Capa aprovada e abaixo a segunda opção para capa do livro "Dias de Amor e Glória", ebook de José B. Cavalcante de O. Maia, lançado pela editora Simplíssimo. A história narra um romance entre uma prisioneira judia e um oficial alemão em meio a turbulenta realidade da guerra.

O desafio era transpor para a capa todos os significados desse contexto, todas as diferenças e antagonismos que caminham para uma certa convergência.



Outros trabalhos no portfólio da Capitular Design ou em meu portfólio pessoal.


A história de Tarzan chega enfim a versão 3D, com roteiro escrito por Jessica Postigo e Yoni Brenner, algumas mudanças foram feitas na clássica história. Nessa nova versão, John Greystoke Jr. perde os pais em um acidente de helicóptero e se perde na selva, sendo mais tarde encontrado e criado por um bando de gorilas.

O visual é fantástico, com direção de Reinhard Klooss e produção da Summit Entertainment e da Constantin Film. Estréia prevista para 6 de dezembro.



A CICATRIZ DE MARILIN MONROE

Quem sabe deus conheça um gozo impossível, só dele,
algo eloqüente e sem nome, diluído em dor como um soro.
Não tolero as divisas que os limites ostentam.
Tenho a hipérbole afiada como um machado que sangra.
Morrerei feliz, por favor, não chore.
Encha a taça dos olhos e celebre a passagem do século.
Morrerei feliz e distante quando passar o ciclone.

Contador Borges

Com "Turbo", lançamento da DreamWorks o diretor David Soren vem contar mais uma história de superação, baseado no lema: Nenhum sonho é grande demais e nenhum sonhador é pequeno demais. Esse tema já foi visto tanto no cinema como na literatura, a transformação do ordinário para o extraordinário; Wall E, Formiguinha Z e Fernão Capelo Gaivota só para citar alguns exemplos. No entanto, em Turbo essa saga é vivida por um caracol fascinado pelo mundo das corridas e velocidade. E é nesta ironia (Caracol x Velocidade) que o longa aposta para cativar o publico, tendo ainda uma bonita mensagem que "surge" em meio a graça e o bom humor. 

Quando o dia amanhece num canteiro do jardim, o som de um bule na janela é para uma colonia de caracóis o som que determina o início de mais um dia de trabalho. Pegar tomates maduros, escapar dos ataques das aves e seguir a instrução mais importante: Entoca e rola... Assim segue os dias de centenas de caracóis exceto o de Theo que está mais preocupado em alcançar novas velocidades e derrubar antigos recordes de velocidade. No entanto, isso é visto com maus olhos por todos os outros caracóis e principalmente por seu irmão Chet, que sendo um dos líderes do grupo preza pelo cuidado e ordem de todos.

Em meio a esse impasse de não se enxergar entre os outros indivíduos do grupo e estar perdido em uma vida que parece não fazer sentido. Theo caminha desolado por um viaduto, quando acidentalmente cai dentro do motor de uma carro de corrida e nisso seu corpo passa por uma espécie de mutação que lhe dá uma super velocidade. A partir daí a saga de Theo, ou melhor Turbo (como se autodenomina) tem início, é quando ele e seu irmão Chet entram no caminho de Tito, um frustrado vendedor de comida mexicana que até ali também não havia encontrado motivação maior para sua vida, nem meios para realizar seus sonhos. Mas agora com Turbo, seu "amiguito", como é carinhosamente chamado os dois encontrarão meios para levarem seus sonhos adiante e a audácia ou irresponsabilidade dessa dupla os levará às 500 Milhas de Indianápolis.





No elenco um time de respeito faz as vozes dos personagens; Ryan Reynolds(Turbo), Paul Giamatti(Chet), Snoop Dogg, Luiz Guzman, Michelle Rodriguez e Samuel Le Jackson. A animação, cor e os detalhes do longa são lindos, capazes de dar doçura a criaturinhas tão gosmentas como os caracóis. As cenas de corrida também são muito boas, realistas e empolgantes, cabendo até em dado momento uma nova versão de "Eye of the Tiger" para turbinar de vez a empolgação do personagem principal e por conseguinte do público.

