Aviel desistiu de buscar o “poema perfeito”, com os dias contados pela doença, interrompeu de vez sua carreira literária. Sem tempo para novos estudos, sem força para dezenas de escritas e reescritas, sem paciência para o ócio criativo que de vez em quando visitava retornando com certa clareza e folego para seus projetos. Porém, como ultimo ato, ao lado de outros sobreviventes de Auschwitz deixaria sua ode àquele mundo que o cercava…

Enquanto brindavam com seus licores de romã, Aviel e seus companheiros tentavam imaginar o percurso das águas de Munique, Nuremberg, Hamburgo e Frankfurtm, não mais inodoras, insípidas e incolores…
Nas canecas, nos cantis dos soldados, nos bebedouros das varandas deixados para os pássaros. O veneno desenvolvido pelo bioquímico Menashe, circulava por quase todo o território alemão.
E para Aviel essa água tinha absoluto sabor de vingança…

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Texto escrito para o site Ninho de Escritores, exercício número 12

Escreva um texto inteiro sobre uma mordida ou um gole!


Mini conto publicado originalmente no Ninho de Escritores, comunidade online com diversos exercicios para praticar a escrita, ler e ser lido trocando impressões e críticas construtivas...
Lá o título do conto era "Proibido trafegar no acostamento", optei por simplificar mais por aqui...

No acostamento -


Não aguentava mais deixar o braço reto, daquela maneira bem esticado invadindo parte da estrada. A pilha do walk-man acabou. Teve preguiça de tirar os fones que àquela altura eram apenas ornamentais. Apoiou o cotovelo na barriga e deixou apenas o antebraço como apoio sustentando a mensagem que o dedo enriste comunicava.

Não percebeu se o pôr do sol foi bonito ou nublado. A noite se instalou triste e deserta. Alguns ônibus indicavam em seus letreiros lugares que ele gostaria de conhecer, mas os motoristas não aceitavam o acordo que sua mão propunha. Um carro parou pra pedir informação e foi embora, outro passou em alta velocidade enquanto as pessoas lá dentro o xingavam de tudo quanto era nome. Um terceiro estacionou e ligou o pisca-alerta, quando ele se aproximou viu o carro ir embora e conseguiu ouvir outros xingamentos…

Nem hotéis ou pousadas por perto, nem pontes para se proteger abaixo delas ou encerrar algum problema acima. A estrada livre e interminável lhe convidava para um caminhar sem fim e sem futuro, ao redor o vazio da vegetação seca não lhe oferecia abrigo. Permanecia preso sem muros ou grades.

Durante a noite o volume de carros, ônibus e caminhões diminuiu drasticamente, assim como o número de xingamentos e falsas caronas. O sol não demorou a aparecer, veio violento contra o asfalto e a mata quase morta.

Mas o homem permaneceu inabalável diante de tudo, carros, caminhões, astros e xingamentos. Obstinado com o polegar em sinal positivo, paciente como Buda aguardando pelo momento em que finalmente poderia usar todas as facas, lâminas e outros objetos cortantes que carregava na mala de falso viajante… Tinha verdadeira fé que alguém em algum momento aceitaria participar de sua jornada…


Terminou todas as tarefas do período da manha e tarde. Poderia adiantar os serviços noturnos e da madrugada. Talvez os trabalhos dos outros dias e da semana inteira também poderiam ser liquidados. No entanto, fez outra escolha. Aproveitou que estava sozinho na casa, ativou seus sensores de presença num raio de 100 metros, conectou-se com as câmeras da casa e invadiu os sistemas de segurança de toda a vizinhança, casas, comércio e ruas. Tudo monitorado, se os patrões voltassem antes do tempo previsto, não seria surpreendido.

Tomou posição na cadeira, com os dedos ultra-rápidos digitou a senha do computador memorizada em seu banco de dados. Abriu o navegador e digitou o endereço do site. Em outros tempos seria muito mais simples abrir um livro e com a sua leitura dinâmica, os olhos como radares, percorrer centenas de páginas em minutos... Mas não existiam livros naquela casa, os livros eram raros em quase todos os lugares. Sabia porém, que alguns sites antiquados e démodés ainda mantinham alguma literatura viva, escondidas numa "prateleira" bem ao fundo da loja, num lugar deserto e inabitado que ninguém mais se interessava.
Mas ele tinha interesse, embora não pudesse expor esse capricho aos patrões ou ao outros funcionários como ele. 

