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ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ

Vencedor de 4 Oscars (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Javier Bardem) e Melhor Roteiro Adaptado), “Onde os Fracos Não tem Vez” mostra-se um dos filmes mais representativos da carreira dos irmãos Coen, um trabalho onde as características dos irmãos aparecem de forma mais explicita, mais emblemática. Por mais, que tais características sejam justamente a simplicidade, a linguagem direta e seca dos filmes de Ethan e Joel Coen.

A tradução do título original “No Country for Old Men” para “Onde os fracos não tem vez” que foi duramente criticada e que para Portugal ficou mais próxima do original, algo como: “Este país não é para velhos”, me parece adequada, mostrando uma reafirmação do projeto cinematográficos da dupla. Pois, seja através do humor negro, ou de uma violência ultra-realista, sem o glamour do cinema, Ethan e Joel apontam com seus filmes, para um mundo onde de fato, os fracos não tem vez.

Em filmes como “Gosto de Sangue”, “Fargo” e Mesmo em “Onde os Fracos...”, os personagens são desprovidos de moral, e suas qualidades (quando existem), caminham lado a lado com seus defeitos. Não há causa nobre, mas sim a luta pela sobrevivência, não tendo limites para essa.
Cabendo nesse ponto um paradigma com Machado de Assis, ou melhor, Quincas Borba, quando diz: “Ao vencedor as Batatas”. Afirmando que a guerra, a luta pela sobrevivência é parte vital para a sobrevivência humana (sobrevivência do mais forte). Melhor explicando, não que os diretores sejam a favor da guerras, mas mostram que os homens em maior ou menor escala vivem lutando para sobreviver.

Em “Onde os Fracos Não tem Vez”, Llewelyn Moss (Josh Brolin) é um caçador que em uma de suas caçadas, depara-se com a cena brutal de um confronto entre traficantes mexicanos. Em meio aos corpos, Llewelyn encontra uma mala cheia de dinheiro e resolver ficar com ela, mesmo sabendo que terá de fugir e se esconder, já prevendo a reação dos donos do dinheiro.
É aí que entra o personagem de Javier Bardem, um assassino profissional, frio e brutal ao extremo, contratado pela máfia para recuperar a fortuna dentro da mala. Javier interpreta Anton Chigurh, em uma aparição que tem certamente seu lugar entre os mais memoráveis “vilões” do cinema, se é que se pode apontar vilões e mocinhos no longa.
O filme tem inicio com a fuga de Anton da prisão, e segue o caminho deste atrás de Llewelyn e a mala de dinheiro. A aparência de Anton, é ao mesmo tempo enigmática, inexpressiva e assustadora, por onde passa vai deixando um rastro de brutalidade e frieza. E é nesse rastro de sangue que o personagem de Tommy Lee Jones aparece, Ed Tom Bell é o xerife local, descrente na sociedade e cansado de seu trabalho, carrega a pesada tradição familiar de homens da lei, parecendo não ver mais sentido nessa missão em tempos atuais.
De maneira independente, ainda que conectados, essa é a história de “Onde os Fracos...”, um conflito em três homens distintos em valores, e no modo de agir.

Por mais irresistível que seja a comparação com o clássico Westerns “Três Homens e um Conflito”, essa não parece ser a intenção do roteiro escrito também pelos irmãos, baseado no livro de Cormac McCarthy. Já foi dado ao filme a responsabilidade por anunciar o fim dos Westers, assim como já lhe foi agregado uma crítica geopolítica e outras subjetividades. Porém, o cinema de Joel e Ethan Coen parece ter “pretensões” muito mais concretas do que subjetivas. Um cinema seco, que não trabalha com mensagens e significados implícitos, mas, sim com o explícito mostrado nas histórias.
A história de “Onde os Fracos não tem Vez” é aquele mesma que se vê, não há algo a se entender, a se alcançar por de trás dos 122 minutos do longa, e isso se dá por opção dos seus realizadores e não por limite do filme.
Por fim, “Onde os Fracos não tem Vez” é uma obra simples mas de grande valor, realizada por quem domina a arte do cinema, por quem sabe contar uma história, e sem grandes esforços, sem “truques”, concretiza um filme único, um trabalho que se pode chamar de autoral, e que inclui o nome de seus realizadores entre os grandes diretores de cinema.

