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DO QUE EU FALO QUANDO EU FALO DE CORRIDA - Parte 1


“Do que eu falo quando eu Falo de corrida” é o nome de um livro de Haruki Murakami, um autor japonês, que de dono de bar de jazz tornou se simultaneamente escritor e maratonista, chegando a completar mais de 25 maratonas, provas de triátlon e a ultra-maratona, percurso de 100 kilometros.

Penso na impossibilidade de uma “raça” uma espécie de pessoas que possa vivenciar esses dois mundos aparentemente tão distantes. Obviamente que não são tão distantes, obviamente que não é um acontecimento, um surgimento de uma nova raça ou tendência, muito menos importante para o cosmos, um acontecimento banalíssimo, um encontro casual de um sujeito que se apaixonou pelas palavras e por certas necessidades se apaixonou novamente pelo prazer de correr.

Penso na sensação única que seria ser invadido pela endorfina enquanto se digita um terceiro parágrafo de um conto ou qualquer outro texto, e a partir desse momento igual acontece após os primeiros 15 minutos da corrida, não se quer parar mais... Porém escrever pra mim é um ato de constante insistência, sendo perseguido pela necessidade constante de terminar e alcançar “aquele” ponto final. Pois é nesse ponto final que sinto algo parecido com a endorfina pelo corpo, é quando você percebe à que veio ao mundo, é quando o seu dever, em parte, está cumprido, e livre daquelas palavras daqueles sentimentos você pode se deitar, pensar em nada ou virar a página para divagar em outras questões.

Correr e escrever são coisas semelhantes justamente em suas diferenças... Ficou difícil? Vou tentar explicar: Quando você começa a correr, você sabe a distância que vai percorrer, sabe onde fica o ponto final, e por mais difícil que seja, você aprecia cada passo, ao final, vem um misto de alegria e tristeza, alegria por ter chegado ao fim, e tristeza porque na maioria das vezes quando se tem um fôlego ainda, é preciso fazer um ultimo esforço para se conter e reconhecer o seu limite até ali e decretar fim da corrida, daquela corrida.

Em contra partida, quando se começa pela estrada branca de uma folha em branco, você pode até ter traçado tópicos, parâmetros e ter uma história com inicio meio e fim. Mas o caminhar é árduo, no lutar com as palavras, no forjar as frases e manter-se no itinerário, almeja-se assim muito mais o final onde na maioria das vezes se encontra com o conforto, ou, ainda que ao fim veja que aquele trabalho não está pronto, tem-se ali uma primeira etapa, uma via primitivamente pavimentada, passo e repasso algumas vezes como um rolo compressor para deixar aquele caminho cada vez mais claro, mais objetivo, melhor... Mas isso só acontece quando se consegue domar a estrada pela qual as palavras vão transitar, e isso raramente acontece, penso que as palavras ou a história em si é quem nos doma e nos mostra o caminho, nos tornando operários da palavra, chega-se então a um fim que não se tinha programado,a um lugar desconhecido, antes inimaginável, mas digo, de forma consciente e lúdica foi você quem construiu esse “pequeno mundo...

Ygor Moretti



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