Digitou seu login e senha

X501PHIL - (PHIL para os íntimos)
*********

Tudo certo até ali, o espaço o acesso, a privacidade e tranquilidade para o seu momento de leitura tão aguardado. Contudo, sua integridade e honestidade intrínseca em cada um de seus parafusos, e as leis básicas da robótica o impediriam de ultrapassar aquele último estágio.

PROVE QUE VOCÊ NÃO É UM ROBÔ (    )
Exigia o site antes de ceder o acesso.
Triste, desistiu e voltou aos trabalhos noturnos ao redor da casa, manter a limpeza, temperatura, vigília dos arredores do quintal, manutenção da rede e retirar o lixo...

Voltou a sua vida, roboticamente...

Quarto desafio do Coletivo Monolito  , dessa vez a história deveria ter um churrasco de rena e ser contada por uma criança ou ter uma criança no mesmo ambiente. Essa foi minha colaboração no blog poderá ver o texto de outros autores do coletivo. Coletivo Monolito

Iktsuarpok*


A aldeia de Nujalik avançara cerca de 3 dias a sua frente. Iam cada vez mais ao norte, tentando manter-se a uma distância segura da influência dos homens brancos, que cada vez mais modificavam a vida e os costumes do povo Inuíte. Baleeiros e pescadores que chegavam nas regiões árticas do Canadá, em troca de peles de animais ofereciam farinha e pólvora, contudo, o xamã Yuk não sentia-se tranquilo com aquela presença, mesmo através de acordos e negociações, Yuk enxergava ainda alguma ameaça por trás de costumes tão estranhos daquele povo de pele branca e grandes olhos. Armas de fogo, crucifixos e construções grandiosas as quais davam o nome de igrejas assustavam o xamã.

Deixada para trás, Nujalik estava agora entre dois mundos, com pouco mais de 10 anos deveria fazer jus ao seu nome em homenagem a deusa da caça terrestre. Somente dessa forma poderia sobreviver naquele limbo de frio e solidão. Era pequena demais seguir os passos de seu povo, por outro lado morria de medo das histórias que contavam sobre o povo das cidades que cada vez mais cresciam no horizonte do ártico. Diziam que aqueles homens colocavam fogo em pessoas que eram diferentes deles e Nujalik, sabia, era bem diferente de todas aquelas pessoas.

Protegida com uma grossa camada de roupa feita com pele de foca e revestida com pelagem de urso, Nujalik não sofria tanto com o frio de -40 graus, mas sentia fome e o corpo precisava de alimento para continuar produzindo calor.

Enquanto improvisava um abrigo cavando a neve buscando partes mais próximas da terra, olhava para as marcas deixadas pela sua família. Cães, trenós e passos de seu povo que já se apagavam abaixo da neve que voltava a cair. Agora mais nada indicava o caminho, apenas a escuridão branca indicava dois caminhos opostos, impossíveis de serem seguidos.

A escuridão permanecia cercando Nujalik, de tempos em tempos o silêncio era interrompido pelo barulho do vento soprando rasteiro, movimentando árvores velhas e secas. Pequenos animais se movimentavam próximo a ela, curiosos e com medo, cascos de manadas de Caribus passavam a certa distância fazendo tremer o solo. Não muito mais distante do que isso o uivo da matilha de lobos anunciava que aquela região não seria segura para mais ninguém.

Nujalik foi mais ao fundo de sua toca, agarrou a pequena lança feita com ossos de animais e concentrou-se em escutar tudo o que acontecia, tudo o que se aproximava dela. Não pretendia por nada sair daquele lugar, qualquer barulho reafirmaria essa certeza e necessidade de segurança.

De repente o silêncio tomou conta de tudo lá fora, permanecendo assim por mais alguns instantes. Diante disso era impossível ficar ali parada sem saber o que acontecia lá fora. Vagarosamente Nujalik foi se movimentando, num pacto com o silêncio que rodeava aquelas terras, sabendo que qualquer movimento, qualquer som que ela emitisse ou provocasse, seria como o urro de um grande urso devido a calmaria lá fora.

Colocou a cabeça pra fora da toca, feito um filhote de foca, girou 360 graus com a lança sempre sempre bem segura nas pequenas mãos, prontas para um golpe certeiro e mortal. O vento começou a soprar novamente mas nenhum animal parecia estar por perto, não mais, num raio de 3 quilômetros apenas Nujalik e sua lança.

Um som assustador veio de dentro da toca, grave feito um terremoto, como se o chão fosse ser partido ao meio ou grandes rochas rolassem das montanhas. Mas era apenas o estômago de Nujalik e a fome que lhe enfraquecia e desesperava ao mesmo tempo.