É assim que o filme Turbo deve ganhar o espectador, que inicialmente enxergará apenas uma história meio absurda, mas depois verá que ali, em meio a caracóis e carros de corrida podem estar muito de nossas angustia e sonhos, no entanto como nos diz o "nosso amiguito": Não existe sonho grande demais, nem sonhador pequeno demais".

Veja o trailer abaixo:





Estreiando aqui no Moviemento o colaborador Marcelo Andrade, que escreve no artenomoviemento.com.br e é jornalista na produtoramc.


Loucura, se ninguém te louva, louva-te a ti própria. Pense na loucura como a sua fiel companheira. Presente na sua vida nos momentos mais decisivos e prazerosos. Elogio da Loucura, escrito em 1509 por Erasmo de Roterdã, convence o leitor que sem a loucura jamais existiria casamentos, amizades verdadeiras e seria impossível viver nos parâmetros da sociedade.

Respeitado padre, Erasmo escreveu a obra numa viagem a cavalo da Itália à Inglaterra. O toque de genialidade do livro, sempre irônico ao provocar a ordem social daquele tempo, é a impressão que você tem de que é a loucura que fala nos seus ouvidos, elogiando a si própria e mostrando o quanto está presente nos mínimos detalhes das ações humanas. Sempre com a razão, a loucura também se mostra uma coisa necessária e até sedutora.

No meio dessa viagem divertida e inteligente, Erasmo ainda faz duras críticas. Primeiro a religião, em especial à católica. Depois, aos juristas que ao criarem centenas de leis sem se preocupar com a relação que existiria ou não entre elas, estão embebidos na loucura.

“Deliciosa loucura, és a divindade que semeia a felicidade por todos os homens. Afinal, haverá criatura mais feliz, tonta, alegre e extravagante que um louco? De que valeria a vida se lhe cortássemos todos os prazeres? Por isso te louvo e presto culto. É a ti que vou
buscar inspiração para as coisas prenhes da vida. Já dizia Sófloces: Quanto menos prudência e sabedoria, maior a felicidade. Repara na infância, é um dos períodos mais alegres da nossa vida porque traz em si a sedução da loucura. À medida que o homem cresce, estuda e aprende a disciplina da vida, a sua graça murcha, a vivacidade languesce, a alegria arrefece, o vigor decresce. E a velhice só é suportável com o auxílio da loucura....” escreveu Erasmo de Roterdã em 1509.

Marcelo Andrade é jornalista na produtoramc e escreve sobre arte e
cultura no portal artenomovimento.com.br e colabora com o Moviemento
Capa do Livro "A Volta do Pequeno Príncipe" de Mary Barbeti

Mais uma capa concluída pela Capitular Design para ebook da editora Simplíssimo. Eis o resumo do livro cedido pela autora Mary Barbeti:

Ao ler o livro "O Pequeno Príncipe" pela primeira vez, isto em 1979, Mary Barbeti percebeu que o autor havia proposto um desafio aos leitores quando pediu, no epílogo de seu livro, que se alguém encontrasse o menino loiro era para escrever para ele dizendo que o garoto voltara. O apelo de Exupéry soou com veemência na alma de Mary desencadeando nela o desejo de responder ao autor. Propôs a si mesma que no tempo devido iria tentar realizar tão ousada tarefa. E foi assim que ao longo de vários anos ela trabalhou em seu projeto literário até finalizá-lo e publicá-lo em 2002.