Ygor MF

Ficha Técnica
Título Original: No Country for Old Men
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 122 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Direção: Ethan Coen e Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen, baseado em livro de Cormac McCarthy
Fotografia: Roger Deakins

Elenco:
Tommy Lee Jones (Ed Tom Bell)
Javier Bardem (Anton Chigurh)
Josh Brolin (Llewelyn Moss)
Woody Harrelson (Carson Wells)
Kelly Macdonald (Carla Jean Moss)
Garrett Dillahunt (Wendell)
Tess Harper (Loretta Bell)
Barry Corbin (Ellis)
Beth Grant (Agnes)
Kit Gwin (Molly)
Rodger Boyce (Xerife de El Paso)


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11 comentários:

Unknown disse...

Bom, gostei muito do filme, embora diversas situações me sooem forçadas e desnecessárias. O final, ao contrário de muitos, até me agradou. Mas a presença de um elenco fabuloso (incluindo todos, até mesmo Woody Harrelson)e um roteiro bem construído garante a este filme uma nota muito boa.
Nota: 9,0
Abraço!

Kamila disse...

Realmente, "Onde os Fracos Não Têm Vez" é um filme muito simples e cheio de qualidades. O que mais me agrada na obra é a metáfora feita entre o personagem do Tommy Lee Jones (que representa um velho conceito de justiça, de mundo) e o do Javier Bardem (que representa um novo conceito de justiça e de mundo).

Robson Saldanha disse...

Quero muito ver esse filme, mas muitos de meus amigos assistiram e não gostaram nem um pouco. Vamos vê.

Marcel Gois disse...

Ygor, primeiro desculpa por não ter adicionado seu blog lá nos meus links antes. Falha minha. Foi mal.

E sobre o filme eu gostei mais da primeira vez que vi. A uma segunda assistida o filme perdeu mais o brilho. As atuações para mim continuaram louváveis. Mas o impacto daquela primeira vez foi o que me fez gostar mais, eu acho. E conseqüentemente desgostar depois. :S

Isabela disse...

estou morrendo de curiosidade e vontade de ver esse filme, mas o tempo anda tããão curto.

Cecilia Barroso disse...

Eu gostei muito desse filme também. Excelentes atuações e um roteiro que prima pela simplicidade.
Para mim é uma obra-prima, mas depois do que o Marcel disse, vou ver se assisto novamente.
Beijocas

Ygor Moretti disse...

é... mas considero que a segunda vez que se ve um filme é na verdade a meljhor, ai que vc presta atenção na história, nos por que dos personagens e por ai, vai, mas acontece mesmo de numa segunda vez que vemos o filme ou gostamos mais ou um pouco menos...

Pedro Henrique Gomes disse...

Eu adorei o filme, apesar de achar que quem devia ter ganho o Oscar era Sangue Negro. Mas isso são outros 500. O filme é a cara dos Coen, aliás, uns dos meus diretores prediletos.

8.3

Abraço!

Anônimo disse...

Excelente filme. Não acho que tenha merecido o Oscar, mas é realmente um filmaço. Pretendo revê-lo este mês com sua chegada em DVD. Tudo está impecável aqui, desde o elenco, a direção, ao roteiro e, claro, a parte técnica.

Ciao!

ps: vou te linkar ;)

Museu do Cinema disse...

O Javier arrasa, apesar de ser um ótimo filme, ele foi prejudicado pelo embate com Sangue Negro, que é muito melhor.

Anônimo disse...

Um grande filme, mas Sangue Negro era o merecedor daquele prêmio.
O melhor dos Coen na minha opinião ainda é Ajuste Final.