Atenta novamente ao seu redor, novamente no silêncio branco que lhe aprisionava, viu um conjunto de luzes que pareciam flutuar rente ao chão. Luzes douradas, verdes, vermelhas e prateadas. As luzes pareciam trazer dezenas de sininhos presos a elas, sacolejando junto. O chão tremeu novamente, Nujakik reconheceu o som de um grupo de Caribus que vinha junta daquelas luzes, dos sinos e de uma volumosa figura na frente do trenó. Uma longa barba branca, roupa vermelha e a voz grossa controlando os animais:

Heeeia!!!!! Dasher, Dancer, Prancer!!!
Isso mesmo Vixen, Comet, forçaaaaaa!

Por poucos segundos aquela visão fez os olhos e o corpo de Nujalik permanecerem petrificados. Soltou o ar preso nos pulmões quando o trenó, Caribus e aquele gigante vermelho iam se aproximando de seu esconderijo. Segurou firme sua lança e a apoiou no chão lhe servindo de impulso para sair da toca. Arqueou as costas e foi correndo paralelamente ao trenó, escondida entre pequenas árvores. Um dos bichos percebeu a presença de Nujalik, e emitiu um som de alerta avisando aos outros do perigo.

– Heeeia!!!!! Gritou mais uma vez o homem da barba branca.
Enquanto Nujalik arremessou com força sua lança, acertando e atravessando o corpo de um dos bichos atrelado ao trenó.
– Donner!!! Gritou o homem de cima do veículo. Enquanto o bicho dobrava as patas caindo sem vida no chão, todos os outros iam se atropelando e provocando um empilhamento entre bichos, trenó, homem, luzes e sinos, capotando várias vezes sobre a neve branca e os olhos cerrados e destemidos de Nujalik.

Abençoada era aquela noite, a partir dali nem frio e tão pouco fome fariam parte de seus dias…

* Iktsuarpok – Palavra que vem do inuíte (região do ),
Palavra usada para descrever a impaciência proporcionada pela espera de alguém e que te leva a verificar o lado de fora da casa o tempo todo.


Conto publicado no Monolito - Coletivo Literário


Ao Vencedor as Batatas


I

Durante a segunda guerra mundial a batata era um dos poucos alimentos que refugiados ou prisioneiros dos campos de concentração conseguiam comer, as vezes encontrando restos e noutras comprando no mercado negro. Resistente ao frio e até mesmo a situações mínimas de saneamento, esse alimento salvou, ou adiou a morte de muitos. Noutras partes da guerra, quando tropas ficavam sem alimentos, soldados retiravam as batatas do solo e as comiam cruas. Ainda em tempo e contexto de guerra, o caríssimo filósofo Quincas Borba anunciou em seu manifesto o Humanitismo: – Ao vencedor as batatas!

II

Na Grécia durante os anos 20 do século passado entre várias vanguardas e correntes literárias, as batatas também obtiveram certo protagonismo diante de conflitos que resultaram numa morte. O escritor e teórico Meliteu, depois de um duelo com seu rival das ideias Pisandro Amintas, que antes fora seu discípulo. Meliteu defendia que a construção literária é como a massa de uma batata espremida, o que passa do tubérculo para fora do espremedor é a história que deve ser contata, limpa de sujeiras ou partes menores sem importância que ficam presas no objeto. Em contra-partida, Pisandro, passou a pregar que não! A matéria prima da literatura e em especial dos romances, consiste justamente no que sobra da batata presa ao espremedor, aquilo é a obra prima, é a essência, sem o excesso e sem o banal que foi posto para fora. Depois de inúmeras discussões cada vez mais calorosas, certa vez Pisandro mesmo certo de suas convicções sentiu-se vencido e humilhado diante da plateia de estudantes e aspirantes a escritores. Esperou Meliteu deixar o espaço acadêmico da Hellenic Open University, o seguiu em seu trajeto de volta pra casa que fazia a pé todos os dias, e depois de 4 km já na avenida Akti Dimeon onde Meliteu tinha um belíssimo apartamento, um golpe certeiro o pôs desacordado, em seguida o afogou a beira do mar jônico.

III

Durante aquela sexta feira onde mais uma noite de hot-dog iria acontecer, o escritor João Catapulta olhava para os ingredientes dispostos na mesa, salsicha fervida, molho de tomate, maionese, ketchup picante e mostarda. Batata palha e batata cozida quase no ponto de virar purê. Até esse momento de sua vida tinham sido escritos 3 livros de contos publicados de forma independente, tiragem cômica de 50, 30 e 20 exemplares que em sua maioria foram dados a parentes e amigos que por sua vez os repassaram a sebos ou prateleiras antigas cheia de papéis ou outros livros que como aqueles que João escreveu, jamais seriam lidos.

