Sniper Americano

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Baseado no livro escrito pelo próprio Chris Kyle, o diretor Clint Eastwood reconta em “Sniper Americano”, a trajetória do atirador de elite em 4 temporadas no Iraque. Temporadas que deram a Kyle o título de lenda do exército americano, responsável por mais de 100 terroristas abatidos.

Nas mãos de Eastwood a biografia teve preservada toda a complexidade do personagem e os diversos temas presentes na história, não se limitando a tiros e “fogos de artificio”. Nessa mesma toada o ator Bradley Cooper que também produz o longa, tem mais uma boa aparição na telona, mais uma vez incorporando física e gestualmente o personagem.

A temática do longa, vai além da guerra, questões políticas ou simplesmente o retrato da ação e dos acontecimentos. Foca muito mais na trajetória do homem e na construção do mito ao passo que indivíduo vai se desintegrando, fomentando a luta “marido e pai”, travam para coabitar o mesmo lugar com o “soldado e herói” de guerra.

No entanto a questão mergulha um pouco mais a fundo, pois Kyle, não se vê como herói, e muito menos como um privilégio seu status e poder. Em sua visão tudo não passa de obrigação que ele tem não só com o país que aprendeu a amar desde criança, mas com seus compatriotas, cidadãos americanos e principalmente seus irmãos de guerra.

Para distorcer essa estátua de semideus quase patética de um estereotipado herói americano, a premissa do roteiro de Jason Hall, parte do princípio de que é impossível deixar a guerra e as atrocidades vividas em campo de batalha sem nenhum arranhão. Dessa forma observamos que mesmo na segurança de seu lar, entre familiares, Chris Kyle jamais deixou a guerra e por conseguinte nunca foi abandonado por aqueles fantasmas e sombras.



É nesse momento em que Sniper Americano ganha força, diferente das produções que detratavam os horrores e errôneos motivos da guerra do Vietnã, os longas produzidos a partir do 11 de setembro vão de encontro a cena macro do ser, muito menos o soldado e mais o ser humano, lembrando rapidamente; “Guerra ao Terror” 2008 e a “A Hora mais Escura” 2012.
No elenco podemos nos ater a dupla Bradley Cooper (Chris Kyle) e Sienna Miller (Taya Kyle sua esposa).  Que guardadas as devidas proporções rumam para direções opostas. Quando o que há de humano e sensível em um vai desaparecendo, no outro vai florescer a força e o sofrimento da mulher e mãe que se vê a maior parte do tempo sozinha com os filhos, chegando ao ponto de em dado momento suplicar a Chris: “volte a ser um humano”.

O roteiro desde o início deixa claro toda essa complexidade de personagens e trama, logo de cara vemos Kyle em ação com uma mulher e um menino em sua mira de seu rifle, eles carregam uma espécie de granada e partem em direção a um grupo de soldados norte-americanos. Já nesse clímax inicial há um corte para a infância do atirador quando ele aprendeu a dar seus primeiros tiros, sob supervisão do pai que desde aquele tempo inseria na mente de seus filhos a teoria sobre os três tipos de pessoas, os lobos, que fazem mal o mal, os cordeiros, que sofrem esse mal sem poder fazer nada e os cães pastores que cuidam dessas pessoas? Dessa maneira entre as idas e vindas do personagem à zona de guerra, o roteiro contrapõe esses dois espaços distintos que no entanto, tentam a impossível tarefa de coexistir ao mesmo tempo e com a mesma importância.

Mas nem só dessas locomoções é que o roteiro se serve para percorrer toda a história, assim como no primeiro exemplo da infância de Kyle, outros flashbacks são interpolados para de certa forma ajudar na construção do personagem.

Chris Kyle na vida real

A direção de arte e fotografia faz uso de grandes planos e tomadas aéreas, tons claros entre um céu azul e limpo contrapõe-se ao clima seco arenoso dos desertos e das locações no oriente médio, onde acontece todas as cenas de ação.


Com esses atributos e escolhas técnicas Sniper Americano teve 6 indicações ao Oscar 2015 e superou todas as bilheterias de 2014. Trata-se por fim de um interessante trabalho do experiente diretor Clint Eastwood e do ator Bradley Cooper que se mostra cada vez mais seguro com personagens densos e complexos. Fica no entanto, um alerta sobre a produção, principalmente nos momentos em que o discurso de heroísmo acima das polemicas discussões sobre o indivíduo e a guerra, como se uma espessa nuvem pairasse no ar sem ter coragem de tachar ou mesmo discutir o heroísmo e nobreza do personagem principal versos patriotismo e cegueira ideológica pouco abordada como se nem mesmo fosse uma opção de interpretação para o público.


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