QUEBRA DE CONFIANÇA

Em Quebra de Confiança Ryan Phillippe é Eric O´Neill, um aspirante a agente do FBI designado para trabalhar em uma divisão criada para proteger informações confidenciais. Na verdade Eric participa de uma missão secreta que pretende desmascarar um agente duplo dentro do FBI, vendendo informações ultra-secretas aos russos. O homem sob suspeita é Robert Hanssen (Chris Cooper), um sujeito extremamente metódico e perspicaz. Eric terá de desfazer as fronteiras impostas por Robert, e conquistar sua confiança para então concluir sua missão.

O que parece ser um roteiro típico de filmes de espionagem é na verdade uma história verídica, um escândalo ocorrido nos anos 80, adaptada em um roteiro muito bem escrito que explora toda a tensão de cada situação, não absolve nem constrói vilões, mas se aprofunda nas motivações dos personagens. Essa é a força motora do filme, mais do que a história em si, as escolhas e os conflitos dos personagens é o que move o longa, como se os personagens ditassem os possíveis caminhos da história, ao invés de aceita-la passivamente.

Porém o ponto forte do longa é a atuação do elenco, Ryan Phillippe capta a incerteza de seu personagem, que conforme vai mergulhando no mundo do suspeito Robert Hanssen, vai perdendo as convicções que tem sobre a missão, confundindo-se quanto aos reais motivos da investigação, deixando inclusive que tal conflito encadeie uma crise em seu casamento. Chris Cooper é quem prende todas as atenções, o ator constrói seu personagem focado na dualidade do papel, alcança o contraste e a constante contradição com a qual esse vive.

Robert Hanssen é considerado o maior traidor da história do FBI, suas ações, além de valiosas informações para os russos, resultou na morte de muitos agentes especiais. Contudo o filme concentra-se em um suspense psicológico, mantendo o publico ligado ao filme por meio de uma tensão, ou até mesmo a ação interna dos personagens, seguindo por tanto caminhos menos óbvios.

Ygor MF

Ficha Técnica:
Título Original: Breach
Gênero: Suspense
Tempo de Duração: 110 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Direção: Billy Ray
Roteiro: William Rotko, Billy Ray e Adam Mazer, baseado em estória de Adam Mazer e William Rotko
Fotografia: Tak Fujimoto

Elenco:
Chris Cooper (Robert Hanssen)
Ryan Phillippe (Eric O'Neill)
Laura Linney (Kate Burroughs)
Caroline Dhavernas (Juliana O'Neill)
Gary Cole (Rich Garces)
Dennis Haysbert (Dan Plesac)
Kathleen Quinlan (Bonnie Hanssen)


Nome Completo: Chris Cooper
Natural de: Kansas City, Missouri, EUA
Nascimento: 9 de Julho de 1951

- Ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, por "Adaptação" (2002).- Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante, por "Adaptação" (2002).- Recebeu uma indicação ao Independent Spirit Awards, na categoria de Melhor Ator, por "Lone Star - A Estrela Solitária" (1997).
FILMOGRAFIA SELECIONADA:
O reino (Kingdom, The)2007 -
O ultimato Bourne (Bourne ultimatum, The)2007 -
2005 - Capote (Capote)
2005 - Soldado anônimo (Jarhead)
A supremacia Bourne (Bourne supremacy, The) 2003
Alma de herói (Seabiscuit)2003
Adaptação (Adaptation)2002
A identidade Bourne (Bourne identity, The)2002
O patriota (Patriot, The)2000 -
Eu, eu mesmo & Irene (Me, myself & Irene)1999
Beleza americana (American beauty)1999
O céu de outubro (October sky)1999
O encantador de cavalos (Horse whisperer, The)1998
Grandes esperanças (Great expectations)1997
Tempo de matar (A time to kill)1996
Lone Star - A estrela solitária (Lone Star)1996

ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO


Em “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto”, Philip Seymour Hoffman é Andy Andrews, um executivo cercado por problemas financeiros, viciado em drogas, que assiste a ruína total de sua vida. Seu irmão mais novo, Hank (Ethan Hawke) tem sua vida estagnada e seguindo o mesmo rumo do fracasso. Diante deste cenário triste e sem esperanças, Andy traça um plano para tirar ele e seu irmão da forca. Trata-se do roubo a uma joalheria onde Andy já tomou conhecimento de toda a rotina do lugar e das boas possibilidades da operação. O detalhe é que o lugar é nada mais do que a joalheria de seus pais.
Sendo assim está vetado o uso de armas ou qualquer tipo de violência, o plano é perfeito e um possível e futuro peso na consciência dos assaltantes será diminuído já que, os “donos” do lugar possuem seguro. Desta forma, todos saíram ganhando, segundo as teorias de Andy.
No entanto, nada sai como o combinado, Hank inclui um terceiro personagem no roubo, tão despreparado quanto ele que acaba sendo morto durante o assalto e dispara um tiro contra Nanette (Rosemary Harris) a mãe dos “garotos”, gravemente ferida, passa a viver somente com a ajuda de aparelhos.
Após todos esses insucessos, os irmãos Andy e Hank, terão de traçar um plano melhor ainda para que não sejam descobertos, tendo ainda de conter o arrependimento e lhe dar com a culpa da morte da mãe. As coisas ficam cada vez mais complicadas Charles (Albert Finney) inicia uma busca dos assassinos de sua mulher para então vingar-se, sem saber que na verdade está atrás de seus próprios filhos.
O diretor Sidney Lumet em “Antes que o Diabo Saiba...” volta ao contexto de um mal sucedido assalto, no entanto, ao contrário de “Um dia de Cão” (1975) trabalho pelo qual foi indicado ao Oscar daquele ano, em seu mais recente trabalho as pretensões do diretor cerca um contexto menor mas não menos complexo que as várias questões do longa de 1975 onde entre outros aspectos o papel da imprensa foi questionado. “Antes que o Diabo...” mostra a decadência familiar presente em nossa sociedade, o total atropelo de valores que ultrapassam laços antes sagrados entre pais e filhos.
As reações dos personagens diante das circunstâncias, são de certa forma previsíveis, levando em conta a visão seca e descrente que o diretor tem dos personagens. Porém é a instabilidade dos personagens e os conflitos que vão vindo à tona que ganham maior importância diante da própria história. O roteiro é construído com várias idas e vindas na cronologia da história, essas constantes movimentações no roteiro, enfocam a importância de cada personagem e demonstram seus respectivos caminhos até o principal acontecimento do filme, a partir daí, a seqüências da história é baseada nas conseqüências de cada e ação.
Com um elenco inspirado, além de Philip Seymour Hoffman e Ethan Hawke, Albert Finney, Rosemary Harris e Marisa Tomei estrelam esse trabalho contundente, um drama perturbador repleto de sarcasmo bem próximo da realidade.

Ygor MF
Ficha Técnica:
Título Original: Before the Devil Knows You're Dead
Gênero: Suspense
Tempo de Duração: 117 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Direção: Sidney Lumet
Roteiro: Kelly Masterson
Fotografia: Ron Fortunato
Elenco:
Albert Finney (Charles)
Arija Bareikis (Katherine)
Paul Butler (Detetive Barrett)
Leonardo Cimino (William)
Alex Emanuel (JP)
Jack Fitz (Arthur)
Rosemary Harris (Nanette)
Blaine Horton (Justin)
Sarah Livingston (Danielle)
Brian F. O'Byrne (Bobby)
Aleksa Palladino (Chris)
Amy Ryan (Martha)
Michael Shannon (Dex)
Lee Wilkoff (Jake)
Megan Byrne (Enfermeira)


Fim dos Tempos - de M. Night Shayamalan

Fim dos Tempos é o sexto trabalho da filmografia do diretor M. Night Shayamalan, chega aos cinemas dando continuidade ao que pode ser considerado uma característica bastante peculiar a Shayamalan, histórias simples e inusitadas. Com enredos muitas vezes visto em filmes de categoria B, o diretor extrai situações fantásticas dando-lhe uma “roupagem” mais artística e talhadas com quem domina as técnicas do suspense como poucos no cinema.

Em seu novo longa, estranhos acontecimentos tem início em pleno Central Park, Nova York, pessoas perdendo os sentidos, desorientadas mentalmente subitamente cometem suicídio. Tal terror segue pela cidade, onde policiais atiram na própria cabeça e trabalhadores saltam do alto dos prédios. O caos toma a cidade e se alastra por todo o pais com a apreensão de estar sendo vítima de um terrível ataque terrorista.
Assim mais “ataques” vão acontecendo em locais isolados sem que autoridades, imprensa ou as pessoas saibas os reais motivos dos bizarros acontecimentos.
Nesse percurso encontramos o professor de ciências Elliot Moore (Mark Wahlberg), que acompanhando as noticias, percebe os ataques cada vez mais próximo da Filadélfia onde ela mora com sua esposa Alma Moore (Zooey Deschanel), ao lado do amigo professor de matemática Julian (John Leguizamo), Elliot tentará conduzir sua família a um lugar seguro ao passo que também tentará entender tal fenômeno.