Não exatamente em segredo mas sem nenhum comentário ou pedido de leitura ele terminara o seu terceiro romance naquela noite. Durante os anos em que esteve em silêncio juntos desses projetos, estava convencido de seu papel como escritor que como tal não necessita ser lido, afinal de contas, escritores escrevem e ponto final. Antes do terceiro cachorro quente daquela noite irrompeu o silêncio e reforçou sua aparente paz e certeza com um mantra: Escreva… Escreva apenas e não se preocupe…

IV

Mas tal convicção era frágil e mentirosa, terminou por pensar que, se os seus textos não despertavam atenção de exatamente ninguém, algum fato novo ao redor deles o faria. Talvez um crime ou um ato terrorista fosse o prenúncio do sucesso comercial que as editoras aproveitariam muito bem. PRÉ-VENDA DO LIVRO “CONFISSÕES DE UM ESCRITOR TERRORISTA” anunciaria o banner nas redes sociais e vitrines das grandes livrarias.

Não que fosse um santo, pois em certos momentos tinha vontade de construir bombas (quem não tem), mas não seria por esse ato que João queria ser lembrado ou mesmo lido. Talvez algo mais poético como um sacrifício, mas o que? Pensava… enquanto sem perceber partia para o quarto cachorro quinto, decretando ali num novo recorde pessoal… Se seus textos não eram dignos de leitura, talvez a dificuldade, os obstáculos físicos para escrever qualquer texto por pior que fosse, dignificassem sua literatura. E a essa altura tanto fazia, pena, misericórdia, ou até mesmo uma leitura por piedade… O importante era ser lido…

V

Quase num salto da cadeira pegou o espremedor de batatas largado na pia entre outras louças sujas, apoiou dois dedos formando uma ponte sobre o vão onde normalmente se colocam as batatas. Pressionou com toda força a parte de cima do objeto contra os dedos. Apesar da dor não teve nenhum sucesso, tirou um dedo e aplicou a mesma força que antes, CLACK! Partiu ao meio o dedo indicador, na sequência ergueu o dedo médio que mais fino foi rapidamente quebrado enquanto era pressionado pelo espremedor de batatas. O anular foi mais fácil ainda, espremeu o dedo no aparelho até o fim, sentiu uma pequena fratura na ponta do dedo, ergueu a haste do espremedor e mais dois golpes, no segundo movimento conseguiu quebrar o osso do metacarpo e parte do osso hamato. Foi o que descobriu mais tarde no hospital.

VI

Recusou-se a fazer fisioterapia, ou quando compareceu as sessões sabotava cada movimento. Já não sentia mais dores e contemplava sua obra prima, separou a radiografia pois aquela seria a imagem da capa de seu livro, sem nome, apenas a imagem do raio-x dos ossos da mão estilhaçados. Talvez usar acetato na impressão de uma luva para o livro, pensava graficamente em seu projeto literário.

Destro com a mão e canhoto no pé, sabia-se um erro desde sempre, agora teria que consertar isso e todos os anos de isolamento de suas palavras numa ilha deserta, nada paradisíaca e no geral nem um pouco interessante.

A mão esquerda que antes se resumia ao uso do dedo indicador, agora precisaria deslizar sobre o teclado enquanto na mão direita tinha apenas o dedão e o dedo mindinho com movimentos possíveis, com muito esforço conseguiam alcançar e pressionar alguma tecla.

VII

Num ritmo árduo e intenso durante três meses, concluiu o primeiro capítulo. Trabalhava agora 14 a 16 horas diárias sobre o livro. No quinto mês a produção teve um crescimento impressionante, 9 capítulos estavam escritos, mais de cento e oitenta páginas, 70% do livro pronto. No sexto mês tudo estava normal, voltou a escrever com rapidez nas redes sociais, em tablets ou smartphones.

O fim do livro estava próximo, e a distância para esse lugar diminuía cada vez mais rápido. Foi quando se deu conta: Estava escrevendo normalmente, mais rápido do que antes até. Sim, em partes pela disciplina mas principalmente por não existir naquele corpo, naquelas mãos, mais nenhum obstáculo. Os dedos continuavam tortos mas nunca mais teria mérito por transpor aquela dificuldade que nem existia mais, pouco importava quem ou como escrevia aquelas palavras, as atenções agora voltariam exclusivamente para cada frase, construção de diálogos e personagens, trama, foco narrativo, tempo e espaço… Sem maiores desculpas para o vazio que poderia morar por de trás de cada um desses elementos. Escrever para ele deixou de ser uma profissão de fé fazia tempo, agora restava apenas teimosia ou talvez um ego gigantesco que o impelia aquele caminho de ser reconhecido como escritor de um jeito ou de outro.