O mundo esperava a volta do Pequeno Príncipe e a seu tempo o garoto loiro voltou, para a alegria de todos os que o aguardavam. Refazendo a trajetória feita em sua primeira viagem pelo espaço, desta vez o garoto pôde conferir como a ação do tempo produziu transformações - ou cristalizações e aniquilamentos - em todos os mundos por ele visitado. Ninguém saiu ileso do passar inexorável da vida. O tempo fez encerrar o ciclo de vida de sua rosa trazendo dor e sofrimento como ele nunca imaginou que pudesse suportar. Também houve mudanças no mundo do rei, do bêbado, dohomem de negócios... O vaidoso teve sua megalomania cristalizada. O geógrafo... Quem sabe? De volta à Terra, o jovenzinho e seus novos amigos se tornam personagens de incríveis aventuras que encantarão a todos os que cruzarem com eles.-

Para outros trabalhos veja o portfólio da Capitular Design , para um orçamento entre em contato através do site ou capitulardesign@gmail.com


VERSOS À BOCA DA NOITE

Sinto que o tempo sobre mim abate
sua mão pesada. Rugas, dentes, calva...
Uma aceitação maior de tudo,
e o medo de novas descobertas.
Escreverei sonetos de madureza ?
Darei aos outros a ilusão de calma?
Serei sempre louco? sempre mentiroso ?
Acreditarei em mitos ? Zombarei do mundo ?

Há muito suspeitei o velho em mim.
Ainda criança, já me atormentava.
Hoje estou só. Nenhum menino salta
de minha vida, para restaurá-la.
Mas se eu pudesse recomeçar o dia !
Usar de novo minha adoração,
meu grito, minha fome... Vejo tudo
impossível e nítido, no espaço.

Lá onde não chegou minha ironia,
entre ídolos de rosto carregado,
ficaste, explicação de minha vida,
como os objetos perdidos na rua.
As experiências se multiplicaram:
viagens, furtos, altas solidões,
o desespero, agora cristal frio,
a melancolia, amada e repelida,
e tanta indecisão entre dois mares,
entre duas mulheres, duas roupas.

Toda essa mão para fazer um gesto
que de tão frágil nunca se modela,
e fica inerte, zona de desejo
selada por arbustos agressivos.
(Um homem se contempla sem amor,
se despe sem qualquer curiosidade.)
Mas vem o tempo e a idéia de passado
visitar-te na curva de um jardim.

Vem a recordação, e te penetra
dentro de um cinema, subitamente.
E as memórias escorrem do pescoço,
do paletó, da guerra, do arco-íris;
enroscam-se no sono e te perseguem,
à busca de pupila que as reflita.
E depois das memórias vem o tempo
trazer novo sortimento de memórias,
até que, fatigado, te recuses
e não saibas se a vida é ou foi.

Esta casa, que miras de passagem,
estará no Acre ? na Argentina ? em ti ?
que palavra escutaste, e onde, quando ?
seria indiferente ou solidária ?
Um pedaço de ti rompe a neblina,
voa talvez para a Bahia e deixa
outros pedaços, dissolvidos no atlas,
em País-do-riso e em tua ama preta.
Que confusão de coisas ao crepúsculo !

Que riqueza ! sem préstimo, é verdade.
Bom seria captá-las e compô-las
num todo sábio, posto que sensível:
uma ordem, uma luz, uma alegria
baixando sobre o peito despojado.
E já não era o furor dos vinte anos
nem a renúncia às coisas que elegeu,
mas a penetração no lenho dócil,
um mergulho em piscina, sem esforço,
um achado sem dor, uma fusão,
tal uma inteligência do universo
comprada em sal, em rugas e cabelo.


Carlos Drummond de Andrade

Olá a todos os leitores do Moviemento, estamos aqui com mais uma entrevista com o autor, dessa vez Luiz Souza Costa é que nos dá o prazer da entrevista. 

Primeiramente quem é Luiz Souza Costa? Conte-nos sua formação e como chegou até o dia de hoje?