O roteiro segue com diversos subtextos que vão sendo propostos ao longo do filme, a importância da mídia e sua influência na vida das pessoas, além de questões como o meio ambiente e o medo constante que o terrorismo provoca. Tais temas são apresentados de forma superficial o que faz prevalecer o ritmo do filme, mergulhando o espectador num suspense caótico, próximo aos personagens a mercê do que o destino os reserva.
O clima de suspense segue alto pelos 96 minutos do filme, a tensão é sempre bem trabalhada pelo diretor, técnica que aliás Shayamalan domina como poucos. Outro elemento sempre presente em seus trabalhos, é a presença de um drama, um conflito entre os personagens que se desenvolve junto a trama do filme, numa simbiose onde esses dois núcleos (a trama do filme e o conflito pessoal dos personagens), atuam como combustível e pano de fundo alternadamente.

Mark Wahlberg carrega o papel principal do longa, e tem uma boa atuação, através do olhar de seu personagem é que temos a dimensão dos acontecimentos e junto a ele vamos tentando entender o inimigo invisível que se apresenta. Mark consegue transmitir a confusão em que se encontra a cabeça do professor Elliot Moore, vivendo uma situação onde a racionalidade de um homem das ciências é posta a prova, juntamente com os sentimentos que emergem de sua crise conjugal com a esposa Alma Moore.
A presença do personagem de John Leguizamo poderia ser tratada com mais profundidade, porém enquanto está em cena a interpretação do ator é marcante, maior mesmo que a importância de seu personagem para o filme.

A carreira de M. Night Shayamalan parece ter apenas um trabalho unânime entre publico e critica, que é sua estréia em Sexto Sentido, os demais trabalhos, sempre foram criticados por uns e elogiados por outros. No entanto o diretor e roteirista segue, num caminho onde Menos é Mais, e assim vai construindo trabalhos únicos a partir de temas menores, de uma simplicidade típicas de filmes B, que na mão de Shayamalan, tornam-se obras mais densas e originais.

Ygor MF

Ficha Técnica:
Título no Brasil: Fim dos Tempos
Título Original: The Happening
País de Origem: EUA / Índia
Gênero: Drama / Suspense
Classificação etária: 16 anos
Tempo de Duração: 96 minutos
Ano de Lançamento: 2008
Estréia no Brasil: 13/06/2008
Direção: M. Night Shyamalan

Elenco:
Mark Wahlberg ... Elliot Moore
Zooey Deschanel ... Alma Moore
John Leguizamo ... Julian
Ashlyn Sanchez ... Jess
Betty Buckley ... Sra. Jones
Spencer Breslin ... Josh

2 PERDIDOS NUMA NOITE SUJA


Roberto Bomtempo é Tonho, um brasileiro que foi tentar a sorte nas terras do Tio Sam. Porém, o que antes eram sonhos de fortuna e triunfo, tornou-se uma vontade desesperadora de voltar ao Brasil, mesmo que seja com uma mão na frente e outra atrás. Um tempo na cadeia, empregos e moradias com condições sub-humanas fizeram com que Tonho perdesse todas as suas esperanças. Junto a essa decadência, Tonho conhece Paco (Débora Falabella), que na verdade se chama Rita, porém, não suporta ser chamada por tal nome, veste-se e age como Paco, uma figura andrógena, vivendo nas ruas de Nova York, sobrevivendo do sexo oral que faz pelos banheiros, carros e outras espeluncas da cidade.


É nesse cenário caótico e deprimente que a vida de Tonho e Paco se cruza. São duas pessoas, dois brasileiros que atingiram o mesmo fundo do posso, vindos de caminhos distintos e tendo, a partir de então reações diferentes sobre a limitada perspectiva de suas vidas.
Essa é a história central de “2 Perdidos Numa Noite Suja”, baseado na peça teatral de Plínio Marcos, o filme permanece firme mesmo contando apenas com os dois personagens que durante os 100 minutos do longa, travam um diálogo ácido e depreciativo que tanto os expele quanto os une.

O roteiro é bem amarrado, não deixa o espectador se dar conta da falta de ação física, a direção é discreta e a atuação da dupla Roberto e Débora, muito convincente, por mais que em certos momentos deixem seus personagens cair numa ligeira caricatura que logo se recupera e segue no restante do filme com integridade.