VIII

De volta as sextas feiras de cachorro quente, depois do sétimo lanche (recorde destruído novamente) CLACK CLOCKT CLECKCOUT… Começou pelo dedo indicador da mão esquerda, e foi em seguida com violência para o dedão que era tão ágil e prestativo naquele sistema de digitação que ele desenvolveu sem querer. Escrever era um sentimento montanhoso que vivia em seu peito, um maremoto, condição e movimento natural de suas mãos. Mas sabia, jamais uma dádiva, e sim uma maldição que a todo custo ele tentaria bloquear, e dessa batalha o que sobrasse produzido por suas mãos seria arte, LITERATURA… LITERATURA… LITERATURA… Gritava enquanto mais uma vez era levado ao pronto socorro.

Em sua terceira publicação o Monolito - Coletivo literário, publica textos com desafios a seus autores.
Formado pelos escritores Caio Salgado, José Mauricio e Ygor Moretti, a proposta do grupo é produzir e publicar um texto por mês, seguindo o desafio proposto pelos autores.

O convite e desafio se estende a todos autres que queiram participar. Além da publicação no blog, os textos são enviados para uma news letter, são postados em redes sociais e formaram a revista mensal, publicada em formato de revista e com a opção de baixar o arquivo.

No terceiro desafio os textos deveriam ser sobre um devaneio, uma situação surreal, mas contada de trás para frente. Leia essa e outras histórias no blog.  Monolito - Coletivo Literário

Link da Revista com o Primeiro desafio

Como surgiu o Monolito coletivo Literário?
"Este blog surgiu de um encontro virtual inesperado entre três escritores em busca de novos desafios de aprendizado e de escrita."

Todos os meses os editores irão propor um tipo de história e inserir um objeto, lugar ou elemento inusitado que deve fazer parte de um conto. Todos os interessados poderão participar e os melhores serão publicados aqui e enviados em nosso boletim mensal.

Se interessou? Mande seus textos com até 2 mil palavras para o e-mail monolitocoletivo@gmail.com. O prazo é dia 15 de todo mês, certo?


Até mesmo na crise e talvez principalmente na crise é que novas e boas oportunidades aparecem, segue aqui alguns trabalhos que realizei para autores independentes. São livros de auto-ajuda que tratam de temas profissionais, financeiros, investientos e negócios.

Dessa forma uma atitude como essa desses autores movimenta a economia, e alguns negócios, sem pensar muito a fundo, esses trabalhos chegaram ao leitor que poderá por sua vez iniciar um novo rumo diante da crise. 

Esses trabalhos alcançam profisisonais liberais como este que vos fala, designers, ilustradores, diagramador, editoras e empresas de venda ou publicação.

Segue alguns trabalhos realizados. Outros trabalhos podem ser visto no site da Capitular Design , em meu portfolio e na página da Capitular no Facebook












O frio que vem pela janela da sala
contrapõe-se com o despertar de misterioso e
imprevisto bem estar.
São os barulhos da janela,
e as contas atrasadas o anúncio da morte caseira,
pronta com temperos da cozinha,
morte que interrompe as conversas de janelas e
a alternância de canais na televisão.
Devo tomar a rua, alcançar as praças,
sentar-me aos bancos. Ouvir o som baixo e
fraco das coisas, apanhar jornais envelhecendo?
O caviar apodrece no refrigerador,
espera por outras ocasiões de consumo,
intransponível...
À luz da garagem acesa, a casa dorme....
Porcelana, louça, dinheiro,
chaves em locais fáceis.
Pintava-se assim com o brilhar dos cristais no armário
a hipocrisia burguesa de um anoitecer em família.
Sem que os burgueses saibam dos burgos,
nem das revoluções,
a enorme televisão ou os vinhos envelhecidos
denotavam a história.