Aos 56 anos de idade, sou um homem simples, amante da paz e da solidariedade e muito sensível para com as causas da criança e do adolescente, dos animais e da Natureza como um todo, e, sobretudo, temente a Deus. Oriundo de proletários, servi a Marinha do Brasil, desenvolvi a função de Enfermagem em diversos hospitais de Salvador, representante comercial, fui chefe de Assistência Social na Prefeitura de Maragogipe, cursei Higiene e Segurança Industrial, técnico em vendas, fui presidente de ONG (no interior e na capital) e de partido político, fundador e redator de um periódico, instrutor social, e, apesar de apenas ter cursado o ensino médio em escola pública, realizei-o numa época em que o ensino era mais profundo. Apesar disso, concebo que depende de cada aluno se esforçar visando se aprofundar nos estudos. Atualmente presto serviço de Home Care e de empreendedor de uma empresa multimídia;

E no mundo literário como foi seu primeiro contato com os livros e como passou de leitor para escritor?

Desde tenra idade sou fascinado pele leitura. Porém, por assuntos profícuos, iniciando com literatura infantil e, gradativamente, por questões sociais, filosóficas, psicológicas, históricas, religiosas e medicinais. Conforme descobri meu forte senso de justiça e meu espírito altruístico, me senti impulsionado a espelhar a ação do beija-flor, contribuindo para apagar o “incêndio social” que há décadas o Brasil experimenta;

Você lançou no Clube de Autores o livro Inversões de Valores à Moda Brasileira, conte-nos um pouco mais sobre a obra.

É uma espécie de libelo ou uma propugnação não somente contra as malversações do dinheiro público, mas principalmente contra as inúmeras formas de degradações dos costumes também imperantes no Brasil. E sendo produzida por um autodidata, o qual “atravessou desertos” no período de sua elaboração, sem nenhum apoio institucional ou particular, obrigou-me a desprender um esforço hercúleo através de uma vontade férrea, mas sempre no intuito de servir-me de instrumento de Deus. E para concebê-lo, abeberei-me de diversas fontes literárias e perlustrei nos mais diversos ambientes durante muitos anos, contribuindo para mesclar teoria com empirismo;

Dentre as inversões citadas no livro qual a que mais lhe chama atenção?

O ter em detrimento do ser é bastantemente pernicioso às relações sociais, e, por conseguinte, um sentimento hedonista ou sublunar que fomenta o egoísmo, a concupiscência, a falta de amor, a ganância, inclusive pelo não essencial, enfim, produz injustiças e deterioração das relações sociais e familiares. No caso do Brasil, tais sentimentos são devastadores e amplamente estimulados. Além disso, aqui é trivial pessoas granjearem fama e fortuna através de atos de canalhices com o apoio de parte da mídia e sem que nossas autoridades apliquem os Códigos de Ética, nos limites, objetivando sustá-los. Com efeito, pessoas em plena fase de formação da personalidade absorvem tais conceitos inversos e passam a conceberem como normais e aceitáveis. Por isso, com um exemplo no meio de milhares, um número incomensurável de crianças brasileiras têm avidamente desejado ser uma reboladora de lubricidade vergonhosa, que reproduz a baixíssima sexualidade (da espécie Carla Perez), mas não têm desejado ser professora, médico, advogado ou qualquer outro profissional que contribua benevolamente para o engrandecimento da sociedade;

O que você pensa sobre o atual momento do país? Em que ponto essas manifestações podem colaborar para corrigir os valores socais?

Há tempos que já deveria ter desencadeado. É reflexo de um “tumor social” que estourou num “corpo em estado de metástase” chamado Brasil. Por diversas razões, a grande maioria da sociedade brasileira, consciente ou inconscientemente, desejava promover ações de repúdio contra as malversações do dinheiro público, exigindo melhores atendimentos nos serviços essenciais, como também à vergonhosa e histórica impunidade em favor dos poderosos. Entretanto, as vergonhas brasileiras não se restringem às más ações de muitos de nossos políticos e da má aplicação das leis, inserindo-se improbidades praticadas por integrantes do Judiciário. Nossas mazelas sociais também devem ser atribuídas, além do péssimo atendimento aos serviços públicos essenciais, à péssima distribuição de renda, à sexualidade exacerbada, ao sistema carcerário, à permissividade a muitos incentivadores de inversões de valores, deixando ególatras irresponsáveis agirem a seus bel-prazeres (como urubus da mídia ou proxenetas virtuais), às ações vampirescas de altos empresários, banqueiros e latifundiários (tendo como exemplo operadoras de celular), a alguns artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente, ao corporativismo dos poderes constituídos, de modo que imputam um ao outro a culpa dos problemas nacionais, além de inúmeras outras incongruências deletérias em detrimento da nação, mas sempre atingindo mais ampla e profundamente a baixa camada social. E como de toda ação provém uma reação, os movimentos que aí estão clamando por justiça devem se organizar ainda mais e criarem forças a fim de pacificamente exigirem as correções de todos os meios diretos e indiretos que desencadeiam desequilíbrios sociais até atingirem os outros mecanismos que também são responsáveis pelo fomento dessa degringolada de valores que a cada dia se agrava em nosso país;

