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A BELA DA TARDE

Um casal apaixonado, uma esposa linda e recatada, um marido presente e atencioso, essa é a impressão que temos de Séverine e Pierre Serizy durante os primeiros segundos de “A Bela da tarde”, enquanto os dois passeiam numa carruagem aparentemente de forma romântica. Minutos depois o marido ordena que a carruagem seja imediatamente parada, arrasta a mulher para dentro da mata e pede ao cocheiros que à amarrem numa árvore e comecem a chicote-la para depois abusar sexualmente da esposa. Mas calma, tal brutalidade não passou de um sonho, de um devaneio de Séverine (Catherine Deneuve), uma moça tímida, de uma sensualidade contida mas que mesmo assim desperta o desejo dos homens e a curiosidade das mulheres.



Em seus pensamentos mais recônditos Séverine alimenta estranhos desejos sexuais e um profundo descontentamento com os prazeres que o marido pode lhe proporcionar.
Quando tem conhecimento da existência de um discreto bordel de Madame Anaïs, Séverine dá inicio a busca da realização de suas obsessões. O endereço Cité Jean de Saumur, nº 11, ressoa em sua mente, ainda que temerosa Séverine mergulhará enfim num mundo que lhe é totalmente avesso as suas convicções sociais, deparando-se com personagens e situações bizarras que no entanto, não a assustarão mais.

Essa é a história de “A Bela da Tarde”, que segue com um clima de surrealismo e suspense, talvez essa a maior qualidade do trabalho do diretor Luís Buñuel, imprimir tal clima surrealista de forma discreta, nas pequenas coisas, nos pequenos gestos e olhares dos personagens. A sensação é a de que em todas as cenas, algo vai eclodir na tela, uma situação ou um desvario virá a tona.
Contudo, o roteiro de bases simples não torna o entendimento da trama complexo, mesmo com constantes incursões pela mente de Séverine, nada se mostra explícito ou gratuito. Se as coisas realmente acontecem ou são apenas desejos íntimos de Séverine ou mesmo de Pierre seu marido, tudo permanece num leque de opções que o roteiro apresenta. Assim, mais do que um drama surreal que se “explica” e se utiliza de tal característica “A Bela da tarde” soa melhor como um intrigante drama psicológico, vivido por um personagem atormentado por estranhos desejos secretos. O que há de surreal na obra está incurtido no constante suspense ao longo do filme.

A atuação de Catherine Deneuve corresponde à complexidade de sua personagem, a atriz compila gestos e olhares dúbios que a todo instante confundem ou escondem sua verdadeira personalidade.

O filme ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e teve uma “continuação” filmada em 2006 “Sempre Bela” onde um homem 38 anos depois reencontra a esposa de um amigo, que se prostituía.
Antes de filmar A Bela da Tarde, a atriz Catherine Deneuve interpretou outra personagem com sérios distúrbios sexuais em “Repulsa ao Sexo” (1965) de Roman Polanski , no longa Catherine é Carol Ledoux, uma bela mulher que é sexualmente reprimida e vive com sua irmã mais velha. Ela constantemente resiste aos assédios do seu namorado e também desaprova o amante da irmã. Quando esta viaja com ele em férias, Carol fica sozinha no apartamento e se afunda em uma profunda depressão, passando a ter várias alucinações. Reza a lenda que a atriz teria “ganho” seu papel em “A Bela da Tarde” após o diretor ver sua atuação em “Repulsa ao Sexo”.

Ygor MF

Ficha Técnica:
Título Original: Belle de Jour
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento (França): 1967
Direção:
Luis Buñuel
Roteiro: Luis Buñuel e Jean-Claude Carrière, baseado em livro de Joseph Kossel
Direção de Fotografia: Sacha Vierny
Elenco:
Catherine Deneuve (Séverine Serizy)
Jean Sorel (Pierre Serizy)
Michel Piccoli (Henri Husson)
Geniviève Page (Madame Anais)
Pierre Clémenti (Marcel)
Françoise Fabian (Charlotte)
Macha Méril (Renee)
Muni (Pallas)
Maria Latour (Mathilde)


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2 comentários:

Sergio Deda disse...

Quero assisti-lo faz um tempinho jah, mas nunca o fiz ainda... parece ser muito interessante...

vlws

Anônimo disse...

Tem cara de ser imperdível (e difícil de encontrar). Buñuel é obrigatório.

Ciao!