My Funny Valentine

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Trecho do conto My Funny Valentine e música que o inspirou...


Os carros iam passando diante de seus olhos calmos-curiosos. Debruçada no banco traseiro ignorava mais uma advertência de sua mãe a respeito de sua postura dentro do carro, a menina observava os diferentes carros e pessoas que se aproximavam do automóvel de seu pai. Tinha enjoado de perguntar quanto do percurso ainda tinha de ser percorrido. Procurou outras coisas merecedoras de sua atenção. As mãos apoiadas no queixo de tempo em tempo soltavam-se explodindo um sincero aceno em direção aos passageiros dos outros carros. Com o balanço de suas pequenas “mãozinhas” seus lábios formavam, sem emitir som a palavra: “tchau”. 

Virou-se. Permaneceu sentada corretamente no banco de passageiro, do jeito que sua mãe queria que fosse. Decidiu que mais nada merecia sua atenção. Observando aquela natureza patética do interior de um automóvel adormeceu. 
Em seu sonho o carro de seu pai deslizava sutil pela auto-estrada, não havia outros carros e podia se ver lá na frente a praia rente a estrada, não havia em sua mente a complexidade 
da arquitetura das cidades. Para entrar na água, a qual ela não mais temia, era só descer do carro e pronto, de encontro as primeiras ondas que em seus sonhos eram sempre pequenas. 

Quinze anos se passam. Ela tem agora o andar de uma mulher. Se os seus 24 anos não lhe tornava completa, intelectualmente ela estava emancipada, diferente de outras 
moças de sua idade. Conseguia compreender os filmes daquele diretor, entendera que para certas artes temos de estar prontos, aptos, merecedores de seu entendimento. Uma menina mulher, uma mulher ainda menina, busto, coxas, cabelos, cintura, olhos... coisas que construíam um olhar... 

Descia a rua Augusta rumo ao Espaço Unibanco. “Curta as Seis”. Filme Europeu, assim Helena era mais Helena. Discreta porém elegante, dava margem para a suspeita de ser 
uma prostituta. Mantinha um sorriso entre-aberto no rosto como quem cumprimenta a noite que se aproxima e todos os homens como supostos clientes. Num modo pessoal de 
crueldade, um humor requintado que só mesmo ela achava graça. As luzes no cabelo iam se apagando, era preciso voltar ao salão de beleza, porém era preciso esperar para ter dinheiro e voltar “Aquele” salão. Os seus lábios estavam um pouco ressecados, tinha visto numa revista a receita de uma mistura de frutas para hidratá-lo. O seu rosto estava perfeito, a mudança de alimentação desde o mês passado fizera efeito de fato. 

Com algumas roupas ainda se achava um pouco gorda, algumas outras porém lhe davam a cintura perfeita e a aparência de estar dois quilos acima do peso. De acordo com o que ouvira de um amigo; era a perfeição física de uma mulher segundo os homens ou as bichas como ele. Estava satisfeita consigo, com o que via no reflexo dos vidros dos carros e lojas, um sorriso ameaçava tomar seu rosto tamanho era o orgulho de sí mesma. Saindo do cinema, tour pelo centro, fazia questão de pegar o “Avenidas”, adorava o trajeto daquele ônibus por mais que levasse maior tempo até o apartamento. 

Helena era um ímã para cafajestes...



Texto completo no livro Do Som ao Impacto e Outras Histórias publicado 





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