Em algum ponto essas manifestações demonstram algum tipo de contradição ou inversão de valores?

Sim. Deixarem mais claro dois pontos: 01. Através de seus líderes, quais os anseios exigidos a fim de que também conscientizem melhor e de forma mais ampla ao quinhão da sociedade que menos entende suas razões; 02. Também deixarem mais evidentes e com muita ênfase que não se coadunam ou se compactuam com os vândalos;

Além do livro "Inversão de Valores à Moda Brasileira" você possui alguma outra obra pronta ou em produção? Pode nos contar sobre?

Sim. Um livro de Crônicas, sempre voltadas às questões sócias, um livro inacabado, o qual talvez seja o Inversões de Valores à Moda Brasileira II, muitos pensamentos meus, e coletâneas de asserções de pensadores universais;

Por fim, deixamos aqui esse último espaço para que você mande um recado para seus leitores e outros autores que assim como você estão buscando um espaço no mercado editorial:

Em primeiro lugar, nunca se desvencilhar da fé em Deus. Depois, sobretudo àqueles que não se dispõem de apoio material e de incentivos emocional e psicológico, mesmo no seio da família, e cujos anseios sejam sublimes, devem buscar uma força interior profunda, com espírito recalcitrante e até estoico a fim de superarem as adversidades e as  vicissitudes. Que não sejam pusilânimes em relação aos anelos que visem de uma forma ou de outra contribuir para melhorar a condição humana ou social. Inclusive, estarem atentos a pessoas que se dizem “amigos”, mas no fundo estão sentido inveja de suas iniciativas e fazem algo no intuito de lhes dissuadirem. Finalmente, orar para aqueles que, veladamente ou não, desejam seus fracassos, e que eles tenham vida longa a fim de testemunharem suas vitórias. Sobretudo, num país repleto de preconceitos.
Capa do Livro Do Som ao IMpacto

Trecho do conto "Quatorze Palavras Contadas" do livro "Do Som ao Impacto", publicado no Clube de Autores.


Escrever uma carta para minha família era apenas a transposição de algum texto para o papel. Aquela próxima mensagem tinha por objetivo ser enxuta, direta, ainda mais por
tratar-se da morte de meu pai. Há tempos que eu não o via, um tanto culpado e ferido,
mas, no fnal, achava alguma justifcativa para minha distância. Os meus erros e medos eram todos causadores deste vazio dos últimos três anos. Portanto a manifestação mais viva de sua presença foi a carta de sua morte.

O velho estava morto, mas a sua influência ainda se fazia naquelas quatorze palavras, contando os artigos: “O Velho está morto. Seu enterro será amanhã no Araçá. Nós o velaremos hoje”. É triste não estar triste, é triste receber e compreender as
coisas como eu andava aceitando tudo, nenhuma reivindicação contra os adeuses, o impossível e incerto, eu nada sentia e estava triste por isso.

É por regras de não amar e naturezas agrestes que eu sou a antítese de tudo que esperam de minha família ou do que vem dela. Eu sou aquele emotivo bem próximo do bêbado, que tem o choro condicionado pelo choro alheio, ou por certas músicas e finais de filme, dono de um sentimentalismo barato, quase brega e em outros momentos nobre.
Diz-se que um abraço quebra barreiras, dá maior ênfase às mensagens quando as palavras ou qualquer outra manifestação são inoportunas, longa demais. Acredito no poder terapêutico deste acontecimento entre duas pessoas. Eu sou aquele que prolonga o ato e segura o outro um tempo a mais entre os braços, controlo também a intensidade, sou eu quem surpreende e ultrapassa o aperto de mão a união do peito, ao entrelaço.

