Santana acreditava de forma inabalável... Usar aquele vestido era outra forma de incutir o seu corpo todo de felicidade.
Sabia Santana que o ato de usar seu vestido era incutir o seu corpo todo de felicidade. Até mesmo a lembrança de velhos vestidos que ela perdeu, estavam imbuídas de felicidade, o tecido envelhecido ou a cor démodé, eram para Santana, representações vívidas de pura felicidade.

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Observavam os moradores, como Santana estava crescendo, agora inclusive tinha Shopping Center, e transito infernal, diziam os outros pessimistas, moradores mais velhos que gostavam do bairro a moda antiga, casas e alguns poucos comércios, cujos donos eram os próprios moradores de Santana, um lugar incerto onde a felicidade pairava no ar, podia sentir o seu cheiro, mas logo em seguida ia embora empurrada pelo vento.


A incrível história do homem que desistiu de viver...

Era uma vez um homem que desistiu de viver... No entanto, não se jogou da ponte, nem tomou veneno ou deu um tiro na têmpora, embora o som da palavra cicuta lhe agradasse aos ouvidos, e também lhe fazia lembrar daquele filósofo com nome de jogador. E assim um misto de dó e dor faziam com que ele gostasse ainda mais daquele homem, mais do filósofo do que do jogador, já que este último nunca defendera as cores do seu time de coração.
Um pequeno homem, diziam sobre o filósofo, baixo e feio diziam as más línguas dos historiadores. Como Jesus Cristo foi acusado de corromper a juventude com suas ideias. Fato é, que todos esses homens, nenhum tinha desistido de viver, mas ele sim tinha.
Alguém lhe disse que; desistindo de viver, ele se transformaria em uma pessoa extraordinária. Não extraordinário de bela, maravilhosa exemplar, mas fora da ordem, fora do normal, do que os outros acham certo e maravilhoso. Desistindo ele estaria  fora da luta bravia e rotineira “Que só os fortes aguentam”, diziam com olhos fechados e dedos em riste como se apontassem aos céus.

Mas ninguém entendia que desistir não era ficar trancafiado numa sala vivendo sobre a cama. Nem jogar-se dum alto prédio ou na frente do trem. Muito menos que todas essas possibilidades, com uma admirável destreza de não fazer mal a ninguém, nem mesmo a ele. O Homem tinha desistido de viver, mas continuava a pagar suas contas, ia ao trabalho, subia escadas, trocava ou comprava novas roupas e lavava a calçada aos finais de semana, tudo o que as outras pessoas cheias de vida faziam, mas ele... tinha desistido.

Num exercício proposto na Clipe - Casa das Rosas, a idéia era comparar a construção de um poema a alguma tarefa qualquer, algum ato rotineiro, como o celebre Catar Feijão de João Cabral de Melo Neto.

Minha comparação foi o quebra cabeça, a escolha de uma peça pra cada espaço, da mesma forma que o poema precisa de cada palavra no espaço, no ritmo na sequência certa, apesar do certo e errado, ideal ou não na escolha das palavras ser algo muito subjetivo e limitado ao poder de cada autor. Existe sim sempre a procura para ocupar aquele vazio. 

Mãos estáticas diante do vazio,
Infinito em centímetros onde dormem mil possibilidades,
Vácuo que reclama a coisa que lhe falta, 
sem saber o que lhe caberá.
No entanto, já existe o espaço do incompleto,
Já existe a ausência que não dói nem corrói,
Ausência branda de elemento, física, 
intransponível, suportável.
Paralelo o poema permanece estático,
Vai se construindo de cada resto do nada,
Se incorporando de cada espaço vazio do quebra cabeça.

Ygor Moretti

Catar Feijão

Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.

João Cabral de Melo Neto

Mais um projeto concluído, capa de livro para editora Vozes.
Dessa vez trata-se do livro do autor sueco Henrik Fexeus, autor do best seller A Arte de Ler Mentes

O briefing pedia algo bem chamativo, e que o titulo que por sí só já é intrigante, ficasse bem claro. As cores usadas são cores que se aproximam de sentimentos de ansiedade, intriga, elementos psicologios e mentais.

Evitando elementos mais obvios como imagens de cérebro etc chegamos a esse resultado que tanto no cirtual quanto no impresso ficaram muito bons.

Aqui encontrei com o livro numa livraria, emoção sem igual... 
Eis a resenha:

Do mesmo autor do best-seller "A arte de ler mentes", Henrik Fexeus fala agora sobre a influência e sobre como podemos lidar com ela. Segundo o autor, do momento em que abre os olhos pela amanhã até quando vai dormir você está exposto a um fluxo interminável de tentativas de persuasão e influência. E é claro que você, por sua vez, influencia as coisas ao redor com os seus atos. Com seu estilo inconfundível e cheio de humor, Fexeus mostra como funciona esse belo ciclo de feedback, apresenta fatos fascinantes e diversas técnicas de manipulação, e oferece as ferramentas certas para que você perceba quando alguém está tentando influenciá-lo.

