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Quinze anos se passam. Ela tem agora o andar de uma mulher. Se os seus 24 anos não lhe tornavam completa, davam a ela a emancipação intelectual que difere as moças assim independentes das outras. Conseguia compreender os filmes daquele diretor, entendera que para certas artes temos de estar prontos, aptos, merecedores de seu entendimento. Uma menina mulher, uma mulher ainda menina, busto, coxas, cabelos, cintura, olhos...um olhar...


Descia a rua Augusta rumo ao Espaço Unibanco. “Curta as Seis”. Filme Europeu, assim Helena era mais Helena. Discreta porém elegante, dava margem para a suspeita de ser uma prostituta. Mantinha um sorriso entre-aberto no rosto, como quem cumprimenta a noite que se aproxima e todos os homens como supostos clientes. Num modo pessoal de crueldade, num humor requintado.


As luzes no cabelo iam se apagando, era preciso voltar ao salão de beleza, porém era preciso esperar para ter dinheiro e voltar “Aquele” salão. Os seus lábios estavam um pouco ressecados, tinha visto numa revista uma receita de uma mistura de frutas para hidratá-lo. O seu rosto estava perfeito, a mudança de alimentação desde o mês passado fizera efeito de fato.


Com algumas roupas ainda se achava um pouco gorda, algumas outras porém lhe davam a cintura perfeita e a aparência de estar dois quilos acima do peso. De acordo com o que ouvira de um amigo, era a perfeição física de uma mulher. Estava satisfeita consigo, com o que via no reflexo dos vidros dos carros e lojas, um sorriso ameaçava tomar seu rosto. Saíndo do cinema, tour pelo centro, fazia questão de pegar o “Avenidas”, adorava o trajeto daquele ônibus por mais que levasse maior tempo até o apartamento. Helena era um ímã para cafajestes...

Trecho do Conto "My Funny Valentine"


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