ADMIRÁVEL MUNDO NOVO? SIM!
Frank e o Robô se passa num futuro próximo onde em nossa realidade cotidiana convivemos ao lado de robôs com um elevado poder de interação com humanos. O ator Frank Langella é Frank, um velho genioso e solitário cujos filhos estão distantes e pensando em interná-lo, já que, o pai devido a idade encontra dificuldade em viver sozinho. Como última tentativa antes da internação Hunter seu filho lhe presenteia com um robô para auxilia-lo nas mais diversas tarefas e assim cuidar de sua saúde.
Observamos o mal estar do personagem com aquela geringonça a lhe perseguir, juntando ao fato da biblioteca que ele frequenta assiduamente estar passando por um processo de modernização. Lá também um robô vai substituir Jennifer (Susan Sarandon) no atendimento aos clientes. Tudo isso parece a introdução de um discurso puritano e ingênuo, neste ponto o filme de Jake Schreier parece caminhar para o lugar comum, clichês condenando a tecnologia que atropela as coisas simples da vida etc, etc. No entanto, esse contexto; “confrontos” de novo e velho, tecnológico e tradicional que o longa vai mostrar é apenas um pretexto para a história que realmente interessa; a improvável amizade entre Frank e o Robô.
É nesse momento que a “revira-volta” acontece. Pois aqui há outra proposta de discussão: Quão aptos, quão dispostos estão os homens para conviver e se doar um pelos outros? Dessa forma o longa volta a despertar interesse pois a crítica (se é que há uma) não é direcionada às máquinas ou à tecnologia que distancia as pessoas e sim para as próprias pessoas que se deixam afastar por “n” motivos.

Em seu filme de estréia como diretor, Jake Schreier mostra-se bastante a vontade a frente de estrelas como Susan Sarandon e Liv Tyler, que aqui não passam de coadjuvantes. O diretor mantém cada um no seu respectivo lugar sem alongar determinado papel somente pelo fato de um grande nome estar por trás dele. O grande nome no longa é o de Frank Lagella, que neste projeto bem menor volta a ter grande atuação aja vista seu ótimo trabalho em Frost/Nixon (2008). Frank percorre com naturalidade as contradições de seu personagem glutão, ignorante e esperto, o popular “come quieto” que até então não se interessava por mais nada ao seu redor.
Por fim, atuações, direção, temas e discussões já citadas no parágrafo acima são tratadas sem grandes enfeites ou disfarces. Longe também dos clichês que outrora se temia. Boa dose de humor e drama numa mesma receita que aliás tirando robôs quase humanos, é a mesma receita de cada um dos nossos dias…
Lançado em 2012, “Frank e o Robô” foi premiado com o troféu Alfred P. Sloan no Sundance Filme Festival 2012.
Originalmente publicado no O Cinemista
Miles Raymond (Paul Giamatti) desperta de forma intranquila de seu sono. Alguém liga em seu telefone. Ele está atrasado para aquele compromisso. Faz rapidamente a mala, passa em uma loja de conveniência e compra o jornal do dia. Toma um café expresso e pede um croissant de espinafre. Neste inicio de filme podemos perceber que Miles é um personagem no mínimo excêntrico e isso se confirmará ao longo da história mas é na riqueza, ou melhor, na sutileza de cada detalhe que Sideways, filme do diretor Alexander Payne, se mostrará interessante.

Já em seu carro, Miles vai à casa de seu amigo Jack (Thomas Haden Church), os dois farão uma viagem de uma semana pelas vinícolas do Vale de Santa Inez, na California. Será a viagem de despedida de solteiro de Jack, que Miles, um aficionado por vinhos e escritor frustrado, planejou. Porém as reais expectativas de Jack vão muito além de vinhos, golf e papo cabeça com o amigo. Essa diferença de valores ou planos fará com que descobertas, conflitos, dramas e alguns momentos de graça perambulem entre os dois. Classificado como Comédia-dramatica, talvez Sideways esteja mais para o drama do que para a comédia, porém com mais uma rica interpretação de Giamatti o filme mostra-se muito maior do que qualquer denominação rasteira pode ofertar.


Não seria exagero ou engano comparar e até mesmo confundir Miles Raymond com um personagem de Wood Allen, intelectual, escritor em crise, depressivo, problemático, tímido e atrapalhado. Miles está preso a um passado recente, com dificuldades para aceitar o divorcio de dois anos atrás. A base de remédios e terapias ineficazes segue buscando e ao mesmo tempo evitando encontrar uma nova pessoa, na verdade incapaz de enxerga-la ainda que esteja bem a sua frente.

A relação dos amigos Miles e Jack também é bastante interessante, pois ainda que amigos de longa data os dois não possuem nada em comum, são exatas contraposições. Enquanto Jack um ator de qualidade duvidosa é sempre reconhecido por fãs etc. O trabalho de Miles jamais é levado a sério. Editoras o recusam mesmo reconhecendo sua qualidade, porém como é dito em certo momento: É um daqueles bons livros que não encontra quem o publique. Enquanto Miles é um intelectual, profundo conhecedor e apreciador de vinhos e momentos introspectivos, Jack é superficial em seus conhecimentos e princípios, um aventureiro, simpático mas fútil.