Divulgando o material publicado no O Cinemista na coluna Cinecult, dessa vez o texto é sobre Swimming Pool, filmaço do diretor François Ozon

A BEIRA DA PISCINA…
Sarah Morton (Charlotte Rampling) é uma escritora de romances policiais, uma mulher recatada e desconfiada. O sucesso de público e crítica conquistados por seus romances, já não lhe satisfaz. Inquieta com a situação Sara parte para a casa de seu editor John Bosload, em uma pequena cidade na França. Lá ela terá a tranqüilidade necessária para mergulhar em seu trabalho a fim de produzir algo inteiramente novo, capaz de surpreender a crítica e o público.
No entanto, em meio aquele cenário bucólico e paradisíaco, Sara terá a repentina aparição de Julie (Ludivine Sagnier), filha de John, para dividir a casa com ela. Julie é uma garota linda, sensual, cheia de vida e apreciadora de exageros de todos os tipos.
Desse encontro inesperado e antagônico, nascerá uma estranha e forte relação de atração e repulsa. Fatos que influenciarão de forma inimaginável no romance que vai paralelamente sendo escrito por Sara.


“Swimming Pool” tem roteiro e direção do sempre surpreendente diretor François Ozon, diretor do irreverente “8 Mulheres”(2002) e do pertubardor “Sob a Areia”(2000). Os filmes de François possuem sempre uma dualidade que confronta certo humor com um suspense mordaz, afinando ainda mais os laços da realidade com a insanidade e a psique de seus personagens.
Outro ponto forte de Swimming é a atuação de Charlotte Rampling, que transmite no olhar e nos pequenos gestos as inseguranças e inquietudes de seu personagem, assim como seu papel em “Sob a areia” dessa vez Charlotte executa uma atuação intensamente introspectiva. Ao contrário desse caminho está Ludivine Sagnier no papel de Julie, que explora a sensualidade e o todo o lado explicito de sua personagem, mas fazendo com que o real caráter de Julie seja apenas uma incerta e perigosa suposição para quem se aproxima dela. Assim, François percorre mais uma vez o universo feminino por um viés psicológico, não deixando de demonstrar característica realistas e míticas provenientes desse tema.


Um ataque cardíaco... E ganhou coroas, medalhas, odes e músicas.
Os mais distantes lamentavam profundamente sem lembrar do quão era duro a convivência com ele. De longe o achavam ainda uma ótima pessoa.
- Que perda irreparável diziam os próximos a esses. Mesmo sem conhece-lo.
Um ataque cardíaco e ficou lindo, esbelto, sereno, herói, um martir.
Depois do ataque cardíaco seus trabalhos viraram obras primas, as frases chatas que sempre repetia ditos populares, um hino.
Depois do ataque cardíaco o amor incondicional,
todas as conquistas vieram depois do ataque cardíaco junto de abraços demorados e choro incontrolável.
Quase o chamaram de santo ou algo próximo disso.
Em contra partida muitos outros continuaram a acha-lo um babaca, derrotado, azarado, um bosta.
- Foi sempre um nada, este é o o seu maior feito. Um ataque cardíaco. Diziam implacáveis.
Mas nínguém sabia que sua superioridade, principalmente agora, estava no fato de não ligar pra mais nada, seu último pecado em vida foi partir com o ar esnobe de quem diz: - Foda-se, a tudo...
Talvez pudesse melhorar ou diminuir a intensidade disso se não estivesse morto.
Mas era impossivel não se achar superior enquanto desfrutava de seu nirvana particular onde não sentia nem se importava com mais nada, ma-is na-da.


Projetos gráficos para a editora Simplissimo, tanto Ankilor (capa acima) quanto a saga O Guardião e Guardiões Menores, livros de aventura e ficção, que misturam elementos medievais, a povos extra-terrenos. Apenas uma parcela da produção de literatura fantástica brasileira. Que mesmo longe dos holofotes da imprenssa ou grandes editoras, mantém-se viva, intensa e constante.








Continuando a divulgar e resgatar os textos do O Cinemista, coluna cinecult onde escrevi até o ano passado. Dessa vez crítica do longa de animação Valsa com Bashir.

Durante as primeiras cenas de Valsa com Bashir, animação israelense que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro, é impossível, ou ao menos de grande dificuldade, não permanecer impressionado e perplexo com as deslumbrantes imagens do longa. Uma mistura de desenhos 2D com traços grossos e tremidos, junto a movimentos em 3D, que chegam a assustar tamanho o realismo alcançado.


Passados essas primeira impressões, que ao longo do filme voltaram a deslumbrar os olhos do público, Valsa com Bashir mostra a tentativa angustiada de Ari Folman (Diretor e roteirista do filme, também soldado das forças de Israel) de reconstruir sua memória sobre o tempo da guerra civil Libanesa e do massacre de Sabra e Shatila. Tal viagem de reconstrução terá inicio quando Folman ouve o relato de um amigo sobre os pesadelos que o perseguem desde o tempo do exército, intrigado com a sua falta de lembranças daqueles tempos, o diretor, roteirista e personagem do filme dá inicio a busca por suas memórias perdidas.

Nesse caminho o longa ganha um “ar” documental que intercala os dramas das pessoas envolvidas na guerra chegando a momentos de pura vertigem, onde realidade e alucinações mal podem ser distinguidas. Como não poderia ser diferente de uma história sobre guerra e mais, sobre os conflitos do oriente médio, Valsa com Bashir toca sim em questões políticas, mostra os absurdo cometidos e deixa claro sua critica, no entanto, sem deixar-se levar por uma postura panfletária, sendo mais pacifista do que partidário.