Poema Doméstico

O frio que vem pela janela da sala
contrapõe-se com o despertar de misterioso e
imprevisto bem estar.
São os barulhos da janela,
e as contas atrasadas o anúncio da morte caseira,
pronta com temperos da cozinha,
morte que interrompe as conversas de janelas e
a alternância de canais na televisão.

Devo tomar a rua, alcançar as praças,
sentar-me aos bancos.
Som baixo, jornais envelhecendo no banheiro,
o caviar apodrece no refrigerador,
espera por outras ocasiões de consumo,
intransponível...
À luz da garagem acesa, a casa dorme....

Porcelana, louça, dinheiro,
as chaves em locais fáceis,
pintava-se assim com o brilhar dos cristais no armário
a hipocrisia burguesa de um anoitecer em família.
Porém não se sabiam os burgueses dos burgos e das revoluções,
a enorme televisão ou os vinhos envelhecidos denotavam a história...

Ygor MF
Título Original: El Perro
Tempo de Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento (Argentina / Espanha): 2004
Direção: Carlos Sorin
Roteiro: Santiago Calori, Salvador Roselli e Carlos Sorin

O filme "O Cachorro" conta a história de Juan Villegas, um homem simples de 56 que vive com sua filha na desolada região da Patagônia. Mando embora do posto de gasolina onde trabalhou nos ultimos vinte anos, Villegas tenta sobreviver de uma antiga paixão; a confecção de facas com cabos artesanais, e junto a estes vairealizando pequenos trabalhos como mecânico. É em um desses trabalhos que Villegas com olhos suspeitos e medrosos ve sua vida dar uma guinada, ao receber um cão como pagamento de um trabalho.
Num primeiro momento Le Chien como é chamado o cão passa a ser apenas companhia para Villegas, que com o passar do tempo descobre que o cão pode ser a "salvação" de sua vida, ou apenas um motivo a mais para manter o sorriso no rosto e a coragem do dia-a-dia.
O Cachorro é um filme simples que toca e agrada. As atuações do atores a bela música e fotografia constatam o bom trabalho que vem sendo realizano no cinema latino como um todo, é uma história dessas que se faz acreditar, um filme que segue o viés alternativo e independente mas também pode agradar ao público mais convencional.

Ygor MF 13/11/2006

Post Coitum – Animal Triste

Câmera lenta, foco, luz , corredor.
Andar entre paredes não ousando derruba-las,
nem ultrapassa-las ou transpo-las fisicamente fazendo parte
de sua existência branca.

Aquário, remédio, flash back.
Descobrir cartas tímidas entre outras,
as minhas chegam sempre assim,
ser assim, ter assim as palavras,
em bloco entre outras.

Cenário, nu, preto e branco.
Caminhar para aquele lugar,
um lago de mármore,
oxigênio sintético.
Simetria, sinistro.

Todos os objetos do cômodo
são muralhas cinzentas de aprisionamento.
Um vaso faz chorar,
lençol, camisa de força.
A tristeza pesa no corpo,

Conspiração gravitacional.
Tu tens a tristeza num terno
que permite o abraço material,
o tapa que desmoraliza,
o murro na boca do estômago.
O teu chinelo foi roubado,
A tua cama desfeita,
Os cabelos crescem e lhe personificam, lunático.

Impossível fugir dos espelhos,
A voz alta.
O toque do telefone, o frio na espinha.
Raiva...Raiva por sentir raiva,
Por ter sido triste no ultimo instante,
Por não ter quebrado aquela vidraça.

Tomada final, take, destino.
Traição de mentira, vida de plástico,
Interpretar a si mesmo.
Não se saber personagem,
não reconhecer tua ultima conquista.

Correio, coito, canção.
Não entender o fim da historia,
claustrofobia, medo de gente, de rua vazia.
Tu tens a doença da noite mal dormida,
morte homeopática,
sem rimas, sem “casting”,
triste sem querer...

Bom... dado a escasses de textos sobre cinema, e a minha intranquilidade com isso, é que vou começar a postar aqui alguns dos meus textos, poesias, contos e outros pra que não fique um espaço tão grande em branco, até porque não me faltam textos até o momento "viviam" naquele limbo dos textos escritos e não lidos.