Eu era particular de um amor circuncisado, que tinha como razão a persistência genética e tradicional. Arrumei minhas coisas. Eram já nove horas da noite, tempo frio e seco. A
tia Dora esperava-me e logo que me viu foi dizendo:
- Será amanhã às nove horas. Não podia deixá-lo sozinho. Aqui está a papelada. Tudo já foi providenciado. A família dos Teixeira nos cedeu um jazigo. Minhas costas doem e estou sem meu remédio, preciso ir...

Não precisei abrir a boca, apanhei a papelada. Naquela noite, pelo menos até ali, só mesmo meu pai resolveu morrer. Nos olhos de minha tia por trás de um cansaço imediatamente percebido, um alívio parecia brotar dependendo apenas da próxima noite de sono.
- Por que você não soube respeitar o fato de eu não ser a sua repetição - dizia eu agora debruçado sobre o corpo. A pele fria de um morto sempre assusta. É aquela temperatura desconhecida, inesperada, um frio úmido, os algodões em seu rosto espantavam qualquer lembrança ou persistência vital. Eu não tinha mesmo nenhuma dessas lembranças, a não ser aqueles abraços oblíquos e desconfortantes...

Capa criada para ebook da Editora Simplíssimo, no pedido da autora deveriam ser evitados imagens fortes como aquelas usadas em embalagens de cigarros. De cara me distanciei de qualquer simbolo do tipo "Proibido Fumar" etc. Ainda se baseando na descrição da autora, procurei esse tom azulado para alcançar uma atmosfera alcalina que representa alto índice de oxigenação, as duas árvores reforçam isso fazendo a vez dos pulmões.

Em outra idéia tentei fazer uma espécie de um infográfico, de início seria mais ou menos o manual de "como parar de fumar" mas optei por mostrar nesse infográfico o que deveria acontecer com a pessoa que para de fumar, novas possibilidades em sua nova vida saudável, mas essa não foi aprovada.


Mais trabalhos no portfólio da Capitular Design e em meu portfólio pessoal.


Oceano Nox

Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o vôo do pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...

Antero de Quental

Continuando a divulgar meu livro que está no Clube de autores, publico aqui mais um poema do livro "Um Objeto Quando Esquece".

Homem Jovem à sua Janela

A rua não sabia que era espiada,
nem o parapeito era usado num quase salto,
num sobre-salto sobre as pretensões possíveis do quarto.
Os prédios e toda a geometria da esquina não suspeitavam
do homem à janela.

Atrás do Homem na Janela um poema aguarda seu fim,
Alguém lá dentro retrata tudo o que é de fora, o que não pertence ao Homem,
Tudo o que é rua e paisagem na real composição de quem observa e constrói o movimento e o estático.

Atrás do Homem um corpo que acorda, que agoniza
ou não reclama mais a sua vida.
No entanto a calma de quem está na janela
é a de quem logo descerá à rua
e irá pegar o pão fresco na padaria,
ou o jornal que ainda não
anunciou o homicídio.

Enquanto o Homem permanece à janela
não permite que a morte seja algo maior do que os seus trabalhos noturnos.
Não surgirá por enquanto a falta.
Por enquanto ainda não se deu o atraso no trabalho,
E todas as pretensões daquele cadáver ainda aguardam
suas realizações.

O Homem à janela mantém as mãos sujas guardadas nos bolsos,
e a face lânguida incapaz de voltar-se a cena do quarto
observa a esquina e a mulher de vestido.
Tenta alcançar as impossibilidades de um assassino, enquanto
bem menos possíveis dois olhos mortos vividamente estáticos o
observam da cama...

Capa do livro "Um Objeto Quando Esquece"