O Azarão de Markus Zusak - Literatura de Esbarrão

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É possivel que você leitor do Moviemento (apesar que desconfio que esse ser não exista...), não reconheça o nome de Markus Zuzak, pode ser também que não conheça ou tenha lido os livros "O Bom de Briga" e "O Azarão" que esse autor também responsável pelo badalado "A Menina que Roubava Livros", escreveu e recentemente foi adaptado para o cinema.

Ah! Agora você sabe de quem estou falando, pode ainda não saber mas sabe do que esse australiano é capaz. Pois bem, O Azarão é o livro que antecede a história de "O Bom de Briga", história da família Wolfe, mais própriamente dito dos irmãos Wolfe. 

O livro faz parte da trilogia dos irmãos Wolfe que segue depois com "O Bom de Briga" e termina com "A Garota que eu Quero", nesses três livros o autor trata da "evolução" ou da intimidade do jovem Cameron Wolfe, filho caçula de uma família de 4 irmãos, dois meninos e uma menina e pais igualmente austeros, como todo convivio entre irmãos com alto indice de hormônios no corpo costuma ser.

Em "O Azarão" Cameron se apaixona por uma garota, mas não tem a menor noção de como conquista-la ou até mesmo como revelar o sentimento e se aproximar da moça. Além do mais, o garoto a conheceu quando foi trabalhar de ajudante de encanador com seu pai, sendo o lado profissional mais um entrave para o relacionamento, não precisamente para o relacionamento mas para a confiança e auto-estima de Cameron, sempre em baixa.

Ao menos em "O Azarão" e no "O Bom de Briga", o que mais chama atenção no texto e na história, é a pegada do autor, o foco pelo qual ele nos faz transitar ao ver personagens tão ricos e verdadeiros, diz-se por aí que essa trilogia tem muito de auto biográfico de Zuzak, contudo, o autor consegue criar um personagem bastante complexo, pois se o convívio com a familia e principalmente irmãos é marcado por socos e pontapés, existe sim carinho e afeto entre esses familiares e mais ainda entre Cameron e Ruben Wolfe que fazem quase tudo juntos, embora sejam bem diferentes um do outro. Assim, desde pequenos furtos, ou planos a furtos maiores que nunca acontecem, outros delitos e treinos de boxe, os irmãos vão descobrindo seus limites, as dificuldades do dia a dia e a necessidade de estarem cada vez mais unidos.

O texto é simples e fácil de ler, há sim algo diferente como os pensamentos dos personagens que se apresentam quase como uma invasão em partes do romance. O autor consegue criar personagens verdadeiros que tornam sua aceitação e empatia, complexa, pois não estamos nem diante de vilões, tão pouco de heróis, e entre admirações e decepções, concordando e discordando de cada decisão, o leitor se depara não apenas acompanhando mas torcendo para que tudo acabe bem.

Livros do autor: 
The Underdog (1999) - O Azarão 
Fighting Ruben Wolf (2000) - Bom de Briga 
When Dogs Cry (2001) - A Garota Que Eu Quero 
Bridge of Clay - A Ponte de Clay, ainda não publicado. 


Trechos do livro:

..."Estávamos vendo tevê quando decidimos assaltar o dentista. — O dentista? — perguntei ao meu irmão. — Claro, por que não? — Foi a resposta que ouvi. — Você sabe quanto dinheiro entra numa clínica dessas durante o dia? Chega a ser obsceno. Se o primeiro-ministro fosse dentista, o país não estaria do jeito que está agora, sério. Não haveria desemprego, nem racismo, nem machismo. Só dinheiro. Certo. Concordei com meu irmão, Ruben, só para deixá-lo feliz. A verdade é que ele estava apenas se exibindo. Um de seus piores hábitos. Essa era a primeira verdade, mas tinha outra. A segunda era que, mesmo que tivéssemos decidido assaltar o dentista, nunca faríamos isso. Até agora, nesse ano, tínhamos prometido assaltar a padaria, o hortifrúti, a loja de ferragens, a lanchonete e o oftalmologista. Nunca aconteceu. — E desta vez, falo sério. — Rube sentou-se na ponta do sofá. Deve ter percebido o que eu estava pensando. Não íamos roubar nada. Éramos casos perdidos...


...Nosso plano era ir atrás dele rápido. Não adiantava esperar uma semana ou duas. Se esperássemos, a vontade de tirar a limpo aquela história com o cara ia passar. Sem chance de isso acontecer. Descobrimos que o tal Bruce Patterson estava saindo com outra garota havia cerca de um mês e enganava minha irmã, aparecendo por aqui. Era um tapa na cara de todos nós, que o deixávamos entrar em casa, enquanto ele andava por aí com alguma vagabunda. — Será que devemos acabar com ele? — perguntei a Rube, mas ele só olhou para mim, com ar de riso. — Tá falando sério? Olhe o seu tamanho. Você é tipo um chihuahua e o Patterson é uma porra de um armário. Você tem ideia do que aquele cara faria a você? — Bem, pensei que talvez nós dois. — Também não sou grande coisa. — Foi a resposta curta de Rube ao meu comentário....

...Como de costume, papai e eu fomos para o trabalho no sábado, na casa dos Conlon. Em vez de manter você em suspense (se é que você ainda liga para isso), eu podia muito bem dizer que, dessa vez, ela estava lá, linda como sempre. Eu ainda estava trabalhando debaixo da casa, quando ela veio. — Ei, senti sua falta na semana passada — falei quando ela apareceu, e na mesma hora dei um tapa na cabeça, a frase era muito ambígua. Quero dizer, será que significava senti sua falta, como em "eu não vi você" (que era a mensagem pretendida) ou significava você partiu meu coração por não estar aqui, vaca idiota? Não tinha certeza de qual mensagem estava transmitindo. No fim das contas, só podia torcer para que ela pensasse que eu estava dizendo apenas que não nos vimos. Você não pode parecer muito desesperado em uma situação assim, mesmo que seu coração esteja acabando com você por dentro...


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