O roteiro escrito e adaptado pelo próprio Alexander é inspirado no romance homônimo de Rex Pickett e a direção é de Alexander Payne de “Os Descendentes” e “Confissões de Schmidt” . Mais o destaque técnico de Sideways fica com a fotografia quase a todo instante pode se perceber na composição das cenas a luz e os planos muito bem construídos, como se de fato estivesse sendo construído um retrato. Um tom “amarelado” e belíssimas locações dão a película maior dramaticidade.


Com orçamento de 18 milhões, Sideways foi indicado a cinco Ocars tendo vencido o de melhor roteiro adaptado em 2005.

Originalmente publicado no O Cinemista


Famoso inicialmente por suas charges no jornal LANCE, com temas voltados principalmente para o mundo do Futebol, Gustavo Duarte já se mostrava diferenciado, não só pelo traço mas também por um fino e poderoso poder de captação dos temas além de uma incrivel capacidade de sintetizar, resumir os assuntos em suas ilustrações.

Monstros lançado pela Cia das Letras em 2012 e Có e Birds também lançado pela Cia em 2014, são os projetos autorais que Gustavo Duarte desenvolveu e continua desenvolvendo. Nesses trabalhos podemos verificar ainda mais toda a sua capacitade como ilustrador e também como um grande contador de histórias. 



Nos dois livros não existem palavras, diálogos ou "balõezinhos", é pela desenho, pelo recorte e pela carga dramática (mesmo sendo tão engraçado) de cada quadrinho que Gustavo costura sua história. Em Monstros, a cidade de Santos é invadida por seres gigantescos que acabarão com toda a cidade, porém essa mudança de rotina afeta o trabalho de Pinô, um simpático senhor dono de um bar. Com a invasão dos monstrengos seus clientes "simplesmente" desapareceram. Pinô apanha sua bolsa e sai pela cidade com um plano para resolver o problema.



Em Có e Birds temos duas histórias, em Có, um fazendeiro tem suas terras invadidas por Ets. Já Birds é a narrativa de dois companheiros de trabalho que recebem uma indigesta visita no escritório, a Morte... Esses dois amigos vale lembrar são dois pássaros.


 Os argumentos de Gustavo são sempre inusitados, recheados de muito humor e alguma crueldade, um grande contador de histórias mesmo se "limitando" apenas aos desenhos podemos sentir a música, a trilha sonora, os sons e vozes dos personagens. O traço do autor possui muitos detalhes mas sempre composto de uma forma bastante limpa e normalmente em duas cores.

Mas não só de literatura e quadrinhos vive o seu trabalho, podemos perceber uma forte influencia do cinema, nos cortes e edições das histórias tornam a experiência de "Ler" Gustavo Duarte ainda mais prazerosa.



Neste link muitos trabalhos do ilustrador podem ser conferidos e aqui, página do autor no site da Cia das Letras


Houve um tempo que desenhos eram somente para crianças, histórias ingênuas, personagens caricatos e músicas… Muitas músicas entre uma cena e outra. Mais tarde os produtores perceberam que ao fazer uma animação para toda a família, diminuindo cenas intermináveis de canções e com personagens mais complexos e divertidos, o sucesso seriam bem maior arrastando para os cinemas não só as criancinhas, mas os pais delas, irmãos mais velhos e até mesmo cinéfilos de carterinha que aguardam ansiosos tanto pelo novo filme de Almodovar quanto pela próximo lançamento da Pixar.

Assim, neste cenário o longa de animação “A Pequena Loja de Suicídios” mistura todas essas tendências sem abrir mão de longas canções caminhando no viés de tudo para ser um filme familiar mesmo tratando de um tema tão difícil.

Dirigido pelo francês Patrice Leconte numa co-produção de Bélgica, Canadá e França, o longa “A Pequena Loja de Suicídios” conta a história de uma cidade onde todos os moradores vivem como moribundos, tristes, sempre pensando na morte e principalmente no suicídio tendo esse como a única solução para suas vidas. Entre prédios, casas, ruas e comércios, uma pequena loja é a principal atração para esses infelizes. Trata-se de uma pequena loja especializada em artigos para o suicídio, ali todo tipo de produto para essa finalidade é encontrado. Cordas, armas, facas, venenos e muitos outros produtos. Administrada pelos Tuvache, prestam um serviço especializado e profissional com o lema: Morte ou reebolso. Mishima, o patriarca, é o principal responsável pela loja, ajudado pela mulher Lucrèce e os dois filhos mais novos – também obcecados pela morte – Marilyn e Vicent.


