Micro-Contos escritos a partir das perguntas:

- O que te traz a calma perfeita?
- O que é que você esconde aí?
- Já dormiu em um automóvel?
- Tem algum método favorito?
- Já matou alguém?
- Dói?


A idéia era que as histórias fossem referentes a um mesmo personagem, fica aqui não só o convite da leitura, mas o desafio a quem quiser se aventurar no mundo dos micro-contos, que embora sejam curtos, possuem ou ao menos devem possuir a mesma estrutura de contos maiores, ou seja:

- Personagem
- Tempo
- Espaço

Texto originalmente publicado Contos das Rosas 



Mudança

Não conheceu o mar, nunca sentiu a areia fofa e a unidade de cada grão como minusculas galáxias entre os dedos. Morreu afogado num lago alcalino formado pela explosão de uma pedreira. Não ousava mergulhar do alto como os outros rapazes. Sabia que dependendo da altura e da forma como caísse, a água poderia ser tão dura quanto o concreto.


Praga de mãe

– Eita minino que gosta de água! Dizia a mãe num misto de zanga e funesta tentativa de dar-lhe algum atributo. Sem saber que aquilo era uma sentença continuava: – É sempre o primeiro a entrar e o último a sair da água.


Trabalho infantil

Comprou a passagem com dinheiro dos vários trocos que foi juntando. Super-faturou pães e maços de cigarro que a pedido da mãe ia comprar. Tráfico de influência, paraíso fiscal aos fins de semana quando ia encontrar com a namorada na cidade ao lado.


O trajeto

Dormir durante quase todo o percurso evitava que sofresse ao reencontrar cada quilometro, cada montanha e curva ao longo da viagem. Lugares desguaecidos de qualquer valor simbolico ou mesmo turístico, que apenas o advertiam; Está muito longe ainda.


Revanche

Eu vou dizer que vou joga bola. – Então pai marcamos uma revanche com o Quebra-Tudo lá Campo Limpo sabe?

Só isso já me garante o sábado, quando voltar no domingo, ai explico, ou não explico, apanho e calo a boca. Semana que vem invento outra coisa.


Eu era um covarde cínico

Se tu é macho mesmo vamos lá pular da pedra quero ver só seu bosta!

Não aceitou o desafio dos adversários, nem sentiu-se diminuído por isso. Sabia que a namorada não se importava com essas medições idiotas de força. De qualquer forma, enquanto nadava pelo canto do lago, observava os rivais pulando do alto da pedra. Desejou que calculassem mal o salto e estourassem a cabeça nos rochedos.


Dói?

Caimbrã é foda! Dizia uma das testemunhas. Pensa num alicate pegando no músculo, torcendo, retorcendo e esticando. O coitado não conseguiu nem boiar.

A literatura de auto-ajuda ou religião tem crescido muito, tanto em termos de produção quanto de procura do público. Aliado a isso, as novas tecnologias de publicação, tornam possíveis que as mais diversas experiências sejam publicadas e conhecidas pelo público. 
Sejam estudos, experiências pessoais e até mesmo espirituais, o termo auto-ajuda ou religião, tem sido campo fértil não só para leitores e escritores mas também para editoras e capistas, como podem ver a seguir, alguns títulos em que criei as capas.










Mais um texto publicado originalmente no Cinecult
Drive de Nicolas Winding Refn

Dirigido pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn e estrelado por Ryan GoslingDriver conta a história do piloto e mecânico que se define com a frase: “I Drive…”. Mecânico habilidoso, piloto voraz, o personagem de Ryan se divide entre trabalhos de dublê para o cinema e a vida na oficina. Além desses presta serviços escusos a assaltantes e demais interessados num exímio piloto e profundo conhecedor das ruas. Numa espécie de “pré-contrato”, fica ajustado que ele participará apenas da “logística” da coisas digamos assim, depois do serviço finalizado nenhum outro tipo de contato ou ligação será tolerada.


Essa é a vida deste “cavalheiro solitário”, do qual não sabemos nada, nem do passado e como ele chegou até ali e tão pouco de suas aspirações ou por qual motivo ele realiza aqueles trabalhos. Não há uma voz off que nos apresenta o personagem, muito menos nos diálogos durante o filme conseguimos encontrar alguma informação. Mas há em certo momento um ponto fraco assimilado, ou talvez uma baixa na guarda, que é quando este encontra com Irene (Carey Mulligan) e seu filho Benicio, vizinhos de seu apartamento.



Ainda bastante contido esboçando um sentimento através de sorrisos ligeiros e silenciosos. A partir desse encontro, de olhares demorados e expressivos, é que a vida desses tomará um outro rumo, ou ao menos sinalizará para tal. Pois quando tudo parece estar se encaixando, se rendendo, Irene recebe a notícia de que seu marido sairá da prisão. Contudo é preciso salientar que “Drive” não se prende a esse encontro e a esperança que esse possa representar na vida de cada personagem, mas trata da dualidade da vida deste protagonista, carismático e desconhecido, calmo e explosivo, compassivo e letal, diferenças separadas por um fio.


