“Boa noite boa sorte” retrata os conflitos entre o jornalista Edward R. Morrow e o senador Joseph Macarthy que nos anos de caça as bruxas fez uma lista onde constavam vários nomes de pessoas envolvidas profunda ou superficialmente com o comunismo. Poucas pessoas ousaram confrontar tal lista, feita sem grandes critérios mas sim incluindo todos que se opunham ao senador. Edward e o pessoal da BBC foram esse grupo de pessoas, é também sobre elas a história de “Boa Noite Boa Sorte”. O filme fala também sobre um grau de comprometimento dos profissionais da mídia que se tornou raro hoje em dia. “Boa Noite” é um desses filmes mais complexos no sentido de permitir diferentes leituras sobre diferentes assuntos, pode se dizer que são 93 minutos de inspiração para uma posterior reflexão ou não. Até porque como entreteniemnto o filme não funciona tanto, o que de certa forma parece ter sido algo proposital no ideal de concepção do diretor George Clooney. Seja pelos seus longos diálogos que seguem num ritmo frenéticos ou pelo fato de ter sido filmado em preto e branco (o que o tornou esteticamente belo) mas que para alguns pode ser motivo de distanciamento.
O filme não se situa de um lado ou de outro, optando por um ideal político ou outro, mas mantem-se firme e alerta sobre a ameaça dos direitos civis e do direito de livre expressão que se dizia ter naquela época dos EUA. Num dos pontos altos do conflito enquanto estão engajados em seu trabalho, envolvidos e apoiados pelos poderosos da emissora( mesmo de forma temerosa) Morrow e sua equipe se preparam para as ofensivas sobre a lista e a credibilidade do senador, e dão a este o direito de resposta em seu próprio programa, uma prática bem oposta as atitudes opressoras de Mccarhy.
É portanto com um roteiro grandioso e cheio de minucias que o diretor vai preenchendo cada aspecto do filme com um cuidado especial, seja nas direção cuja a percepção é ampla mesmo em momentos mais detalhistas, na escolha de cada tomada ou na utilização de trechos de transmissão original da tv ou nos belos contrastes que o luxuoso preto e branco da imagem proporcionam.
Outro aspecto que merece destaque em “Boa Noite Boa Sorte” é a atuação David Strathairn, a qual Clonney sabe tirar proveito com algumas sequencias e tomadas fixas em seu rosto que com minimos gestos ou simplesmente através do olhar ou da forma como fuma o seu cigarro consegue transmitir de forma gritante o drama e a tensão de cada momento.
Assim David ou Edward (como preferirem) dado a tamanha intimidade e fusão de ator/personagem fazem ecoar uma intrigante questão sobre a importância e o papel da mídia no ato de informar, os seus valores e a forma como são passadas as informações, além do perigo de termos “construtores de opinião” circulando no ar. Com o seu “Good night, Good luck” Edward de uma forma mais singela e implicita deixava à carga do telespectador a conclusão final, após a transmissão da informação sem tendências o “Good Luck” ganha ar irônico ao pensarmos na televisão dos dias de hoje. Edward acreditava estar prestando um serviço a comunidade, e ainda que não tenha conquistado isso em seu tempo, ou que não tenham percebido tal função em seu jornalismo, o faz agora, e nós, telespectadores agradecemos.

Ygor Moretti 25-06-2006