Ygor MF

Ficha Técnica:
Título Original: Dois Perdidos Numa Noite Suja
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento (Brasil): 2003
Direção: José Joffily
Roteiro: Paulo Halm, baseado em peça teatral de Plínio Marcos
Fotografia: Nonato Estrela

Elenco:
David Herman
Guy Camilleri
John Gilleece
Richard Velazquez
Theodoris Castellanos
Daniel Porto

SWEENEY TODD – O BARBEIRO DEMONÍACO DA RUA FLEET

Com a adaptação de um musical da Broadway, Tim Burton, Jonhy Deep estão de volta aos cinemas. Além da dupla (diretor-ator) que juntos realizaram grandes trabalhos como, Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood, O Caveleiro Sem Cabeça, Noiva Cadáver e A Fantástica Fábrica de Chocolate. A atriz Helena Bonham Carter, esposa de Tim Burton, também presente em produções como; A Fantástica Fábrica de Chocolate, Noiva Cadáver, Peixe Grande, e Planeta dos Macacos. Estrela o longa ao lado do ator britânico Alan Rickman.

Em Sweeney Todd, Jonhy Deep é Benjamin Barker, um barbeiro londrino que fora jogado injustamente na prisão. Permanecendo por longos 15 anos longe de sua esposa e filha. De volta a cidade, usando o nome de Sweeney Todd, ele arquiteta um plano engenhoso e brutal de vingança, que derramará quantidades absurdas de sangue pela cidade de Londres. Alan Rickman é o juiz Turpin, responsável pela prisão de Benjamim, na ocasião, o objetivo do juiz era roubar a bela esposa do barbeiro. Com a suposta morte da mulher, a jovem Johanna, filha de Benjamim vive sob a tutela de Turpin. Assim Benjamim, ou melhor, Sweeney, com a ajuda da Sra. Lovett (Helena Bonham Carter) irá traçar seu rastro de vingança contra o Juiz Turpin, não perdoando qualquer outra pessoa que ouse atravessar seu caminho.
Essa é a trama do filme, que entrelaça momentos cômicos e brutais com situações inusitadas de um musical dark.

Tendo como característica natural, o exagero, o musical, encontra nas mãos de Tim Burton, a combinação perfeita para sua realização. Se tal “exagero” parece estar no momento das canções, onde os personagens atingem níveis incontroláveis de emoção, a cantoria é feita de forma primorosa, a história progride mesmo durante as músicas e essas não impõem á história pausas ou quebras de ritmo. No entanto, certo ar de desconforto pode se aproximar daqueles menos acostumados ao gênero, mas não abala a obra como um todo, também por que, a interpretação musical dos atores é de certa forma surpreendente, o que ameniza o clima enfadonho em meio a longas canções. Ainda sobre “exageros” propositais da produção, posto que o tema principal da trama é a vingança, temos a presença do sangue como uma entidade simbólica, que decreta a intensidade de tal sentimento, por outro lado compõe a base do humor negro também presente na fita. Característica essa sempre marcante nos filmes de Tim, que em Sweeney abusa de uma de suas maiores qualidades que é a de produzir imagens, e uma fotografia única no cinema, utilizando elementos básicos, mas talhados com arte como o contraste do preto e do branco.
Por fim, a visão dark do diretor e a reconstrução da Londres Vitoriana, são elementos ressaltados em todo o projeto, são pontos fortes e que por si só, fazem de Sweeney Tood um deleite visual.

Ygor MF


Ficha Técnica:
Título Original: Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street
Gênero: Musical
Tempo de Duração: 116 minutos
Ano de Lançamento (EUA / Inglaterra): 2007
Direção: Tim Burton
Roteiro: John Logan, baseado em musical de Stephen Sondheim e Hugh Wheeler
Fotografia: Dariusz Wolski

Elenco:
Johnny Depp (Sweeney Todd / Benjamin Barker)
Helena Bonham Carter (Sra. Lovett)
Alan Rickman (Juiz Turpin)
Timothy Spall (Beadle Bamford)
Sacha Baron Cohen (Adolfo Pirelli)
Jamie Campbell Bower (Anthony Hope)
Jayne Wisener (Johanna)
Ed Sanders (Toby)
Harry Taylor (Sr. Lovett)
Laura Michelle Kelly (Lucy)

ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ

Vencedor de 4 Oscars (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Javier Bardem) e Melhor Roteiro Adaptado), “Onde os Fracos Não tem Vez” mostra-se um dos filmes mais representativos da carreira dos irmãos Coen, um trabalho onde as características dos irmãos aparecem de forma mais explicita, mais emblemática. Por mais, que tais características sejam justamente a simplicidade, a linguagem direta e seca dos filmes de Ethan e Joel Coen.

