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O Sacrifício – de Andrei Tarkovski
O filme "O sacrifício" narra a história do professor e escritor aposentado Alexander, que vive no campo ao lado de sua família e prepare-se para comemorar seu aniversário. No entanto a reunião familiar é abalada com a noticia de um início de guerra nuclear. A partir daí, cada integrante da família terá um tipo de reação diante da possibilidade do fim do mundo. O que não é exagero pensar caso uma guerra nuclear ocorresse de fato.

O longa é de 1986, ano do desastre nuclear de Chernobyl, período em que o mundo permanecia tenso diante da Guerra-Fria. Porém, “O Sacrifício” não é um drama que especula sobre o perigo das armas nucleares, ou faz uma crítica sobre o uso que a humanidade faz de tal energia. Por outro lado não podemos dizer também que seja uma perturbadora obra de ficção aprofundando-se em uma situação catastrófica de um apocalipse projetado pelo homem. Tarkovski utiliza-se de um tema amplamente complexo para progredir ao encontro de temas de uma natureza mais filosófica e religiosa.

Através do personagem Alexander, um intelectual e ateu convicto, o diretor explora o conflito em que o homem na incerteza da vida e na certeza da morte se depara. Em dado momento Alexander ajoelha-se e renega toda a sua vida, seus valores e tudo que o cerca para que o mundo volta-se a ter a “paz” daquela manhã anterior a notícia da guerra. Inútil, incapaz e solitário, o professor clama a Deus, reza e chora.

As reações de Alexander e dos demais personagens refletem e muito, o momento pelo qual o diretor Andrei Tarkovski passava. Sofrendo de um câncer no pulmão durante as filmagens, o diretor viria a falecer meses depois de concluir “O Sacrifício”.

Toda a obra de Tarkovski é marcada por uma forte carga existencial e espiritual, “O Sacrifício” é entre seus trabalhos o que mais se destaca por ter um ritmo extremamente poético, longas tomadas, grandes planos e seqüências “intermináveis" de silêncio (elementos encontrados em toda a filmografia do diretor, mas em maior quantidade em “O Sacrifício”). Um filme para ser apreciado com toda a paciência que couber ao espectador, degustando cada imagem, observando cada movimento da câmera. Pois em seu último trabalho é que fica mais evidente, mais explicito, o “fazer” poético e a arte da execução que Tarkovski tinha controle.

O filme foi rodado na Suécia, durante o exílio do diretor. O elenco tem uma atuação bastante centrada, convicta. O roteiro não sofre grandes artimanhas, variações ou esquemas, segue num ritmo lento, com diálogos repletos de angustia, contrapostos a longas divagações dos personagens. Ao fundo a trilha sonora de Bach amplia a angústia e a poesia dos longos planos que em alguns momentos ultrapassam dez minutos sem cortes.

Outro fator que impressiona no trabalho de Tarkovski e deixa claro sua genialidade, é o posicionamento da câmera, por diversas vezes o espectador é colocado como se estivesse assistindo a uma peça de teatro. Mantendo planos privilegiando os cinários, diminuindo os cortes e fazendo com que a interação do atores com o cenário ganhe força, vitalidade e naturalidade.

Contudo segue a orientação, ou melhor, o aviso de um filme difícil que exige paciência e a total falta de preconceitos, que ao final resultará em uma rara experiência cinematográfica.
Ygor MF

Abaixo o filme “O Sacrifício” nas palavras de seu realizador:
"O assunto que abordo neste filme é, na minha opinião, o mais crucial: a ausência de espaço para a existência espiritual, em nossa cultura. Nós ampliamos a meta das nossas realizações materiais e conduzimos experiências materialistas sem levar em conta a ameaça que é privar o homem de sua dimensão espiritual. O homem está sofrendo, mas não sabe porque. Ele sente uma ausência de harmonia e procura a sua causa."

Andrei Tarkovski
Título original: Offret (Suécia/ Inglaterra/ França, 1986)
Diretor: Andrei Tarkovski
Elenco: Erland Josephson, Susan Fleetwood, Allan Edwall, Guðrún Gísladóttir, Sven Wollter, Valérie Mairesse, Filippa Franzén
Idioma: Sueco
Legendas: Inglês, espanhol, português
Gênero: Drama
Duração: 142 min. Cor

Veja também a resenha do filme “A infância de Ivan” http://moviemento.blogspot.com/2007/12/infncia-de-ivan-de-andrei-tarkovsky.html

o diretor Andrei Tarkovski



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5 comentários:

Robson Saldanha disse...

Não tenho costume de ver filmes antigos. Muito feio isso, to tentando mudar!

Isabela disse...

Não conhecia esse filme, mas admito que a trama me despertou certo interesse. Quero ver se consigo encontra-lo!

Kamila disse...

Ygor, já ouvi falar do Tarkovski, mas nunca assisti a um filme dele. Seu texto me deixou interessada nesse "O Sacrifício".

Daniell disse...

Ok, eu admito, não gosto desse filme. O Tarkoviski cansa a minha beleza com todo esse discurso transcendente o tempo todo...

Anônimo disse...

Ygor, bela escolha. Um filme poético, lento, mas nem porisso menor. Fotografia de tirar o fôlego, possui muitas seqüências em plano geral e pouca edição. Magistral. Caso vc não tenha ainda visto, assista "Solaris". Abcs.