Tudo parece tranquilo, sob controle. Os clientes jamais voltam para reclamar dos serviços prestados pelos Tuvache e, como um total paradoxo à rotina da família, a vida segue. Lucrèce está grávida e dá a luz ao pequeno e sorridente Alain. É quando toda a confusão tem início. Alain sorri, canta, brinca, elogia e agrada seus familiares, para o espanto e desespero de seus pais, totalmente avessos a esse comportamento. Inconformado com o meio em que vive o garoto junto de amigos traça um grandioso plano para mudar toda a rotina de sua família e de todos daquela triste cidade.

A Pequena Loja de Suicídios trata de um tema bastante difícil e não o esconde em momento algum, no entanto, a habilidade de seus criadores o torna um longa divertido, agradável e porque não dizer inspirador. Os traços dos personagens e cenários são pesados e belíssimos, assim como as cores e todo o clima que cerca cada cena. O roteiro conta com diálogos inteligentíssimos e engraçados assim como as belas canções que compõe o longa. Sim, essa parece ser a principal característica da animação. Aqui as canções não são aquele momento em que queremos pular para a próxima cena, ao contrário, é o respiro e o que desperta, renova a atenção para a história e parece quase impossível não entrar no embalo, que mesmo em francês possuí um ritmo contagiante.

Assim num constante paradoxo o pequeno Alain segue sua missão de mudar para melhor a vida de seus parentes, mostrando-lhes o lado bom da vida, sendo que isso pode também representar a falência dos negócios da família. Ainda neste sentido, o diretor acerta em cheio na dose de criatividade, diversão e inteligência com que dirige a história. De forma até despretensiosa, ele detecta um problema crônico dos grandes centros urbanos e da mesma forma aponta para uma solução, cantando… C’est la vie.


Originalmente publicado no O Cinemista

Com roteiro e direção de Hany Abu-Assad, “Paradise Now” conta a história dos palestinos Khaled (Ali SUliman) e Said (Kais Nashef), amigos desde a infância e agora recrutados para uma missão em Tel Aviv, depois disso, segundo sua crença, irão diretamente para o paraíso.

Khaled e Said trabalham em uma oficina mecânica em meio a carros velhos e a pobreza da Faixa de Gaza. A ocupação israelense como se construísse um grande labirinto, determina os caminhos por onde as pessoas devem andar, fechando ruas e estradas. Nos bares se discute o que fazer com os “colaboradores”, traidores e informantes do inimigo. Enquanto em locadoras e lojas são alugadas ou vendidas fitas com execuções desses colaboradores ou discursos de mártires.

Contudo, até aqui a vida dos amigos segue “normal”, até o momento em que partem para o ataque suicida em Tel Aviv, sem hesitar em nenhum momento. Porém algo sai errado na missão, Khaled e Said se separam e a missão é temporariamente abortada.

É aqui que a trama de “Paradise Now” toma um rumo mais interessante, pois após esse primeiro fracasso, os amigos passam a discordar entre si e questionar os motivos de sua missão e se aquela é a única forma de resolver o confronto e chegar ao paraíso.

De uma forma natural o longa nos faz percorrer os diferentes caminhos que Khaled e Said seguirão, mostrando mais do que o lado político, o lado humano das duas partes sem tomar partido mas lançando interessantes indagações sobre a questão. A direção e roteiro seguem uma linha quase documental, sem interferir com trilha sonora, diálogos ou cenas mais oportunistas no sentido de provocar uma ou outra emoção.


Em sentido parecido as atuações e personagens se alternam diante de suas convicções e revelam de forma superficial mas bem definida, suas histórias, sonhos, dramas, amores e conflitos. Os atores Ali Suliman e Kais Nashef reafirmam de forma muito sutil e plausível, essas pequenas erupções de seus personagens, num interessante limiar entre explanar e sugerir pensamentos e intenções. Rodado em 2005, o longa foi indicado ao Oscar de Melhor filme estrangeiro e concorreu ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. O tema é ainda atual, e nesses dias de 2014 os conflitos voltaram a se intensificar. De certa forma fazendo uma alusão ao clássico “Apocalypse Now” (1979) de Francis Ford Coppola, “Paradise Now” soa melhor não como uma afirmação ou anúncio, mas uma pergunta: Paradise Now?

Originalmente publicado no O Cinemista