A tradução do título original “No Country for Old Men” para “Onde os fracos não tem vez” que foi duramente criticada e que para Portugal ficou mais próxima do original, algo como: “Este país não é para velhos”, me parece adequada, mostrando uma reafirmação do projeto cinematográficos da dupla. Pois, seja através do humor negro, ou de uma violência ultra-realista, sem o glamour do cinema, Ethan e Joel apontam com seus filmes, para um mundo onde de fato, os fracos não tem vez.

Em filmes como “Gosto de Sangue”, “Fargo” e Mesmo em “Onde os Fracos...”, os personagens são desprovidos de moral, e suas qualidades (quando existem), caminham lado a lado com seus defeitos. Não há causa nobre, mas sim a luta pela sobrevivência, não tendo limites para essa.
Cabendo nesse ponto um paradigma com Machado de Assis, ou melhor, Quincas Borba, quando diz: “Ao vencedor as Batatas”. Afirmando que a guerra, a luta pela sobrevivência é parte vital para a sobrevivência humana (sobrevivência do mais forte). Melhor explicando, não que os diretores sejam a favor da guerras, mas mostram que os homens em maior ou menor escala vivem lutando para sobreviver.

Em “Onde os Fracos Não tem Vez”, Llewelyn Moss (Josh Brolin) é um caçador que em uma de suas caçadas, depara-se com a cena brutal de um confronto entre traficantes mexicanos. Em meio aos corpos, Llewelyn encontra uma mala cheia de dinheiro e resolver ficar com ela, mesmo sabendo que terá de fugir e se esconder, já prevendo a reação dos donos do dinheiro.
É aí que entra o personagem de Javier Bardem, um assassino profissional, frio e brutal ao extremo, contratado pela máfia para recuperar a fortuna dentro da mala. Javier interpreta Anton Chigurh, em uma aparição que tem certamente seu lugar entre os mais memoráveis “vilões” do cinema, se é que se pode apontar vilões e mocinhos no longa.
O filme tem inicio com a fuga de Anton da prisão, e segue o caminho deste atrás de Llewelyn e a mala de dinheiro. A aparência de Anton, é ao mesmo tempo enigmática, inexpressiva e assustadora, por onde passa vai deixando um rastro de brutalidade e frieza. E é nesse rastro de sangue que o personagem de Tommy Lee Jones aparece, Ed Tom Bell é o xerife local, descrente na sociedade e cansado de seu trabalho, carrega a pesada tradição familiar de homens da lei, parecendo não ver mais sentido nessa missão em tempos atuais.
De maneira independente, ainda que conectados, essa é a história de “Onde os Fracos...”, um conflito em três homens distintos em valores, e no modo de agir.

Por mais irresistível que seja a comparação com o clássico Westerns “Três Homens e um Conflito”, essa não parece ser a intenção do roteiro escrito também pelos irmãos, baseado no livro de Cormac McCarthy. Já foi dado ao filme a responsabilidade por anunciar o fim dos Westers, assim como já lhe foi agregado uma crítica geopolítica e outras subjetividades. Porém, o cinema de Joel e Ethan Coen parece ter “pretensões” muito mais concretas do que subjetivas. Um cinema seco, que não trabalha com mensagens e significados implícitos, mas, sim com o explícito mostrado nas histórias.
A história de “Onde os Fracos não tem Vez” é aquele mesma que se vê, não há algo a se entender, a se alcançar por de trás dos 122 minutos do longa, e isso se dá por opção dos seus realizadores e não por limite do filme.
Por fim, “Onde os Fracos não tem Vez” é uma obra simples mas de grande valor, realizada por quem domina a arte do cinema, por quem sabe contar uma história, e sem grandes esforços, sem “truques”, concretiza um filme único, um trabalho que se pode chamar de autoral, e que inclui o nome de seus realizadores entre os grandes diretores de cinema.

Ygor MF

Ficha Técnica
Título Original: No Country for Old Men
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 122 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Direção: Ethan Coen e Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen, baseado em livro de Cormac McCarthy
Fotografia: Roger Deakins

Elenco:
Tommy Lee Jones (Ed Tom Bell)
Javier Bardem (Anton Chigurh)
Josh Brolin (Llewelyn Moss)
Woody Harrelson (Carson Wells)
Kelly Macdonald (Carla Jean Moss)
Garrett Dillahunt (Wendell)
Tess Harper (Loretta Bell)
Barry Corbin (Ellis)
Beth Grant (Agnes)
Kit Gwin (Molly)
Rodger Boyce (Xerife de El Paso)