Drive na verdade é um desses filmes mais complexos de se definir, o que é na verdade sua grande qualidade – já que definições, esquemas, ou classificações podem ser pejorativas. Não é um drama, tão pouco um romance a seria triste defini-lo como um filme de ação, por isso pode-se dizer que o diretor dinamarquês fez um trabalho completo – não perfeito – que embora possa frustrar quem chegou até o longa por meio das cenas de perseguições do trailer, deve muito mais surpreender a quem tinha menores expectativas. Contudo há de se ter uma espera no minimo curiosa já que o longa passou à frente de Lars Von Trier e tomou o Cannes de Melancolia. Sem entrar em julgamentos após assistir os dois longas é de fato fácil saber o porque Driver levou o prêmio.





O grande mérito do diretor Nicolas Winding Refn foi conseguir beber de diferentes fontes de inspiração ou melhor influências, já que em seu trabalho se percebe muito mais apuro técnico e trabalho duro do que puramente inspirações, e entregar um produto novo, a tal da antropofagia talvez.
Tudo em Drive, roteiro, direção e fotografia se move com perfeita unidade e a trilha sonora pontua um ambiente underground, melancólico. Para fechar o bom trabalho de Albert Brooks muito bem no papel de “vilão” e sobre tudo Ryan Gosling que caiu de vez no gosto do público e principalmente dos diretores, deixando para trás papéis coadjuvantes e chegando ao primeiro escalão silenciosamente como se sempre estivesse entre principais nomes de Hollywood.

Conto publicado no Blog Contos das Rosas, plataforma para os textos produzidos no CLIPE 2015, na Casa das Rosas.

A idéia proposta aqui, era pegar um personagem ou livro clássico e transportá-lo num novo contexto na São Paulo de 2015. Abaixo a minha colaboração, já estendendo aqui o convite e desafio a quem quiser produzir algo com uma idéia similar!!!

---------------------------------------------------------------------------

Hoje é um dia importante, estou decidido, vou dar um passo à frente com meus demônios, embora esteja descrente que conseguirei de fato exorciza-los…

Vim para um lugar que me faz esquecer por completo as coisas do Rio de Janeiro, o mar, a brisa e todas as tristezas que as ondas trouxeram para minha vida. Graças ao fabuloso emplasto Brás Cubas, atravessei o século, vi o novo milênio nascer, presenciei descobertas e frustrações da humanidade, que assim como um homem de meia idade, reconhece que é bem menos importante, bem menos interessante do que desejava ser.

Sou uma espécie de Dorian Gray com pecados e segredos, banais, banalíssimos como diria José Dias o amigo dos superlativos. Por esses dias, sinto uma estranha e traiçoeira saudade do poeta do trem, que a um século atrás me deu a alcunha de Casmurro. Desculpe poetinha, não sabia que nos dias de hoje só seriam escritosromancetes vampirescos ou romances românticos que deixariam até mesmo os ultra-romanticos encabulados. Lamento ter cochilado enquanto você lia aqueles poemas, que hoje os reconheço bons.

Na praça da Sé um desconforto se instala no peito, o ar decrépito de construções e prédios antigos, me fazem lembrar do Rio, e tudo que me oprime, envergonha e irrita, saio rápido dali. Nem Largo São Francisco onde me formei em direito trás alguma lembrança boa.

Saio da praça e sigo pela Rua Benjamin Constant, dobro a esquina com dificuldade para vencer dezenas de ambulantes oferecendo alianças e joias de gosto e procedência duvidosa. Prédio enormes perfurados com portelas que parecem levar a outras dimensões que não o interior de edifícios. Entro em uma delas, num extenso corredor abro a sétima porta a direita. Procuro um lugar mais ao fundo da sala de onde observo todos que chegam depois de mim.

Poucos participantes tomam seus lugares, homens reprimidos, assassinos em potencial talvez, ou apenas espécies fragilizadas por aquilo que neles é forte. Estamos aqui para castrar o que há de poderoso e ruim em nossos corações. Fazemos um exercício de respiração e rápida meditação, depois vem um exercício de quebra-gelo que sempre constrange mais do que liberta.

Estou atento, quero ser o primeiro a ter a palavra, firmo os pés no chão já projetando o impulso num quase salto. Quando somos perguntados sobre quem quer dar inicio aos testemunhos, levanto a mão enquanto início a caminhada. Decidido e disposto a guerra por aquela oportunidade, ninguém passará na minha frente, ninguém!

– Boa noite caros amigos, meu nome é Bento Santiago, também conhecido como Dom Casmurro… Respiro, penso no terceiro casamento destruído pelo ciúmes doentio, anuncio:

– Eu, Dom Casmurro, sou um homem que ama demais…

Projeto gráfico de capa
Trilogia dos Guardiões, de José Rubens Curtt, para 
editora Simplissimo.

Olá a todos!!! Aqui divulgando são só o meu trabalho, como também o que acontece no mercado editorial de ebook, a literatura independente, autores e livros.

Resenha:
Conta a história da humanidade à época da existência da Atlândida e de seus últimos dias antes do cataclisma que destruiu a humanidade e o salvamento de alguns poucos que deram origem ao recomeçõ da humanidade.


O Projeto gráfico:
Como se trata de uma trilogia, buscamos uma unidade, uma mesma linguagem e atmosfera nas três capas, destacando em cada uma algum ponto específico de avanço nas histórias dos livros. Desde o livro I onde os fatos ainda não acontecem no planeta terra, mas se dirigem a isso, e nas outras capas como uma luneta se aproximando de outros fatos dos livros, como o império Romano e a crucificação de Cristo.